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Passos N.56, Novembro 2004

50 anos de CL / Ecumenismo

Unidade, unidade!
A ação do povo

por Roberto Fontolan

Dimensão intrínseca da fé cristã. Esse é o “ecumenismo” na experiência da Igreja. Por isso o sujeito adequado da ação ecumênica é o Povo santo de Deus. Entrevista com o cardeal Angelo Scola

O que é o ecumenismo senão um encontro entre pessoas? Para além dos tecnicismos, mesmo que necessários, e dos princípios, geralmente abstratos, o diálogo e a possível unidade profética entre as confissões religiosas – que na substância fundamental supera também a distinção entre cristãos e não-cristãos, pois se enraíza na “comunhão” do sentido religioso – são experiências concretas de amizade, de formas e de lugares, de ocasiões. E de história. Desse ponto de vista, a cidade de Veneza é certamente a capital do ecumenismo. Uma milenar ponte entre os mundos (do Leste e do Oeste, do Norte e do Sul), uma cidade de fronteira, dessas fronteiras que de bom grado são atravessadas e habitadas. Sobre o ecumenismo Passos conversou com o Patriarca de Veneza, o cardeal Angelo Scola.

Como devemos entender hoje a palavra ecumenismo?
É um termo que indica uma dimensão intrínseca da fé cristã. Por isso se pode dizer que, em certo sentido, na palavra ecumenismo está incluído tanto o diálogo com as Igrejas e as confissões cristãs, quanto o chamado diálogo inter-religioso. Se se trata de uma dimensão, é claro que todo gesto realizado pelo fiel pode ser considerado “ecumênico”: o encontro com Jesus Cristo, que é a verdade viva e pessoal, abre a razão e a liberdade do homem, tornando-o capaz de reconhecer e valorizar todas as suas manifestações.

O senhor não considera o ecumenismo coisa de especialistas?
O Papa, quando se encontrou com o Patriarca Teoctist, em Roma, evocou a tocante experiência de Bucareste, quando o povo começou a gritar: “Unitate, unitate!...”. Essa experiência pôs em evidência que o sujeito adequado da ação ecumênica é o Povo santo de Deus. A função dos diálogos doutrinais, dos momentos comuns e dos intercâmbios entre comunidades cristãs, assim como a comum defesa da justiça, da paz e da criação, só tem sentido se tiverem, como fim último, os sujeitos religiosos populares como seus protagonistas.

E o que isso significa para os cristãos?
No que se refere aos cristãos, essa afirmação é a única que pode estar em sintonia com a natureza pastoral (isto é, cotidiana e normal) do ecumenismo. Ecumenismo é todo ato da comunidade cristã, como a celebração eucarística, a catequese, a ação caritativa, quando colocado segundo a sua integralidade. Nessa perspectiva, será possível a uma pastoral adequada equilibrar e promover tempos e momentos para as atividades comuns às várias Igrejas e confissões cristãs, assim como às variadas famílias religiosas.

Como se realiza essa dimensão na vida cotidiana do Patriarcado de Veneza?
A vocação ecumênica da Igreja que está em Veneza é claramente invocada por numerosas e precisas circunstâncias e relações. Ao longo dos séculos, cristãos de diversas Igrejas e confissões e homens de outras religiões vieram para Veneza. Amaram essa cidade singular e aqui estabeleceram sua morada, impressionados com a imaginação empreendedora dos seus habitantes, que deram vida a uma história imponente. Mas não só a história, também o presente desses irmãos cristãos estimula a Igreja veneziana, toda a realidade das Venezas de terra e mar, nessa direção. Nossa vocação ecumênica é também o pressuposto para esse relacionamento inter-religioso, para o qual nos convidam a presença e a história dos judeus, nossos irmãos mais velhos, e dos filhos da outra religião abramítica e de todas as realidades religiosas.
A esse quadro pertence também a missão, ao mesmo tempo histórica e atual de Veneza, na moderna sociedade secularizada, em relação aos que se declaram ateus ou não-religiosos ou pretendem comportar-se como a-religiosos.
Para corresponder a essa vocação, o Patriarcado é chamado, antes de tudo, a repensar em profundidade a dimensão ecumênica da sua cotidiana proposta de vida cristã.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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