Um sim como o do início
Estamos em Aracaju há quase 3 meses, pois meu esposo Gualter aceitou a proposta de vir trabalhar no Senai. No começo confesso que fiquei um pouco apreensiva, não sabia ao certo o que poderíamos encontrar nesta cidade pequena, da qual saí com 12 anos, com muitas lembranças ruins e duras da minha infância, mas também sabia que estaria retornando realizada, na companhia de minha família (Gualter e Valentina) e com a certeza de que Cristo desejava algo grande de nós. Através de Mônica, de São Paulo, nossa grande amiga, descobrimos Camilo e sua esposa Ana Paula. Encontrá-los foi uma experiência muito bonita. Começamos a frequentar as reuniões de Escola de Comunidade, que são realizadas em casas diferentes a cada semana. O que mais me impressionava era que os pais ficavam por perto ouvindo o que era dito e testemunhado por nós. Acabavam pedindo para participar das reuniões. Um dos testemunhos que mais me marcou foi de uma senhora que se levantou no meio da reunião e disse que estar perto de nós a fazia muito mais feliz pois havia muito tempo que ela não se sentia assim. Eu voltava para casa chorando de alegria, agradecida a Cristo por ter me doado esses novos amigos. Percebo que a companhia de Camilo, Ana Paula e dos demais reacende a alegria de realizar os gestos do movimento com mesmo entusiasmo de quando eu possuía somente 15 anos. Desejo estar com meus amigos, participar das missas, participar das Escolas de Comunidade e começar uma caritativa na nossa cidade. Estes novos rostos que Cristo me deu reacenderam meu amor por tudo que antes fazia sentido em minha vida e que com o decorrer do tempo foi ficando morno, talvez por uma distração diante da realidade. No final de semana em que fomos a Salvador para a festa dos 20 anos da comunidade, fiquei muito tocada ao conhecer padre Julián e reencontrar alguns amigos de São Paulo. Ali conhecemos um pouco da história dos amigos de Salvador e principalmente ficamos mais próximos da nossa nova comunidade (Aracaju). Hoje esses novos amigos nos ajudam a enfrentar essa nova realidade, são rostos precisos que nos acolheram e que nos ensinam a cada dia como ser simples diante da nossa realidade, simples e obedientes naquilo que Cristo pede para nós, dentro do nosso cotidiano. Se hoje me dou conta disso é porque tenho uma companhia que nunca me abandonou. Estou muito feliz e grata por Deus ter me dado a oportunidade de dizer SIM, ao Movimento com a mesma intensidade e alegria de 15 anos atrás.
Silvia, Aracaju – SE
O brioche da dona Margherita
Em setembro do ano passado, aquela minha amiga, totalmente nova, experimentava um fascínio no tempo em que passava na casa de repouso, com a senhora Pierina, que me atraía. Então, comecei a ir com ela. Durante alguns meses, conversamos juntas com os idosos, e pegamos juntas os iogurtes e as colherinhas. E, diante de uma realidade tão dolorosa, diante de rostos cansados e cheios de rugas que me machucavam com o seu ser homens, o seu ser nada, eu era levada a ir, todos os meses, àquele lugar. Queria o gosto que minha amiga experimentava. E depois? Depois, quase por acaso, um dia, entrei naquele quartinho, no final do corredor, à direita. Lá, sentada como se fosse a dona da casa, estava Margherita. “Lembre-se. Vá à sua mãe, hoje, e diga-lhe que conheceu a senhora Margherita. Que pediu para você tirar essa calça. Toda rasgada: como você acha que vai encontrar um marido assim?”. Sempre me repetia isso. Tem problema de memória. Temos ideias diferentes em relação a tudo: eu digo branco, e ela diz preto. É difícil ficar perto dela. Porém, sempre vou encontrá-la. É um empenho. É o gosto da caridade que vi em minha amiga. O que é isso? É entregar o tempo que passo naquela casa de repouso, é a minha total adesão à tarefa, para ser mudada por um bem inesperado, totalmente gratuito e maior do que qualquer desejo meu. É Margherita que me fala dizendo-me palavras que me abalam e me movem e que parecem nem mesmo serem suas. No mês passado, fui visitá-la e, pela enésima vez, me perguntou onde moro e me falou sobre sua cidade, seu trabalho e sua família. Com as mesmas palavras. Com a mesma entonação. Mesmo assim, eu continuava lá. E estava contente. Em um momento da conversa, ela descobriu que não recebo dinheiro para ficar com ela, que não é um trabalho. Ficou com raiva. Gritou comigo. Mas não pediu que eu fosse embora. Então, eu fiquei lá, no mesmo lugar. Depois, trouxeram o lanche. Ela pegou o brioche e o colocou de lado. Eu lhe disse: “Ah, dona Margherita! Como sempre, renuncia à merenda por causa de seus netinhos...”. Houve silêncio. Ela olhava para baixo e com voz baixa disse: “Sim. É um pequeno sacrifício... não. Não é. Eu faço isso porque me faz bem... Talvez você também venha aqui por causa disso”. Mais do que eu desejava. Sempre mais. Por isso, eu não posso deixar de estar com aquela mulher, com aquele amável ser humano, às vezes um pouco escondido. “Vemo-nos no próximo mês, dona Margherita”. “Eu espero você”.
