O texto da entrevista com padre Giussani realizada para o vídeo sobre os 50 anos de Comunhão e Libertação, transmitido pela televisão italiana no dia 10 de setembro. “Procurei sempre viver a vida – nas suas exigências pessoais concretas e na sua aplicabilidade – como resposta a necessidades reais... como desafio, por um lado, e como percepção segura, pelo outro, que tudo aquilo que existe de positivo na natureza encontrará a sua resposta”
Cinqüenta anos depois, Comunhão e Libertação está presente em 70 países do mundo. Existem escolas e empresas, iniciativas de caridade, coleções de livros e cd’s, centros culturais, o Meeting de Rímini e milhares e milhares de pessoas que fazem referência ao Movimento. Como o senhor explica este reconhecimento, visto que nunca o procurou?
Procurei sempre viver a vida – nas suas exigências pessoais concretas e na sua aplicabilidade – como resposta a necessidades reais.
Ouvir uma sinfonia dirigida pelo maestro Muti ou por Von Karajan, pode ser um prazer maravilhoso, pode despertar uma emoção extraordinária, pode representar um Mistério que se revela, de tal forma que também belezas desconhecidas surgem ao horizonte do coração.
É como um prêmio conferido ao coração do homem, ao nosso coração de homens no meio da confusão e da incerteza, à procura de qualquer coisa que falta.
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Além do mais, Eliot já tinha algo para dizer com uma certa segurança de si quando perguntava: “Foi a humanidade que abandonou a Igreja ou foi a Igreja que abandonou a humanidade?”.
Mas como é que um homem do meu tempo, um homem destes tempos, ao falar de cultura, usando a palavra cultura, pode ignorar esta frase aqui? Ele ignora quatro quintos do mundo.
É uma crítica à Igreja ou à humanidade?
A ambas, a ambas, pois em primeiro lugar foi a humanidade que abandonou a Igreja, visto que, se eu preciso de algo, e este algo vai embora, eu corro atrás dele. Ninguém corria atrás.
E a Igreja, quando abandonou a humanidade?
A Igreja começou a abandonar a humanidade, na minha opinião, na nossa opinião, porque esqueceu quem era Cristo, não se apoiou sobre…, teve vergonha de Cristo, de dizer quem é Cristo.
O conceito de pureza ou de virgindade dos frades do século XIII, a começar por São Bernardo, é um canto à beleza, ou seja, um canto no qual a beleza vence sobre tudo.
Monsenhor Giussani, muitas pessoas evidenciam esta capacidade particular do Movimento de encontrar e envolver as pessoas de todos os tipos, de todas as classes sociais, de todas as culturas. Esta capacidade a que coisa é devida?
É devida a um interesse coerente e persistente pelas relações humanas, que se realizavam como se podiam realizar entre os jovens daquele tempo e os de hoje; é devida ao soltar-se de uma nova e mais madura atenção que se aproxima do diferente, atenção que se torna parte integrante do grande jogo da existência.
O acontecimento da história humana faz parte do desenho divino e por isso é para sempre. Ou seja, consagra-se com a inteligência da sabedoria de Deus, e isto começa a definir um firmar-se do sacramento católico, útil e frutuoso, do qual se pode partir como desde um novo Advento.
Além disso, também é devida ao fato de que as pessoas encontradas enfrentavam e viviam casos de necessidades concretas.
Concluindo, num dos seus discursos mais célebres – durante o Meeting de Rímini (em 1985; nde) - disse “Faço votos a vocês e a mim que nunca fiquemos tranqüilos”. Por quê? O que é que queria dizer aquela frase?
Queria dizer que o homem é digno da vida porque admite a vida somente como busca de uma resposta completa e de uma conquista que Deus criador concebeu e construiu para ele.
No final de uma aula, uma moça entregou-me, como se fosse uma descoberta, este canto feito por ela: Pobre voz … a nossa voz canta com um porquê.
Não conheço nenhuma outra expressão mais definitiva do que esta: como desafio, por um lado, e como percepção segura, pelo outro, que tudo aquilo que existe de positivo na natureza, encontrará a sua resposta.
Quem é...
Luigi Giussani nasce em 1922, em Desio, uma cidadezinha nos arredores de Milão. Muito jovem entra no seminário diocesano de Milão, prosseguindo os estudos e concluindo-os na Faculdade Teológica de Venegono.
São anos de intenso estudo e de grandes descobertas.
Ordenado sacerdote, padre Giussani dedica-se ao ensino neste mesmo seminário. Na metade dos anos 50, abandona o ensino no seminário para lecionar nas escolas de nível médio. Durante dez anos, de 1954 a 1964, dá aulas no Liceu Clássico “Berchet”, de Milão. São os anos do nascimento e da difusão de GS (Gioventù Studentesca: primeiro núcleo do movimento Comunhão e Libertação).
De 1964 a 1990 assumirá a cadeira de Introdução à Teologia junto à Universidade Católica do Sagrado Coração de Milão.
É fundador e presidente da Fraternidade de Comunhão e Libertação e da associação eclesial Memores Domini. A partir de 1993 dirige a produção de uma coleção editorial na Itália, denominada “Os livros do Espírito Cristão”, para a editora Rizzoli RCS, uma das mais importantes empresas italianas do setor. E a partir de 1997 também se dedica em dirigir a coleção de CD’s de música clássica Spirto Gentil, em associação com a Deutsche Grammophon, obtendo enorme sucesso de crítica e público.
Em 1995 foi-lhe concedido o Prêmio Internacional de Cultura Católica.
É autor de inúmeros ensaios, que foram traduzidos para diversas línguas. Baseados nesses ensaios formaram-se centenas de milhares de jovens e adultos.
Credits /
© Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón