Passos N.107, Agosto 2009

RUBRICA

A História

Simples, como uma criança

O clima era o de sempre: de final de semestre. Festa e cores e o caos cheio de vida que acontece no último dia de aula, nos corredores dos colégios de ensino fundamental. Abraços. Despedidas. Os presentes aos professores. E alguns bilhetes escritos pelas crianças, antecipação dos cartões postais que chegarão dos lugares de férias. Fulvia também recebe um. Inesperado. Ela é professora de religião. O que aquele garoto, que nunca vinha às suas aulas, teria para lhe escrever? Abre o bilhete, escrito numa folha de caderno. E lê: “Embora eu não estivesse nas aulas de religião, esta matéria é muito bonita porque via meus amigos felizes quando estavam comigo e sempre me falavam sobre ela. Estou curioso e quero conhecer seu amigo. Agora, estou deixando meus colegas, vou mudar de escola. Quero estudar religião, mas meu pai não quer e, por isso, estou um pouco triste. Eu também posso lhe escrever?”

Fulvia o procura. Encontra-o. E depois de um “obrigada”, que já é um abraço, lhe devolve a pergunta que tinha escrito no bilhete: o que os seus amigos lhe contaram? E por que você disse que tenho um amigo? Ele responde: “Contaram-me sobre Franco, um amigo seu que está preso... sobre Rose... Sobre as flores, que atrás delas há um presente maior... Eles me disseram que a senhora também vai à escola com os amigos de Jesus e O conhecem melhor...”. Simples. Como uma criança. E verdadeiro. A ponto de fazer nascer outras perguntas. “Desculpe-me, mas como a senhora faz para ter certeza sobre este famoso ‘amigo’?”, “Qual deles, entre os que falei?”, “Jesus, né? A senhora fala sobre todas essas coisas que acontecem, todos os dias... É Ele que as faz acontecer, não é?”

“Terminei o semestre escolar ajoelhada na igreja com seu bilhete nas mãos, com muita e imerecida alegria no coração”, conta Fulvia. “Realmente, o que nos é dado testemunhar, da maneira como somos, é aquilo que vivemos, que tem a concretude do Senhor presente”. Fulvia contou este fato a muitas pessoas. E, uma vez, lhe disseram: “Guarde isso sempre no coração, carregue sua responsabilidade, mesmo que não continue o relacionamento com ele...”. E ela? “Sou grata por este conselho, porque me faz caminhar, me faz ir além. Cada vez mais dentro da beleza da Sua presença. O Belo que aquele menino viu me fascina, me envolve e me salva, sempre mais”. Simples. Como uma criança.