O livro L’Inquisizione (A Inquisição), que recolhe os atos do Simpósio internacional realizado no Vaticano em 1988, é um instrumento de grande importância cultural.
Uma vasta e complexa trama de pesquisas que dão suporte a uma leitura – finalmente rigorosa – das questões colocadas à consciência e à história humana pelos acontecimentos inquisitoriais.
Uma série de estudos sérios desmistifica de maneira total essa “lenda negra” da Inquisição que ainda caracteriza boa parte da cultura laicista e radical.
A descoberta de documentos (publicados recentemente) permite um quadro finalmente realista desses acontecimentos.
Há alguns anos, num dos meus livros, eu escrevia a propósito da Inquisição: “... para concluir, creio que se trata de uma série de episódios certamente dolorosos que provocaram dramas pessoais significativos, mas quando os reduzimos às suas reais proporções podemos dizer, com Moulin, que a Igreja – no que se refere à Inquisição medieval – aceitou intervir de maneira excepcional estimulada por desafios de caráter social muito precisos, procurando inserir essas intervenções numa estrutura jurídica o mais positiva possível em relação àqueles que estavam envolvidos. A consciência civil dos séculos XII e XIII era, certamente, uma consciência civil diferente da nossa, e a nossa sociedade não pensa mais em se defender com a pena de morte, pelo menos formalmente. Quanto à Inquisição romana, não tenho nenhuma dificuldade de reafirmar o que já disse, isto é, que se tratava de uma instituição avançada se comparada com qualquer outro processo de caráter penal existente no mundo civil de então. Tanto a Inquisição romana quanto a medieval tinham na Igreja uma fonte de influência positiva, de influência caritativa: não era simplesmente uma questão de justiça, era também uma questão de caridade; não há nenhum evento de caráter eclesial que possa ser considerado também em seus reflexos políticos e sociais como um fato eminentemente de justiça. Ao visar o herege, a Igreja não é apenas uma instituição que deve defender a ortodoxia, é uma realidade que deve contribuir para defender a sociedade; a Inquisição não é somente responsabilidade da Igreja, como disse Moulin, mas é simultaneamente responsabilidade da Igreja e da autoridade social, e não se move em relação ao indivíduo prescindindo da caridade” (Controstoria, Ed. San Paolo, Milão 2000, p. 42).
Esse livro me parece uma límpida e abalizada confirmação disso.
Só um lamento: o livro destina-se, evidentemente, apenas aos que estudam esse tema; mas a batalha não envolve somente os especialistas: nos ambientes da vida social a Inquisição é um raivoso elemento de polêmica anticatólica, com pouquíssima documentação e muitíssimo rancor.
É querer demais esperar que alguém faça desse material um instrumento elementar e útil à batalha de todos os dias?
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