Angela, Bergamo (Itália)
A Festa verdadeira
O Movimento fez 20 anos da sua presença em Salvador e fizemos uma festa para comemorarmos essa presença, que é a presença de Cristo. Participar da preparação dessa festa foi muito importante para mim como mais uma chance de responder ao convite de Cristo para viver o que nos é oferecido, reconhecer-me parte do povo de Deus e sentir concretamente a presença de Cristo em minha vida. Fiquei numa pequena comissão referente às entrevistas para o vídeo e ouvir as pessoas contando suas experiências, como tinham sido mudadas e estavam mudando a partir dos encontros feitos que revelam a presença de Cristo também me modificou. Eu me dei conta da verdade da: “Amigos ou testemunhas!” As frases de alguns amigos estão ressoando na minha vida até hoje (espero que não parem!), particularmente, “o rosto bom do Mistério”, “a vida passou a ter um sentido” e “passei a viver além da minha medida”. Essas frases correspondem à experiência deles e também à minha vida. A festa foi organizada por muitos amigos e foi a verdadeira festa, afinal festejamos Cristo, porque Ele existe. Depois da festa, fizemos um encontro, na Escola de Comunidade, para dar um juízo sobre o acontecido e parecia mesmo que as pessoas que se manifestaram publicamente estavam diferentes, mudadas, como elas relatavam. Um falou que diante dos fatos/encontros que ocorreram estava cheio de silêncio, que estava vivendo um novo início. Falaram da força desses encontros, das mudanças que ocorreram a partir do relacionamento com a Cleuza e outros que vieram para a festa. Bracco falou o que eu sempre quis ouvir: “precisamos tirar todos os formalismos e ir atrás da amizade que nos interessa, que nos apresenta Cristo”. Isso tudo só foi e é possível graças à paternidade contínua de Dom João Carlos Petrini e a amizade de Gilberto. Eu pensava no milagre que tinha ocorrido: minha mãe foi à festa conosco e eu estava ali cheia de gratidão porque sabia que isso tinha a ver com as orações que os amigos fizeram por minha mãe e por mim por ocasião da cirurgia dela; fui à festa como se vai à missa para agradecer a amizade de Cristo por meio das pessoas que Ele me dá hoje. As orações ajudam na recuperação da saúde de minha mãe e de todos, em todos os sentidos, mais que isso, nos aproxima de Cristo e esse é o verdadeiro milagre. Não falei publicamente ali desse milagre, mas estava repleta de alegria por essa graça, por reconhecer a presença de Cristo me amparando, me abraçando e assim, posso abraçar os que eu encontro. Na festa, procurei servir minha mãe e minha filha, mas também procurei a companhia de amigos, chamei-os para sentar conosco. Os amigos vinham até minha mãe falar com ela e isso foi muito maravilhoso, foi um acolhimento, um gesto de carinho. Fiz companhia também para Ana Júlia em suas correrias e pulos e assim encontrei com algumas amigas mães na mesma situação em que eu estava. Foi significativa também a presença de uma colega do doutorado, muito interessada em saber o que era CL e intrigada como havia tantas pessoas da universidade que ela conhecia ali. Depois da festa, estava contente, porque estivera ali, sentia muito carinho pelas pessoas que estavam ali, porque eu sou parte de um povo, de uma história que começou no encontro com Marina, em 1993, em Ribeirão Preto no ambiente universitário e mudou a minha vida. Estou contente porque reconheço Cristo presente em minha vida hoje e isso muda tudo. Graças a Dom Giussani, Cristo está presente na minha vida e na vida do meu querido esposo, dos meus filhos e na vida de minha mãe. Graças a Deus, meus amigos estão presentes em minha vida e me ajudam a reconhecer Cristo apesar e a partir das "provas".
Patrícia, Salvador – BA
Cuidada e amada
como uma rosa
Muitos dos fatos que aconteceram diante dos meus olhos estes dias me “obrigaram” literalmente a admitir que uma coisa é um sentimento, mesmo bom, de busca e de nostalgia, outra, são as coisas imponentes, especificamente embaraçosas que me acontecem. Em primeiro lugar, o que os meus amigos de Áquila me contaram: um casal que mora num trailer porque sua casa foi interditada e que há algumas semanas foi a Onna participar da missa dominical, para distribuir para as pessoas da cidade um folheto com as palavras do Papa ditas em Áquila. Como é possível que duas pessoas, depois de ter sua própria casa interditada, têm a força e o desejo de comunicar a outros, que viveram uma tal tragédia, que Cristo está presente? Que é possível ter esperança também naquela situação? Ali, fica evidente a “embaraçosa” presença de um Outro. E, ainda, há alguns dias, participei da festa que as Irmãzinhas de Nápoles fazem tradicionalmente antes das férias escolares. A sala se enche de famílias. Simples, como são as famílias das vielas de Nápoles. E, com elas, muitas famílias burguesas: no entanto, todos estão bem juntos, há harmonia. Irmã Pina lê a carta de uma menina, que agora já cresceu, que primeiro participava do reforço escolar, depois entrou no grupinho de ginasiais, e diz: “Estou levantando voo. E isso se tornou possível porque fui cuidada e amada como uma rosa”. Também para mim, nestes anos, foi assim: se sou aquilo que sou, é porque sempre fui amado, só que às vezes me esqueço disso. Mas, ouvir uma menina se lançando porque é amada, em um lugar como este, é um soco no estômago! Aqui há uma presença que faz as pessoas renascerem. Há um povo vivo, alegre, do qual dá vontade de participar. Olho minhas netinhas, que certamente vêm de um mundo diferente do que o das vielas de Nápoles e, no entanto, estão contentes, alegres. Carrón tem razão, erramos ao reduzir o Cristianismo a um sentimento ou a uma aspiração boa, como o senso religioso: é a presença de certas pessoas, de certos lugares, que se não existissem não existiria o Cristianismo.
Sergio, Avellino (Itália)
Não concorrentes, mas
companheiros de caminhada
Sou arquiteto, tenho um escritório e atualmente emprego oito pessoas. Nunca me faltou trabalho. Há um ano, porém, muitos clientes rescindiram os contratos por problemas financeiros, o que nos forçou a redimensionar a empresa, a reduzir custos e a abrir outros setores de atividade mais rentáveis. Tivemos que fazer uma mudança de mentalidade. Tive que rescindir o contrato da empresa terceirizada que fazia a limpeza do escritório, e agora faço-a eu mesmo. Outro dia, enquanto limpava o banheiro, me surpreendi oferecendo esse trabalho ao Senhor, pedindo-Lhe que eu pudesse desempenhar esse trabalho com a consciência de que estou construindo a minha pessoa, pedindo-Lhe que eu continuasse simples e disposto, e a mesma coisa para os meus empregados. Descobri que o meu verdadeiro patrimônio é o Senhor. Por isso, não quero perder, nessa caminhada, nada daquilo que mais amo: minha família, a adesão ao Movimento; enfim, o meu coração. Ao terminar esta caminhada, gostaria de estar melhor do que antes, mais unido, mais realista, mais confiante na Providência divina e mais corajoso. Há uns dois anos me reúno com um grupo de amigos ligados ao mesmo setor empresarial, mas ultimamente nossos encontros expressam a urgência de compartilhar as nossas tentativas e a caminhada que cada um está fazendo, para que os outros também possam se beneficiar profissionalmente, e a empresa também. Não nos consideramos concorrentes, mas companheiros de caminhada, que compartilham um ideal, o desejo de aprender a trabalhar como Jesus.
Carlos, Murcia (Espanha)
Credits /
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón