QUANDO AS FÉRIAS SÃO MUITO DIFERENTES…
Em meados de julho, o meu amigo padre Alfredo me convidou para ir às férias de CL em Hinton, perto de Alberta (Canadá). A minha primeira reação foi: “Não quero ir ao enésimo retiro católico onde tenho que confessar os meus pecados”. Mas depois reconsiderei. A época do ano e o local (Montanhas Rochosas) agradavam-me. O que tinha a perder? Decidi ir, na condição de padre Alfredo não me dizer nada sobre o Movimento nem sobre o que iríamos fazer. E assim comecei a minha aventura, levando comigo apenas um coração e uma mente aberta. Mal cheguei, nos poucos metros que separavam o estacionamento da entrada do hotel, tive uma sensação surpreendente. Sentia-me como se estivesse numa reunião de família. Mas não conhecia ninguém… Os dias seguintes confirmaram tudo isso. Impressionaram-me a lealdade e a honestidade de todas as pessoas da comunidade e a atenção que tinham uns pelos outros. A outra coisa que me surpreendeu foi a ausência das perguntas indiscretas que normalmente se ouvem quando se encontram pessoas pela primeira vez. Costuma perguntar-se: “Onde trabalha? Quanto ganha? Onde mora, a sua casa é grande?”. Em vez disso, eles me perguntavam: “Você tem família? Viajou muito para chegar aqui?”. Em todas as orações, cantos, missas, era visível um cuidado e um amor que só quem viu pode entender. Em suma, não foi preciso muito para constatar que seriam umas férias muito diferentes do que eu estava esperando. O que me impressionou não foram só as palavras ditas nas assembleias, muitas vezes muito profundas, mas também a convicção de que vinham do coração de quem intervinha. Acendiam-me o desejo de escavar dentro de mim mesmo para conhecer quem sou e procurar o rosto de Cristo. Pela primeira vez, frequentei um grupo onde não existiam sinais de negatividade, de fofocas. Foi há poucos dias que comecei a perceber as mudanças que me aconteceram. E isso aconteceu precisamente quando estava voltando à minha intolerância, ao meu orgulho e aos meus preconceitos. Essas fraquezas, juntamente com tantas outras, são uma lembrança clamorosa da contínua batalha e do trabalho que tenho que fazer para que cresça a consciência da minha humanidade. Quanto tempo passei nas férias à procura da origem da minha mudança! Foi preciso voltar para casa para encontrar uma resposta. É mesmo verdade que Cristo age por caminhos misteriosos.
Bernie, Crofton, B.C. (Canadá)
“Esperem um caminho, não um milagre...”
Ângela nos enviou esta carta que recebeu de sua amiga.
Em tempos de peregrinação, esses dias têm sido de caminho e espera. Estão envolvidos completamente um no outro. Mas para mim a graça do caminhar já é o milagre. O passo é Cristo acontecendo agora. Hoje acordei pensando em “claustro”. Assisti ao filme Canção para Bernadete e fiquei pensando em tudo o que tem acontecido comigo. Em como o Senhor tem desfeito todos os esquemas que eu havia montado para passar pelas etapas desse tratamento, na doença e morte da minha avó que fez com que minha mãe não estivesse aqui nesses dias, na viagem das minhas irmãs semana que vem. Tudo que estava organizado veio por terra. Mas tenho pensado que tudo isso é para que eu possa viver esses dias mais centrada n’Ele. É para aprender a dividir mais as responsabilidades da casa. É uma educação para mim, para o Rubens e para as crianças, que vamos ter de passar por esses momentos com tudo refeito e reerguido. Sou claustrofóbica e vou ter de ficar de três dias trancada em um quarto de hospital, sozinha, sem ninguém para segurar minha mão. Só Deus e eu, literalmente... Estou tendo de viver na carne aquelas coisas que tanto falamos. A toda hora falamos que os filhos não nos pertencem, que a resposta é pessoal, que precisamos aprender a pedir e a oferecer mais, a aceitar o que o Senhor programou para a nossa vocação... E estou passando por tudo isso tranquila. Fiquei com muita raiva quando não deu certo a data da internação, e mais uma vez percebi que é Cristo me carregando no colo. Preciso me preparar psicologicamente para o momento de ouvir o barulhinho do trancar do quarto e não entrar em pânico. Só vou conseguir isso com muita oração... E é isso que tenho feito e pedido para que as pessoas façam por mim, para que eu possa ser sustentada por Nossa Senhora, Santa Rita, São José e toda essa Companhia. Já sei que haverá uma janela pela qual vou poder olhar pro céu... Depois, o Senhor me pede para ficar longe dos meus filhos por mais sete dias. São dez dias longe do “bom dia”, do “boa noite” das minhas crianças, dos cuidados diretos do meu marido. Eu, que na minha vocação vivo o barulho de uma casa com 3 crianças pequenas, sou solicitada a viver o silêncio do claustro dos monges. Nos Exercícios da Fraternidade, Carrón nos disse: “Mas onde verdadeiramente somos nós mesmos?”; “Mas nós entendemos que tipo de desafio temos de encarar? Se nós, nessa realidade, não temos um rosto e não temos uma consistência, a nossa fé não poderá resistir na história, seremos banidos!” Se Cristo quisesse, me levaria agora. Ao contrário, diante da Sua Infinita Misericórdia, tem se mostrado presente a cada dia mais e mais. São milagres acontecendo a cada instante. Como não reconhecê-Lo? “Por isso é preciso que o Mistério se torne companheiro experimentável, que Deus nos visite. Foi necessário que o Mistério se fizesse companheiro da vida do homem para que no mundo entrasse uma experiência completa da liberdade”. “A minha vontade existe, mas é decisiva a vontade do Pai, porque esta é a verdade e o amor”. “...Então, para que aquilo que sabemos, Cristo, seja experiência, é necessário que seja um presente que nos provoca e percute, um presente como foi para André e para João.” Então, fraternos, com todo o meu turbilhão de emoções sou chamada a viver a experiência da minha doença de cara limpa, sem hormônio... Peço que me ajudem a continuar fiel. Peço que me ajudem para que aquele quarto trancado represente apenas um detalhe na caminhada que tenho feito e que vou continuar a fazer.
Edilene, Brasília (DF)
UM SENSO RELIGIOSO VIVO
Algum tempo atrás foi feita a seguinte pergunta na Escola de Comunidade: “Que experiência fizemos neste período do despertar do nosso senso religioso?”. Era uma pergunta que eu mesma estava me fazendo porque via em mim, em vários momentos, um senso religioso morto. Posso dizer que a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) foi para mim um divisor de águas, não só porque fiquei comovida com vários encontros e encantada com todo o povo cristão que estava presente, mas porque o meu eu crescia (não sei explicar exatamente como) diante de algumas pessoas que eu vi que tinham uma humanidade aflorada. A primeira foi o Papa, que se mostrou uma pessoa profundamente humana. No caminho à JMJ, li a mensagem dele, em que falava das suas perguntas quando tinha a nossa idade. Disse que o seu chamado ao sacerdócio foi respondido imediatamente, mas quando ele estava no seminário, depois da guerra, ele teve que reconquistar esta certeza e se perguntava: “É este verdadeiramente o meu caminho? É esta a vontade do Senhor para mim? Serei eu capaz de permanecer fiel a Ele e de ser totalmente disponível a Ele em Seu serviço?” Eu fiquei marcada pela liberdade dele ao dizer isso e também porque eu me identifiquei com estas perguntas. E vi que eu não precisava ter medo delas ou me escandalizar e muito menos ter medo de outras perguntas que eu me fazia como: “Será que sofrer assim depois de já ter feito o encontro e de já ter tido a certeza é normal? Será que essa ferida e dor que surgiram em mim depois do encontro não é talvez um indício de que eu, de fato, não tenha feito um encontro com o Senhor? Se a minha experiência foi verdadeira eu não deveria estar tranquila e não assim com o coração inquieto?”. Então, voltei com outros olhos diante do texto O senso religioso, verificação da fé porque quando tinha lido pela primeira vez eu não tinha entendido direito. O que eu tinha entendido era que o senso religioso eram as perguntas e Cristo era a resposta, como duas coisas separadas (pergunta e resposta). Mas lendo novamente agora, entendi que caminham juntas, porque, na verdade, é o encontro com Cristo que desperta o senso religioso, o encontro com Ele desperta as perguntas, as exigências e as feridas. Por isso, percebi que a minha dor e a minha ferida eram sinal de que o meu encontro com Ele foi verdadeiro e aumentou de tal forma as minhas exigências que nenhuma outra coisa a não ser Ele podia me dar paz ao coração novamente. Essas perguntas e feridas já não eram mais uma mancha para mim, já não eram uma prova da ausência d’Ele, mas um sinal de Sua Presença única. A outra pessoa que me marcou foi o padre Julián de la Morena, pela atenção que teve conosco durante a JMJ. Ele, junto com seu irmão e sua família, preparou toda a semana da jornada com um cuidado realmente muito diferente do que eu estou acostumada. Além disso, me marcou muito na palestra que ele fez sobre a importância do caminho (além de outros pontos sobre o trabalho e a vocação), e como essa proposta de caminho e de seguir é interessante. Retomando isso no livrinho dos Exercícios da Fraternidade, eu me identifiquei novamente com os discípulos de Emaús. Eu não entendia direito como os discípulos que conviveram com Cristo andando ao lado d’Ele não puderam reconhecê-Lo. Mas depois eu vi que isso aconteceu também comigo. Isso porque a decepção e dor que vieram depois do calvário havia enchido de luto o coração dos dois discípulos (assim como as minhas decepções) e a dor deles era tão grande que eles, mesmo caminhando ao lado de Cristo por 2 léguas (de 8 a 14 Km segundo eu pesquisei), ou seja, muito caminho mesmo, não conseguiram reconhecê-Lo. Mas foi Ele mesmo que aqueceu novamente o coração daqueles dois recordando as escrituras e caminhando com eles, até o momento em que O reconheceram de novo. Eu também percebo um longo longo longo caminho, desde que eu entrei na Fraternidade, no ano passado, e depois da Jornada até então, em que o meu coração está ardendo novamente. E vi também que somente a presença e a companhia do Senhor neste caminho que estamos fazendo juntos com o Movimento (e que eu voltei cada vez mais desejosa de fazê-lo) é que é capaz de deixar o senso religioso vivo e de me fazer sentir mais eu mesma com o coração vibrando de novo.
Luana, Rio de Janeiro (RJ)
“OUTRA NOITE A PÃO E CL?”
Caro Carrón, passando férias em Canazei éramos mais de duzentos, vindos de Bérgamo, Pesaro, Rímini, Milão, Urbino. O desafio que lancei no primeiro dia foi o de podermos voltar mais contentes, sim, mas sobretudo mais certos. E assim procuramos levar a sério tudo, livremente, mas tudo mesmo, num confronto estreito com o que nos seria proposto. Foi um espetáculo: uma bela companhia de homens livres. Uma noite, os garotos de 16-17 anos, entre os quais meu filho, me provocaram dizendo: “Essa noite, outro jantar a pão e CL?”. A coisa me levou a questionar-me sobre o quanto seguro eu estava, ali, naquele momento, diante deles. A tal ponto que me vi desafiando-os como nunca havia feito antes, menos ainda com o meu filho, dizendo que eles não eram mais crianças, que podiam decidir; aliás, eu mesmo lhes oferecia um jantar no melhor restaurante de Canazei desde que essa fosse uma escolha e não uma obrigação. Eles aceitaram o desafio. Saíram para jantar, mas a partir daquela noite aconteceu uma coisa: a relação com meu filho Roberto mudou, idem com os seus amigos.
Daniel, Bérgamo (Itália)
“VOCÊS TÊM UM CORAÇÃO BOM PORQUE TÊM JESUS”
Há cerca de seis meses, conhecemos na universidade uns dez jovens chineses, que estudam na Itália graças a um acordo entre os dois países. Organizamos dois jantares. Falamos da Itália e da China, da nossa comida, da universidade e de como escolher a faculdade… Até nos darmos conta de que tínhamos um desejo comum: descobrir o sentido da vida. Foi assim que nasceu o convite para as férias, ao qual eles aderiram com muito entusiasmo. E começou essa aventura. Aqui estão as duas cartas que eles nos mandaram.
Matteo, Pavia (Itália)
Antes de ir às férias, pensava que os italianos não gostavam de estar com os chineses. E ali, pelo contrário, vi que quando um de nós precisava, os amigos italianos estavam prontos a ajudar-nos. Por exemplo, no segundo passeio, no regresso o caminho era escorregadio e em alguns pontos muito estreito; o Davide foi à frente de todos para nos ajudar a passar. Os jogos fascinaram-me, porque na China nunca joguei nada tão divertido. Habitualmente, jogava sozinho com o computador, e vi que era muito mais divertido jogar com pessoas de verdade. Impressionou-me a limpeza da montanha: estava sempre tudo limpo, prados e riachos; mesmo depois de termos almoçado no cume, não se via nem um papel no chão e acho que isso na China seria impossível. Impressionou-me muito o fato de os italianos quererem muito bem a Jesus. Rezaram missa todos os dias, mesmo quando estávamos no cume da montanha e começou a chover; ninguém interrompeu. Penso que a origem de todas essas coisas é o fato de todos vocês terem um coração bom. E, na minha opinião, têm um coração bom porque têm Jesus no coração.
Wei Yiming (Luigi)
P ara mim, essas férias foram uma maneira de me aproximar das suas vidas de católicos. Foi a primeira vez que estive com os meus amigos italianos durante tanto tempo e assim pude conhecê-los melhor, aprendi sobre a missa, a comida, as canções e alguns hábitos (estarem sempre juntos, serem felizes, rirem juntos). Vi muitas pessoas diferentes, cada uma com o seu caráter, mas todas unidas por alguma coisa que está nos seus corações e que é igual para todos. Penso que essa coisa é Jesus Cristo. Para entender bem as suas vidas, decidi começar a ler a Bíblia e conhecer melhor as canções italianas.
Liu Jun (Louis)
Credits /
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón