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Passos N.129, Agosto 2011

FÉRIAS - COLEGIAIS

“Mestre, onde moras?”
“Vinde e vede!”

por Inês Damasceno

Uma semana de férias com 150 colegiais. A cada dia, fatos que colocam diante de uma realidade nova e rica de beleza. A seguir, um diário desta aventura e o testemunho de alguns jovens de vários cantos do Brasil que participaram do gesto

Eis o desafio: ir e ver como Ele faria estes dias de férias nacionais dos colegiais, em Petrópolis, que aconteceu de 18 a 22 de julho. O local da pousada fora o mesmo que ficamos no Carnaval, com os universitários, o Seminário Diocesano. Com uma pequena diferença, no Carnaval éramos 70 e nestes dias éramos 150. Ou seja, o milagre já começara aqui, pois era evidente que a beleza vivida no Carnaval tocara o coração destes, que vieram para responder como fora feito naqueles dias. E chegaram cheios do desejo de responder às provocações feitas.
Na primeira noite, Sêmea, de Brasília, fez a proposta dizendo-nos que estes dias deveriam ser vividos com muita intensidade seguindo tudo o que fosse indicado para que juntos pudéssemos, como João e André, ir com Ele! E ficarmos marcados como eles. Como nos dizia o texto de Eugenio Nembrini, quando se dirigiu aos colegiais na Itália: “Queremos ser os primeiros, curiosos, desejosos de ver como nestes dias, Deus agirá em nós. Peçamos isso como um presente extraordinário, simples, no modo de cantar, no modo de servir, no modo de nos acompanhar... Cada um poderá dizer a Jesus ‘toma a minha vida e faz dela aquilo que quiseres, mas, sobretudo, faz o milagre da Tua presença entre nós’”. Era como se falasse conosco e seguimos humanamente a este pedido!
No primeiro dia, visitamos o centro histórico da Cidade Imperial. Fomos à Catedral, onde todos ficaram maravilhados com a beleza dos vitrais. Ali, para entender a história narrada em cada pintura, seguiram alguém. No final da visita, nos sentamos e ocupamos metade dos bancos e rezamos o Ângelus, conduzidos por padre Gilson, que falou da oferta e do pedido a Nossa Senhora para sermos como Ela que, aceitando o anúncio do Anjo com seu Sim, nos ensinasse a acolhê-Lo também cheios de gratidão. Dali seguimos para o Trono de Fátima, que é um dos pontos turísticos mais visitados da cidade e tem Nossa Senhora de Fátima como rainha que guarda toda a cidade. Cantamos e brincamos ali olhando toda a cidade que estava envolta na neblina, que é conhecida como ruço (assim mesmo que se escreve por aqui). Até isso ganhamos de presente, pois todos puderam ver como é o clima típico da região.
Voltando ao Seminário as equipes foram organizadas por Ana Maria, Amanda e Cíntia e começaram os jogos. Muita diversão! No final deste dia, recebemos a visita de nosso amigo Dom Filippo, que é o bispo da diocese. Ele celebrou a missa para nós e contou-nos como é para ele seguir o carisma do Movimento, desde quando encontrou Dom Giussani e agora olhando para o Carrón. Após a missa fizemos um encontro para falar de como fora o dia e de que maneira eles tinham respondido à provocação da manhã: Como me sinto olhado por Deus? “Deus me olha como filho” (Bruno); “Vi que é Jesus que me preenche o coração e minha vida mudou de cabeça pra baixo ou pra cima, só sei que com vocês entendo que só Ele poderá me fazer feliz” (Paula); “Na Catedral me dei conta que queria aquela beleza para mim” (João); “Aqui eu tenho um espaço até para ver como Deus me olha, me sinto em casa” (Laura). E Dom Filippo nos disse: “Nós somos o que fazemos, mas somos mais do que aquilo que fazemos. Pois o encontro muda as pessoas, muda a nossa vida. O olhar d’Ele é pleno de misericórdia e se dá a nós todos os dias na Eucaristia, para lembrarmos sempre de seu amor”. E neste momento Sêmea contou-nos a história de um ex-aluno que, sendo ele um colegial, teve a vida mudada e mudou a de tantas pessoas.

O caminho da vida. No segundo dia, subida ao Morro do Castelinho. Uma caminha simples de uma hora e meia, mas na qual se desvelou uma beleza indescritível, capaz de nos fazer ficar em silêncio por um bom tempo para contemplar aquilo tudo que foi criado para a nossa felicidade, que foi preparado para percebermos, naquela manhã, que somos únicos e preferidos. No início da caminhada, assim como fazia Dom Gius, Sêmea nos lembrou a analogia daquela subida, que é como a vida, na qual precisamos sempre de alguém e que nunca estamos sós. Basta olharmos para o lado e seguir quem está à frente.
Voltando ao Seminário, famintos de comida e beleza, nos deliciamos com o sensacional almoço que nossos amigos, voluntariamente, prepararam para nós. Três amigos do Rio e o grupo do Movimento, em Petrópolis, nos ajudaram todos os dias. Foi um milagre ver como se dedicavam a nós com tanto amor e disponibilidade. À noite, fizemos Escola de Comunidade e depois nossos amigos mineiros nos apresentaram os milagres vividos por eles em forma de teatro, música e poesia. Sensacional!
No terceiro dia fomos ao Vale do Cuiabá, região que fora muito afetada pelas chuvas de janeiro. Percorremos o Vale todo em nossos transportes e paramos no Centro Educacional Santa Terezinha, onde se encontra a Nossa Senhora das Graças, que estando só apoiada na madeira, não caiu no dia da tragédia e, milagrosamente, salvou muitas pessoas. Aqui aconteceu outro milagre! Imagine que ficarmos juntos em 150 não é uma coisa muita tranquila, mas ali, diante de Nossa Senhora, todos nós rezamos uma Ave-Maria e a coisa incrível foi que, quando acabamos a oração, fez-se um silêncio que durou alguns minutos. Um silêncio, que não fora pedido, mas que se impôs de maneira milagrosa e real. Era possível tocar o mistério naquele silêncio! Ali ouvimos também alguns relatos das experiências vividas pelas pessoas no período da enchente. Quanta beleza! Quantas lágrimas! Quanta ternura d’Ele e d’Ela por nós! Que preferência!
À tarde, mais jogos e muita diversão. E parte dos jogos foi limpar a capela do Seminário, dedicada a Nossa Senhora do Amor Divino. Quanto esmero e dedicação das equipes, que pensaram em tudo, até nas flores para o altar. E, à noite, realizamos uma assembleia com o Bracco, responsável nacional do Movimento. Foram tantos os testemunhos que nem todos conseguiram falar. Quanta vida! Quanta humanidade! Bracco nos falou: “Eu vim para ouvir estas coisas, e a coisa mais bonita é ser surpreendido, estar aberto às surpresas, e quando já se sabe tudo é preciso um amigo para lhe dar um tapa e mostrar uma surpresa... Quem viu aquela Nossa Senhora suja, não poderá ser como antes. Ela quando recebeu o anúncio do Anjo tinha entre 14 e 17 anos, assim como vocês. Para ela aconteceu a coisa mais bonita do mundo e que pode também acontecer para vocês. Quando o anjo foi embora, ela ficou sozinha, mas carregava Algo em si. Ele estava presente n’Ela. As pessoas aqui são como anjos de Nossa Senhora.”
Os testemunhos foram muito simples e cheios de vida. Ao Ricardo de Florianópolis que contou-nos que “tinha tudo, mas era triste”, Bracco respondeu: “O Carrón, nestes últimos meses, fala sempre desta tristeza, assim como falava Dom Giussani. Ele diz que é uma ‘santa’ tristeza. Graças a Deus você está triste. Não temos que ter medo de sentir isso, você tem algo dentro que está gritando! Nós somos filhos de alguém que antes de falar de Cristo falou da sede que nós temos, da tristeza que carregamos. Eu preciso desta sede! E se em nós a terra se move é sinal que tem algo embaixo que se move, significa que tem algo atrás de tudo. Como você experimenta o mistério? Porque você tem algo dentro de você que já não lhe deixa sentir-se satisfeito e esta insatisfação é boa e santa”. Bracco termina a assembleia comentando a fala de Maicon que disse que ali, nestes dias, não precisou usar máscaras. Disse que precisamos procurar as pessoas vivas que nos despertam, e Cristo nos olha como alguém que precisa de nós e que nos quer assim. E devemos prestar atenção, pois a tristeza e o vazio são sinais de que somos mais humanos. Quanto mais encontramos Cristo mais precisamos d’Ele para viver!
No último dia, padre Aurélio convidou-nos a levar a sério o coração e seguir o carisma. E, em seguida, dissemos que a beleza vivida ali deveria ser contada a todos em toda a Terra! Nós fomos e vimos como Ele nos prefere! E queremos mais, queremos que todos os nossos amigos possam ver o que vimos e tocamos com nossas mãos, a Beleza da companhia d’Ele na nossa aventura de viver estes dias de férias que irão nos acompanhar para sempre. As férias de 2011 foram e serão inesquecíveis.

“Não tenho palavras para expressar como foram bons os dias em Petrópolis. Quero contar que eu não estava a fim de ir às férias, mas os adultos aqui em Macapá apostaram em mim, principalmente minha mãe, e eu estava lá com mais 13 pessoas daqui. Os textos diziam que cada pessoa era única, e eu me senti única e especial pelo fato de ter feito vários amigos e construído uma amizade verdadeira com pessoas que nem sequer conhecia. Uma prova muito forte pra mim de que era pra eu ter ido foi ter que dividir o quarto com outras 66 meninas e lavar cerca de 150 pratos, talheres e copos e mesmo assim me sentir extremamente feliz! Pequenos gestos me fizeram perceber como EU sou importante para que as coisas à minha volta funcionem. Foi assim que eu descobri o modo como Cristo olha pra mim e foi desse modo que eu olhei para todas aquelas pessoas.”
(Vanessa Sena, Macapá, AP)

“Parei para refletir sobre as provocações que nos foram feitas nas férias e pude perceber como Deus me ama, como Ele me vê. Uma das coisas que me marcou foi a frase: ‘Estamos aqui porque queremos ir além da aparência, queremos entrar no real, cujo aspecto mais fascinante é você’. Quando olho uma das fotos que tirei durante as férias eu sinto algo em meu coração que não sei como explicar com simples palavras, sinto algo que me enche de alegria e de tristeza ao mesmo tempo. Após ver como estão as pessoas do Vale do Cuiabá parei para pensar que depois de tudo aquilo que aconteceu, depois de tamanha tragédia eles estão de cabeça erguida e sorrindo para a vida; e eu, podendo ser a pessoa mais feliz do mundo, estava aqui reclamando da minha vida. No dia em que fomos para a montanha pude perceber como a nossa vida é cheia de obstáculos, cheia de caminhos estreitos, mas sempre temos um motivo para sorrir. Na montanha pude perceber, ainda, como é bom ter amigos, pois se você tiver algum obstáculo seu amigo estará sempre lá para te ajudar, e que meu melhor amigo é Deus.”
(Robson, Rio de Janeiro, RJ)

“Nas férias, o momento que mais me marcou foi quando fomos ao Vale do Cuiabá e a Inês deu seu testemunho e falou sobre um homem que perdeu tudo e disse que isso era bom porque assim ele podia recomeçar. Isso me marcou porque é uma pessoa de uma fé imensa, que tem a certeza de que o que Deus faz sempre é bom e que com ele não vai ser diferente. Outro momento marcante foi quando vimos a imagem de Nossa Senhora, que durante a enchente a água foi até a sua mão e, mesmo ela não estando fixada, não foi levada. Um terceiro momento foi na subida da montanha, quando vi que a subida é como a vida: às vezes você cai, mas levanta, às vezes você precisa de ajuda e você tem um objetivo a ser cumprido. Na montanha o objetivo é chegar ao topo, na vida é o de ser feliz.”
(Thais Soares, Manaus, AM)

“Muitas coisas me marcaram nessas férias, mas o que mais ficou foi uma música: Give me Jesus (dê-me Jesus). Essa música foi cantada pela Mônica na capela do Vale do Cuiabá. Quando eu comecei a ouvir aquela melodia, comecei a pensar em toda aquela tragédia. Então começou o refrão e eu prestei muita atenção na parte em que ela cantou ‘you can have all the world but give me Jesus’ e eu entendi que foi isso o que aconteceu com aquelas pessoas do Vale do Cuiabá. Elas perderam tudo e isso as ajudou a enxergar mais Cristo. Em um ponto da música há um ‘give me Jesus’ que é como um grito. Nesse ponto uma emoção forte me invadiu e eu comecei a chorar.”
(Isabel Machado, São Paulo, SP)

“No começo do ano ainda estava indeciso se ia ou não começar a frequentar a Escola de Comunidade dos colegiais, pois tenho apenas 13 anos. Fui uma vez, pra ver como era, e percebi que algo ali me fazia bem, me fazia crescer e enxergar as coisas de um outro jeito. Era muito bom. Quando surgiu a oportunidade de ir às férias nem precisei pensar duas vezes. Minha vontade de ir era imensa. E essa viagem ficará para sempre marcada por seus bonitos momentos, como foi quando visitamos o Vale do Cuiabá, e todos se emocionaram com os relatos de pessoas que sobreviveram à tragédia. Momentos que me ajudaram a descobrir coisas sobre mim mesmo, e me questionar ainda mais sobre tudo. Espero que Deus me dê a oportunidade de ir em todas as próximas férias, e que elas sejam tão boas como essas. Ainda tenho coisas a fazer, a responder, a pensar, a me questionar. Ainda não acabou.”
(Davi, São Paulo, SP)

“Essas férias para mim foram incríveis e tiveram alguns momentos que me marcaram muito: Fiz novos amigos que estavam lá com as mesmas perguntas que eu; mas esses amigos são diferentes dos amigos que eu tenho na escola e eu quero que a minha amizade na escola seja igual a essa. Quero que meus amigos antigos possam ter o mesmo brilho nos olhos que esses meus novos amigos têm. Aprendi a entender o silêncio, e o motivo pelo qual ele me é proposto. Quando eu estava na trilha em silêncio, mas com a cabeça em outro lugar, eu só via mato, mas quando eu usei o silêncio para refletir sobre a forma como Deus me via, eu passei a ver as mesmas coisas, só que com outros olhos.”
(Poly, Rio de Janeiro, RJ)

“Com as férias dos colegiais tive uma visão totalmente diferente da minha vida. Ao ir para Petrópolis percebi que muitas pessoas sofreram com os acontecimentos da enchente. Impressionei-me muito como essas pessoas têm senso de humor, perderam tudo, mas continuam seguindo em frente mesmo com as dificuldades, pois sabem que Deus ama cada um. Eu choro por causa de coisas insignificantes comparadas com o que aquele pessoal viveu. Ali não vi ninguém se lamentando e em menos de um ano já estão reconstruindo e deixando a cidade limpa e cada dia com mais alegria. De onde vem essa força?”

(Letícia S. Tonietto, São Paulo, SP)


“Acabei de chegar de Petrópolis e meu coração grita de alegria, querendo mais e mais. “Como Cristo me olha?” Eu digo que me olha como eu sou, com todos os meu defeitos. Ele não liga para isso porque Ele olha para o meu interior, que é bem mais importante. “ O que Deus quer de mim?” Ele quer que eu O siga e que eu seja feliz e fiel mediante aquilo que encontrei. Quando fomos ao Vale do Cuiabá para revermos o local da catástrofe, para mim foi um choque de realidade, pois eu tenho tudo que quero e vivia como se não fosse feliz porque eu queria ter mais, não me contentava com aquilo que meus pais podiam me dar. E foi demais ver aquelas pessoas dando testemunho de tudo aquilo que viveram, e estavam com um sorriso no rosto. Porque eles têm um desejo de infinito maior que o meu, que é ser feliz. Eles agradecem a Deus a cada dia por terem tido mais uma chance e eu muitas vezes esqueço até que Deus existe. Eu posso dizer que sou uma Ana renovada, com o coração almejando mais e mais.”
(Ana Angélica, Rio de Janeiro, RJ)

“Petrópolis Perfeito! Agradeço a todos que partilharam comigo esse novo encontro e prometo que não vai acabar ali. ‘Vamos espalhar ao mundo o que vivemos!’”
(Shayane, Rio de Janeiro, RJ)

APROFUNDAMENTOS
* “Mestre, onde moras?” “Vinde e vede” As palestras de padre Eugenio Nembrini e os testemunhos dos três dias de encontro dos colegiais realizado em Rímini, de 21 a 23 de abril de 2011

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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