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Passos N.44, Outubro 2003

DOCUMENTO

A exaltação do Ser

por Julián Carrón

Propomos a palestra de Julián Carrón, que, a partir da mensagem de padre Giussani aos peregrinos de Macerata a Loreto, esclarece os pontos da Carta à Fraternidade de junho passado.
La Thuile, 20 de agosto de 2003


“Todas as vezes em que nos reunimos, por que é que o fazemos? Para arrancar os amigos, e, se for possível, o mundo inteiro do nada em que todo homem se encontra” 1.
O nosso estar juntos tem esse objetivo: arrancar-nos do nada. Não estamos juntos para organizar me-lhor as coisas, para gerenciá-las melhor, mas por causa de uma caridade para conosco, porque nos interessa não sucumbir ao nada.
A primeira questão é olhar a realidade, olhar a nossa experiência, porque até mesmo em nós poderia tomar corpo uma insinuação deste tipo: “Ora, comecemos a falar de coisas filosóficas”. Quem pensa que o nada do qual estamos falando seja algo filosófico pode assistir ao filme The Hours (As Horas) no qual o diretor conseguiu transmitir brilhantemente o que é uma vida sem sentido (quando saí do cinema sentia sobre mim o peso do vazio, como muitas vezes uma pessoa pode sentir no dia-a-dia).
Nada serve para nos arrancar desse nada que também nos ameaça, porque somos como todos; não somos diferentes pelo fato de estarmos aqui, somos como todos os homens, pois fazemos a experi-ência de todos: é impossível viver dentro de uma cultura sem sermos influenciados por ela.
O nada nos ameaça de vários modos. Padre Giussani usou diversas expressões. Falando aos univer-sitários, definiu como um “cinismo de vagabundos” 2; ano passado, na entrevista ao jornal italiano Libero, falou de “conformismo”, denunci-ando o fato de que muitas pessoas não esperam mais a plenitude (e isso serve tanto para quem está dentro ou fora do movimento de Comunhão e Libertação (CL), na Igreja ou fora dela): não existe mais espera 3. Ou ainda se pode falar de “aridez do coração”, de “frieza”, de “formalismo”. Todas são modalidades diferentes nas quais o nada nos a-prisiona chegando ao ponto de tornar-se uma tentação da nossa cultura. Recentemente o jornal itali-ano Corriere della Sera, falando do budismo, disse: “A beatitude eterna é o nada” 4 (é o estranho fascínio da nossa cultura pelo budismo, que concebe a beatitude como o nada), ou - mas todos os jornais estão repletos disso - “O tédio nos salvará”, diz a Repubblica, outro jornal italiano: “Enfrentar o medo do vazio e tornar-se consciente dele ou, melhor ainda, passar àquela ‘tomada de inconsciência’ que, por si só, vale mais do que parar mil vezes para se auto-analisar 5.
O nada. Um de vocês dizia, falando especificamente da experiência do Grupo Adulto (leigos consa-grados; nde), mas se pode estender estas palavras como se falassem de cada um de nós: “Existe um perigo mortal que vi com clareza no início desse ano: o estar apenas pela metade, o estar sem realmente estar. Existe uma luta que consome mais do que qualquer outro trabalho ou tensão provocados pelas circunstâncias externas, que é aquela de estar dentro de uma vocação como a nossa sem desejá-la. “Fazer” sem querer aquilo que se faz desagrega a pessoa por dentro, tornando-a in-feliz, porque bloqueia a liberdade a ponto de provocar uma desidratação que chega a atingir a sua medula, porque não se ama aquilo que existe e não se pode amar aquilo que não existe”.
O nada “nos desidrata até a medula”, não estamos naquilo que existe: porque, como dizia Cornelio Fabro, “o nada não se escolhe, a gente se abandona ao nada”. A gente se abandona, deixa-se levar, rolando: abandonamo-nos a uma vida sem sentido. Quantos momentos no dia-a-dia são vividos sem sentido!
Entende-se, portanto, porque padre Giussani, na Carta à Fraternidade, afirma (e todos não podemos fazer mais do que estar de acordo com o que ele diz): “O eu deve ser continuamente exaltado por um renascimento do real, por uma re-criação” 6. O eu, o nosso eu, você e eu devemos ser continuamente exaltados por um renascimento. Estamos juntos para isso. Como diz a mensagem escrita por ocasião da peregrinação Macerata-Loreto: “Nosso rela-cionamento é vocacional” 7. A vida é vocação à felici-dade, à plenitude. “O relacionamento vocacional é nada menos do que isso: que, ao nos encontrar [que no nosso estar juntos] (...) a pessoa se sinta como que abraçada em seu íntimo, resgatada de sua aparente nulidade, fraqueza, mesquinhez ou confusão, e se sinta como se de repente tivesse sido convidada para as núpcias de um príncipe” 8.

1 - A exaltação do ser

O nada é vencido somente pelo Ser. Podemos nos tornar amigos, podemos arrancar-nos do nada somente se o Ser, de algum modo, nos venceu, se a nossa vida foi percorrida pelo Ser. O Ser! Que o Ser exista! É isso que impressionou padre Giussani, como ele próprio diz na carta: “O hino à Virgem, de Dante, coincide com a exaltação do ser” 9. E mais adiante: “Por isso a primeira parte do Hino de Dante é a exal-tação do eterno” 10.
“Eu poderia ter começado a carta assim”, dizia-nos alguns dias depois de tê-la escrito: “Dante queria falar do eterno, queria fazer as pessoas entenderem, àquelas pessoas a quem escrevia queria falar da eternidade, era a eternidade que lhe interessava. Tudo o mais é como uma vaga centelha de luz de eternidade. Falar da eternidade é falar do Ser. É o problema do Ser o que falta a todas as pessoas”.
É esse o nosso problema. O nada não existe, não se pode escolher o nada, a gente se abandona ao nada. Mas o problema é que para nós o Ser parece abstrato, sem qualquer incidência real na vida. Diante das reações provocadas pela carta, padre Giussani observou: “Acabei por descobrir nesses dias que o Ser não vibra em ninguém”.
Assim, normalmente acontece que se “salta” o primeiro ponto da carta: é mais fácil, por exemplo, procurar entender o que é a liberdade, mas em relação ao Ser não sabemos como nos colocar, porque não vibra em nós, parece que não podemos fazer experiência do Ser. Ajudar-nos a entender a carta é, portanto, uma questão decisiva, porque não se entende a carta apenas refletindo sobre ela, mas fazendo parte, de algum modo, da mesma experiência de quem a escreveu.
Certa vez um universitário perguntou a padre Giussani - já que ele, Giussani, havia convidado todos a identificarem-se com o conteúdo da Escola de Comunidade como única via para superar um modo abstrato de sentir as palavras - como se dava esse identificar-se na vida e nos relacionamentos de Giussani. E ele respondeu:” Como acontece na minha vida não posso lhe dizer, meu amigo, se não a partir de algo de semelhante que já compareça na sua vida e que já é experimentado por você. En-tende-se aquilo que, de algum modo, corresponde a algo que já experimentamos” 11.
A questão é, portanto, fazer experiência daquilo que nos foi dado, porque, de outro modo, achamos que entendemos o que, na verdade, é reduzido a uma medida nossa. Porque ele sabe muito bem que só se entende algo que “acontece”: o início do conhecimento, disse em várias ocasiões citando Fin-kielkraut, é um acontecimento 12.
O conteúdo da carta nos coloca diante de um problema de conhecimento, como ele próprio nos ha-via dito cinco anos atrás (pode-se encontrar no texto dos Exercícios de 1998, todo ele ainda por a-prender!). Desde então, já tinha em mente esse problema, queria comunicar que “Deus é tudo em tudo” (ou seja, o Ser) e que “Deus é tudo em tudo” é a conseqüência impressionante à qual conduz a razão, pelo menos quando a razão é entendida segundo a experiência realisticamente natural que nós fazemos dela” 13.
Se alguém olhasse para a própria experiência, entenderia que “Deus é tudo em tudo”. Mas “Deus tudo em tudo”, observa padre Giussani, nos parece “abstrato” 14. Isso se entende, por exemplo, quando se pergunta a alguém: “Mas, você pensou nisso? Você se deu conta disso?” e a pessoa responde: “Sim, já sei”, mas sem ser mi-nimamente tocado, de modo tal que deixa transparecer o contrário. Como se dissesse: “Já sei, mas não acontece nada: é uma abstração”.
Uma entre vocês escreveu: “Fiquei chocada por ter encontrado, aqui onde estou passando férias, algumas pessoas do Movimento, porque, ao falar com elas banalmente a respeito do que fazem ou onde passarão as férias, emergiu uma divisão impressionante entre trabalho, relacionamentos, férias, problemas, as questões que de verdade interessam e o Movimento, a vocação, Jesus. Estes [o Movimento, a vocação, etc] não são colocados realmente em discussão, aliás, não dizem nada à vi-da”.
Nos Exercícios citados, padre Giussani afirma que a abstração com a qual percebemos Deus é “da ordem do conhecimento” 15 e que isso tem a sua “origem na distância que se produz entre razão e experiência” 16. “O cerne da questão se esclarece na luta que se desenvolve a res-peito da maneira de ler e de analisar a relação entre razão e experiência. Basta olhar a fórmula “Deus é tudo em tudo”, que sacode a formulação “Deus existe”, a afirmação da existência de Deus. Com efeito, é sempre tranqüila a afirmação de um Ente supremo, da existência de Deus, parada em si mesma, que não tenha relação com a ação do homem, a não ser como juiz que, no fim, destrói ou aprova o que o homem realizou” 17.
Todo o problema está no modo de conceber o relacionamento entre razão e experiência. “A negação do fato de que “Deus é tudo em tudo” depende de uma irreligiosidade” 18. É uma irreligiosidade “cujo início imperceptível con-siste em uma separação entre Deus como origem e sentido da vida e Deus como fator de pensamen-to” 19. Aquilo que pensamos de Deus, sobre Deus, é separado da experiência que fazemos dEle: assim, torna-se abstrato. Ou seja, é produzido por uma irreligiosidade, por uma distância quase imperceptível, que começa sem que ninguém perceba.
Se você é marcado pela presença do real e um instante depois você se distancia dela, você se separa dela, ali começa a irreligiosidade. O problema não é rezar ou não. O problema é o relacionamento com o real. Deus começa a se tornar abstrato à medida que, quando você fala de Deus,você se dis-tancia, você fala de Deus como um fato do seu pensamento e não a partir da experiência que você faz dEle. Introduz-se uma distância entre Deus e a experiência. Isso se entende muito bem se formos olhar como é a experiência original - onde essa distância não existe - e por que se pode considerar como irreligiosidade tal distância.
O ponto de partida é a experiência, e isso implica que você e eu podemos fazer experiência do Ser. Por que podemos fazer essa experiência? Porque o Ser se comunica, doa a si mesmo em uma forma: “O Ser ‘se co-extende’ no seu comunicar-se total, o Ser chega a tocar tudo aquilo que circunda e pelo qual foi feito, e é exatamente no seu comunicar-se total que isso (a co-extensão) acontece e se realiza, alcança-o” 20.
O Ser - dizia-nos padre Giussani - participa do humano através de uma forma, como forma. O Ser não pode se revelar a não ser como forma. O Ser se doa, doa a si mesmo, por meio de uma forma. Pode-se experimentar o Ser, tocar, porque Ele nos alcança através de algo que se pode saborear. O ser que pode ser saboreado pela existência: isso é a co-extensão. O Ser nos alcança através de uma forma. Diante daquilo que acontece, dizemos muitas vezes: “Acontece porque acontece, não tem nada por trás”. Não! Acontece porque um Outro assim o quer, acontece porque é o Mistério que se comunica: é a impressionante liberdade do Mistério.
Escreve Steiner: “o ato criativo” - por meio do qual o Ser se comunica, se co-extende a tudo e nos alcança - “é o atuar-se de uma liberdade. É inteiramente livre. A sua existência comporta, implícita e explicitamente, a alternativa da não-existência (...). A ‘criação’, corretamente entendida e percebida, é sinônimo de ‘liberdade’, daquele fiat (seja) que encontra o seu significado somente na sua relação (...) com o ‘não seja’. É somente nessa gratuidade em relação ao ser - o ser é sempre um dom - que o artista, o poeta, o compositor podem ser considerados ‘iguais a Deus’” 21. O Ser o alcança, toca-o,,chama-o através de uma forma, e por isso se pode fazer experiência dEle.
Eis, portanto, o que implica dizer: o ponto de partida é a experiência. “A experiência” - diz genial-mente padre Giussani na palestra citada - “é o surgimento da realidade para a consciência do ho-mem, é a realidade que se torna gradualmente transparente ao olhar humano” 22. Conhecer o que é o amor, a liberdade, a mãe, a montanha, isso só acontece através da experiência. Não é lendo romances sobre o amor, mas é através da experiência do amor que alguém entende o que é o amor.
Olhemos, pois, a experiência original, a experiência do encontro do eu com o real (capítulo décimo de O Senso Religioso) 23. Se abrísse-mos os olhos pela primeira vez nesse momento e olhássemos o Monte Bianco, a primeira coisa, a primeira experiência em absoluto seria a de um maravilhamento, de uma atração. Antes de tudo, portanto, a realidade me provoca (“Que bonito!”) e eu me apego a ela; depois tomo conhecimento de mim. A primeira experiência que faço é aquela de um apegar-se e não de um distanciar-se. Se acontece esse se distanciar é por causa de um movimento da liberdade.
Diante do real, no impacto com a presença do real, no apegar-se à atração do real, do saborear, aqui começa a religiosidade. Ao contrário, o distanciar-se é o início da irreligiosidade, porque é contra a natureza da experiência que fazemos.
Por isso, como diz Finkielkraut, “a utopia triunfante é a violenta pretensão de desfazer-nos da reali-dade como algo dado e, sobretudo, do dado como presença” 24. Se essa utopia vence, estamos “fritos”; todo o resto é conseqüência disso.
O início da irreligiosidade, a primeira vitória do nada, se produz nesse distanciar-se, se nós aceita-mos esse se distanciar, se nos abandonamos a ele, porque a origem, a experiência original é um a-pego, não uma distância. Esse início acontece quase sem que a pessoa se dê conta.
Se formos leais no impacto com o real - como mostra todo o percurso do décimo capítulo de O Senso Religioso -, o embate da realidade, esse original contragolpe deixa em nós um desejo, uma tensão, uma exigência de conhecer que nada se completa se não chegar a dizer o “Tu que me fazes”. Se paramos antes, como geralmente acontece, não chegamos ao Ser, não fazemos experiência do Ser, e quando falamos do Ser falamos como quem está fora da experiência.
Fomos educados a ter o real como ponto de partida. Se parto do real que vejo, que toco, da forma com a qual o Ser se doa, sou constrangido a afirmar o Ser como origem, um Ser “real”: não um fato de pensamento (um fato de pensamento não é capaz de explicar a presença do real), mas um Tu - diz padre Giussani -, um “Tu real e misterioso” 25. Não importa se você sente ou não: existe! Esse Tu real e misterioso existe. Por que existe? Porque nós existimos. Não é um problema de sentimento, não é um problema daquilo que podemos pensar: existe! Se não podemos fazer uma afirmação assim tão simples - “existe!”-, quando falamos de Deus, falamos de um fato de pensamento. Tanto é que quando ouvimos padre Giussani falar do Ser, de Deus, ficamos marcados. Uma vez, durante um almoço - isso nos contava Cesana - Giussani ex-clamou: “Para mim, Deus é tão real quanto essas batatas”. É porque o Ser existe, que O experimen-tamos, que O sentimos. Não “porque sinto, logo existe”, mas “porque existe, logo posso experimen-tar”. É um problema, antes de tudo, de conhecimento. Se não se faz o uso da razão desse modo, não se respeita a verdadeira natureza da razão: a verdadeira natureza da razão é definida, de fato, por essa exigência que o real coloca em mim. “O Hino à Virgem, de Dante, coincide com a exaltação do ser, com a derradeira tensão por parte da consciência do homem que está na presença da ‘realidade’- que não nasce por si mesma, mas que é feita por um focus inefável26. O que é essa “última tensão da consciência?”. A razão! A presença do real desperta essa exigência, essa tensão que define a natureza da razão.
Somente quem aceita esse contragolpe e não se distancia da tensão que a realidade produz nele a-tinge o focus inefável, isto é, o Tu real e misterioso, o Ser. A consciência do homem na sua tensão última atinge o focus inefável do Ser (a condição para que uma pessoa não se torne irreligiosa, não pare, não se canse, não se distancie, não bloqueie a exigência provocada pela presença do real).
Quem reconhece a realidade como algo criado não pode não acabar na exaltação do Ser: todo o cri-ado é, de fato, o comunicar-se do Ser, todo o criado vibra desse Ser. “É um eterno conselho, é algo que vibra e que se chama eternidade” 27. Por isso é impossível que o Ser não vibre em ninguém: se não vibramos, existe algo que não funciona, é a vi-tória daquele distanciar-se. Sendo assim é impossível, como é impossível olhar as montanhas sem dizer “que bonito!”, sem receber o impacto da beleza. Não é possível! Quer dizer que não aceitamos ver o real. Se alguém se encontra diante do real não pode não vibrar.
Mas não basta a mediação de textos ou a leitura de um romance sobre o amor. É necessário um a-contecimento, uma comoção: a comprovação de que atingimos o Ser é essa comoção. Podemos ser especialistas em fazer discursos, mas de quantos se pode dizer que vivem comovidos? O Ser se co-munica somente através da comoção que produz em nós. Não existe um outro modo.
Então, tudo - as montanhas, a mulher, as circunstâncias, o desastre - tudo é a modalidade, a forma com a qual o Ser me chama, se comunica e me chama do fundo desse focus inefável. “O Tu é o fundo da verdade, ou seja, da realidade”.
O trabalho a ser feito - a educação que nos falta, depois de quatro séculos de racionalismo, desse bloquear-se na aparência - é atingir esse focus, porque a aparência, a forma, “é o pri-meiro manifestar-se daquilo que é para sempre” 28. É de verdade algo do outro mundo: a aparência não é prelúdio do nada, engano, vaidade. “A apa-rência é o primeiro manifestar-se daquilo que é sempre”. “Aquilo que se vê é a aparência, mas é preciso deixar-se arrastar, ir além da aparência, ir até o coração da aparência, que é uma outra coisa, que é um Outro. Não é uma aparência: é um Outro. Mas isso não faz você esquecer a aparência: faz com que você a possua mais” 29, exatamente porque o remete ao Outro. Essa é a maturidade: “deixar-se atrair de maneira tal pela aparência a ponto de chegar na intimidade da aparência” 30, no coração.
Se chegamos até um certo ponto e paramos na aparência, não fazemos experiência do Ser, ou então falamos do Ser como alguém fora da experiência. É um problema de educação, e isso vale para tudo o que acontece, para todo o real.
Vejamos a história do cego de nascença. Olhemos o percurso que ele faz diante do milagre (o mila-gre: algo que acontece). “Antes não via, agora vejo” 31. E aquele homem inicia um percurso da aparência ao cora-ção da aparência. Qual é o coração? Vejamos sinteticamente as passagens. “Perguntaram-lhe, então: ‘como se abriram os teus olhos?’. Respondeu: ‘O homem chamado Jesus fez lama, aplicou-a nos meus olhos e me disse: ‘Vai a Siloé e lava-te’. Fui, lavei-me e recobrei a vista’. Disseram-lhe: ‘Onde está ele?’. Disse: ‘Não sei’. Assim conduziram o que fora cego aos fariseus. Ora, era sábado o dia em que Jesus fizera a lama e lhe abrira os olhos. Os fariseus perguntaram-lhe novamente como tinha recobrado a vista. Respondeu-lhes: ‘Ele aplicou-me lama nos olhos, lavei-me e vejo’. Diziam então alguns dos fariseus: ‘Esse homem não vem de Deus, porque não guarda o sábado’. Outros diziam: ‘como pode um homem pecador realizar tais sinais?’. E havia cisão entre eles. De novo disseram ao cego: ‘Que dizes de quem te abriu os olhos?’. Respondeu: ‘é um profeta’ (antes disse: ‘aquele homem que se chama Jesus’, e agora disse: ‘É um profeta’). Mas os judeus não creram que ele fora cego (para continuar no preconceito é preciso cancelar o real, porque é o real que determina o percurso que o cego faz; para interromper esse percurso é necessário um distanciar-se da experiência e esse distanciar-se é a negação do real) e por isso chamaram os pais do que recuperara a vista e perguntaram-lhe: ‘Esse é o vosso filho, que dizeis ter nascido cego? Como é que agora ele vê?’. Seus pais então responderam: ‘Sabemos que esse é nosso filho e que nasceu cego. Mas como agora vê não o sabemos; ou quem lhe abriu os olhos não o sabemos. Interrogai-o’. Chamaram, então, uma segunda vez, o homem que fora cego e lhe disseram: ‘Dá glória a Deus! Sabemos que esse homem é pecador’ (é o preconceito). Respondeu ele: ‘Se é pecador não sei. Uma coisa eu sei: é que eu era cego e agora vejo’” 32.
Esse apego ao real o torna vencedor diante de toda a esperteza dos fariseus. O ponto é que não exis-te nada a ser feito (“Uma coisa eu sei: é que eu era cego e agora vejo”).
“Disseram-lhe, então: ‘O que ele fez com você? Como abriu os seus olhos?’. Respondeu-lhes: ‘Já vos disse e não ouvistes. Por que quereis ouvir novamente? Por acaso quereis também tornar-vos seus discípulos?’. Injuriaram-no e disseram: ‘Tu, sim, és seu discípulo; nós somos discípulos de Moisés (...)’. Respondeu-lhes o homem: ‘Isso é espantoso; vós não sabeis de onde ele é e, no entanto, abriu-me os olhos! Sabemos que Deus não ouve os pecadores; mas se alguém é religioso e faz a sua vontade, a esse ele escuta (...) Se esse homem não viesse de Deus, nada poderia fazer’. Respon-deram-lhe: ‘Tu nasceste todo em pecado e nos ensinas?’. E o expulsaram. Jesus (é o final do percur-so) ouviu dizer que o haviam expulsado. Encontrando-o, disse-lhe: ‘Crês no Filho do Homem?’. Respondeu ele: ‘Quem é, Senhor, para que eu nele creia?’. Jesus lhe disse: ‘Tu o estás vendo, é quem fala contigo’. Exclamou ele: ‘Creio, Senhor!’. E prostrou-se diante dele” 33.
Até mesmo diante de um milagre assim tão imponente, não se pode evitar fazer esse percurso. O contrário é sequer dar-se conta do ocorrido. A esse propósito, pode-se ler o Evangelho de Lucas a respeito do episódio dos dez leprosos: todos foram curados, mas só um se deu conta disso 34.
A todos nós é dada a vida, o Ser se comunica a nós, mas somente alguns se dão conta disso. Esse é o problema da educação da qual precisamos. Como a criança que tem necessidade de uma mãe que lhe lembre, diante de algo que ela recebeu e diante do qual está tão contente que acaba por esquecer tudo -,que a lembre sempre isto: “Mas como se diz?”. E a criança: “Obrigado!”. A mãe faz o menino entender que não acontece porque acontece: existe um outro. Esta é a introdução ao real, ao Tu, por meio de todas as coisas. Que coisa grande é a vida quando em tudo aquilo que acontece não pa-ramos na aparência!
“Essa percepção da presença é se dar conta que o nada foi vencido” 35, diz Cornélio Fabro. É preciso que nós percebamos a presença do Ser para que o nosso eu possa renascer. Esse renascimento acontece no reconhecimento do Ser, que se torna oração, pedido do Ser diante do sinal: “Revela-Te! Que eu Te reconheça”. Esta é a expres-são última do homem: que eu Te reconheça em tudo! Esse é o jogo da nossa religiosidade ou mesmo da nossa irreligiosidade: que eu Te reconheça por meio de todas as coisas! Que eu chegue até o final, até o Tu, que não pare antes.

2 - O método de Deus: Nossa Senhora
O método de Deus: eis o que Nossa Senhora respeitou. O que é o Ser torna-se evidente em Nossa Senhora. Aqui está a sua importância única. “Nossa Senhora se comoveu ante o Infinito” 36.
A Anunciação é o Ser que se comunica: o Magnificat é o seu comover-se, e proclama a grandeza do Senhor: “Por que olhou para a humildade de sua serva” 37. Mas isso acontece a cada manhã quando rezamos o Ângelus. Não acontece porque acontece (podia não acontecer; eu podia me esquecer), mas é Deus, é o Mistério que se comunica a mim, que me faz dizer: “O anjo do Senhor anunciou a Maria”. Não é uma recordação, é agora. E então é possível dar-se conta de qual é a diferença entre uma oração piedosa e um acontecimento: se há comoção ou não!
Isso é aquilo que faz renascer o eu, a exaltação do indivíduo. Aqui está o maior desafio do Ser a ca-da um de nós que se coloca diante do nosso verdadeiro drama: “Sem o reconhecimento do Mistério vivificador (o Ser), o indivíduo se apaga e morre” 38.
“É o drama supremo - que o Ser peça para ser reconhecido pelo homem. Esse é o drama da liberdade que o eu deve viver: adesão ao fato de que o eu deve ser continuamente exaltado por um renas-cimento do real, por uma re-criação que se comoveu ante o Infinito, na figura de Nossa Senhora” 39. Eis o drama supremo do eu: para viver, para renas-cer do nada ao qual nos abandonamos, temos necessidade de aceitar o embate do Ser, de aderir ao Ser. Nossa Senhora é o método, porque é o paradigma da verdadeira religiosidade. “A figura de Nossa Senhora é o constituir-se da personalidade cristã” 40. Sem isso, só existe o nada, ou seja, o poder: o único limite ao po-der, de fato, é a verdadeira religiosidade.
“Nossa Senhora respeitou totalmente a liberdade de Deus, salvou essa liberdade; obedeceu a Deus porque respeitou a divina liberdade, não lhe opôs um método seu” 41. A liberdade de Deus que se comunica ao homem torna possível a liberdade do homem. Por isso “a salvação é o Mistério de Deus que se comunica ao homem” 42.
Entende-se, então, por que “a liberdade do homem é a salvação do homem” 43: a liberdade do homem é o sinal de que o homem foi salvo. E em Nossa Senhora, isso se torna de clareza solar. É como se Deus - nos dizia padre Giussani - falasse com clareza: “Vejam o que pode ser a vida de uma criatura que respeita a liberdade de Deus”. “Eu vos ensinarei, diz Deus por meio de Nossa Senhora, vos ensinarei como vocês devem fazer”.
Nossa Senhora é o método com o qual aprendemos a familiaridade com Cristo. Esse se doar do Mistério, que preenche tanto o ser, a criatura, o eu, essa gratuidade do Ser, essa virgindade do Ser, que comunica a sua plenitude à Nossa Senhora, é aquilo que permite a ela um relacionamento gra-tuito com todo o real. “A primeira característica com a qual o Mistério se comunica é a virgindade” 44: pureza absoluta, gratuidade absoluta.
Somente se estamos repletos do Ser, podemos deixar que tudo seja aquilo que é, não ter pretensão de possuir, podemos respeitar o outro, deixá-lo livre, como Deus o criou, livre. Por quê? Porque dentro do seu relacionamento conosco existe essa virgindade, essa plenitude. E essa plenitude, que é a virgindade, é geradora, é maternidade: não temos necessidade de alguém que nos gere; não temos necessidade de conselhos, não temos necessidade de conversas, não temos necessidade de nada, só temos necessidade de alguém que nos comunique o Ser, de alguém no qual o Ser seja transparente.

3 - Caridade e esperança
“O Ser - o doar-se do Ser , o comunicar-se do ser - é caridade” 45. “O Ser-Mistério”- dizia padre
Giussani na entrevista ao jornal Libero – “não pode ser individual, não se poderia sus-pendê-lo e aderir a Ele se não se revelasse como Caridade” 46. Caridade, palavra que expressa de maneira suprema a relação de Deus com o homem.
Basta ler o Evangelho de João: “Deus amou tanto o mundo que mandou o seu Filho único” 47; ou então a Carta aos Romanos: “Quando éramos ini-migos de Deus, Deus nos deu seu filho único” 48; ou a Carta aos Gálatas: “Vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim” 49.
“A essência do Ser é amor, essa é a grande revelação” 50. “A questão é simples: aquilo que existe, o mistério que existe, a realidade do Ser, aceita-se somente em força de uma experiência na qual a pessoa se torna objeto de Deus” 51.
Se tudo o que acontece reconhecemos como o dar-se do Ser, o doar-se desse Tu ao nossa nada, tudo o que sucede na vida é incremento da certeza sobre o Ser, sobre a caridade do Ser em relação a nós. “Sem ser tomado por aquele turbilhão que é o Mistério-Caridade, acaba-se ficando estéril” 52. Esse vórtice está ocorrendo agora, acontece agora.
O doar-se do Mistério é “o invadir do desejo, é um desejo sem fim” 53, desperta todo o nosso eu, nos torna “um”: é a vitória sobre o dua-lismo. A caridade de Deus desperta em nós a caridade em relação a tudo, como eco do aconteci-mento do Ser.
Dizia ainda padre Giussani: “O existente, o eu atraído pelo Ser no encontro com uma forma, com esse amor, se abre para Ele, realizando assim a caridade”. É essa caridade para conosco que nos es-cancara. “O Amor é, assim, a fórmula participativa naquilo que seria puramente efêmero” 54. Tudo se tornaria efêmero, e, ao contrário, tudo se tor-na estrada rumo ao Mistério.
É a caridade da qual fala São Paulo na Carta aos Romanos: “Depois disto, que nos resta a dizer? Se Deus está conosco, quem está contra nós? Quem não poupou o seu próprio Filho e o entregou por todos nós, como não nos haverá de agraciar em tudo junto com ele? Quem acusará os eleitos de Deus? É Deus quem justifica. Quem condenará? Cristo Jesus, aquele que morreu, ou melhor, que ressuscitou, aquele que está à direita de Deus e que intercede por nós? Quem nos separará do amor de Cristo? (essa é a vitória sobre o distanciar-se). A tribulação (a tribulação o separa, introduz uma suspeita no seu relacionamento com Cristo), a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? (...). Mas em tudo isso somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou. Pois estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem os poderes, nem a altura, nem a profundeza nem qualquer outra criatura poderá nos separar do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor” 55.
Assim, o nada não possui mais nenhuma presa. Essa é a vitória do Ser, cujo exemplo mais clamoroso é o “sim” de Pedro. “O ‘sim’ de Pedro é a maior expressão da obra redentora de Cristo sobre o homem, é a explosão do positivo do Ser sobre o negativo da mentira da ação do homem” 56.
A comoção de Pedro! A um universitário que lhe pergunta “como é possível que o meu sim seja um sim comovido (...) como aquele de Simão?”, padre Giussani responde: “Como pode não ser como-vido? Como pode o pensamento não se comover diante do fato de que o Mistério do ser penetre no meu pobre ser humano, que de outro modo se tornaria mortal no sentido total do termo, destinado a se tornar totalmente pó? Como pode o Mistério do ser amar-me tanto até penetrar-me, fazer-me igual a Si, e levantar-me como faz a mãe com a sua criança, pegando-me por baixo das axilas (...)? Mas como pode acontecer que Deus faça isso comigo, com você? (...). Deus é misericórdia” 57.
Essa misericórdia do Ser é a essência do Ser. Por isso “devemos tornar preferência humana a pre-sença de Cristo” 58. Olhar tudo e confrontar com esse amor! Como podemos preferir outro a Jesus?
A caridade de Cristo é o êxtase da esperança. O relacionamento do Ser com a vida do homem é o início do fim, do cumprimento. A vida começa continuamente como fonte do Ser. Por isso se existe essa esperança, existe uma força para reanimar qualquer circunstância que, se não fosse assim, não existiria. “A esperança passa como luz nos olhos e como ardor no coração daquele Ser que define a recompensa da espera humana: não é um prêmio por causa do desempenho do eu, mas porque o eu vive o êxtase da esperança 59”.
É daqui que surge o povo. O Mistério se torna o povo humano, a ênfase de uma personalidade cristã: levantamos todas as manhãs para isso, “levantamo-nos para uma explosão em nós mesmos do fato de Cristo!” 60.
Por menos do que isso não se vive.


Notas:

[1] L. Giussani, “Por que nos reunimos? Para libertar-nos do mal! Quem nos liberta é Cristo. Mensagem por ocasião da peregrinação Macerata-Loreto” in Passos nº 41, julho de 2003, p. 33.
[2] L. Giussani, “Da minha vida à vossa vida”, in Passos nº 25, dezembro de 2001, p. 24.
[3] “Os próprios líderes das comunidades não entendem bem estas coisas, no sentido de romper com seu conformismo de modo a abrir passagem para o futuro: não esperam a plenitude. Não há espera. Isso vale para CL e para fora de CL, para a Igreja e para fora da Igreja.”. (R. Farina, entrevista com padre Giussani que saiu no jornal italiano Libero, edição de 22 de agosto de 2002, p. 1, com o título: “Judeus e cristãos no final voltarão a se unir”, republicado com o título “O Ser é caridade”, in Passos nº 33, outubro 2002, p. 86).
[4] Cfr. P. De Carolis, “Existe uma comprovação científica. Os budistas são mais felizes”, in Corriere della Sera, 23 de maio de 2003, p. 14.
[5] V. Schiavazzi, “O tédio salvará a nossa vida”, in la Re-pubblica, 22 de julho de 2003, p. 26.
[6] L. Giussani, “Comovidos ante o Infinito”, Carta à Fraternidade de Comunhão e Libertação, 22 de junho de 2003, in Passos nº 41, julho de 2003, pp. 1ss.
[7] L. Giussani, “Por que nos reunimos?…”, cit., p. 33.
[8] Ibidem.
[9] L. Giussani, “Comovidos ante o Infinito”, cit., p. 1.
[10] Ibidem, p. 2.
[11] L. Giussani, “Através do humano”, in Avvenimento di libertá (Acontecimento de liberdade), Marietti, 2002, p. 35.
[12] Cfr.: “Um acontecimento é algo que irrompe de fora. Algo imprevisto. É esse o método supremo do conhecimento. É necessário dar novamente ao aconteci-mento a sua dimensão ontológica de novo início. É uma irrupção do novo que rompe as engrenagens, que faz o motor funcionar” (A. Finkielkraut, Tirarei Péguy do gueto, entrevista de Stefano Paci, in 30 Dias, junho de 1992, pp. 52-55).
[13] L. Giussani, “Deus e a existência”, in Exercícios da Fraternidade 1998, São Paulo 1998, p. 09.
[14] Ibidem.
[15] Ibidem, p. 10.
[16] Cfr. ibidem, p. 11.
[17] Ibidem, pp. 12.
[18] Ibidem, p. 11.
[19] Ibidem.
[20] L. Giussani, “Comovidos ante o Infinito”, cit., p. 1.
[21] G. Steiner, Gramáticas da criação, Garzanti, Mi-lão 2003, pp. 122-123.
[22] L. Giussani, “Deus e a existência”, in Exercícios da Fraternidade 1998, op. cit., p. 13.
[23] L. Giussani, O senso religioso. Nova Fronteira, Rio de Janeiro 2000, pp. 143ss.
[24] Cfr. L. Amicone, “Acontecimento como encontro. Sempre em luta contra a utopia”, in Passos nº 39, maio de 2003, p. 24.
[25] L. Giussani, “O objetivo e o caminho”, in Avvenimento di libertà…, op. cit., p. 20.
[26] L. Giussani, “Comovidos ante o Infinito”, cit., p. 1.
[27] Ibidem, p. 2.
[28] L. Giussani, Affezione e dimora (Afeição e mo-rada), BUR, Milão 2001, p. 314.
[29] Ibidem, p. 364.
[30] Cfr. ibidem, p. 363.
[31] Cfr. Jo 9,25.
[32] Jo 9,10-21.24-25.
[33] Jo 9,26-28.30-31.33-38.
[34] Cfr. Lc 17,11-19.
[35] C. Fabro, Livro da existência e da liberdade vagan-te, Piemme, Casale Monferrato 2000, p. 28.
[36] L. Giussani, “Comovidos ante o Infinito”, cit., p. 1.
[37] Cfr. Lc 1,48.
[38] R. Farina, “Judeus e cristãos ...”, entrevista com padre Gi-ussani, Libero, 22 de agosto 2002, p. 1; republicado com o título “O Ser é caridade”, Passos nº 33, outubro 2002, p. 86.
[39] L. Giussani, “Comovidos ante o Infinito”, cit., p. 1.
[40] Ibidem.
[41] Ibidem.
[42] Ibidem.
[43] Ibidem.
[44] Ibidem.
[45] R. Farina, “Judeus e cristãos ...”, entrevista com padre Gi-ussani, Libero, 22 de agosto 2002, p. 1; republicado com o título “O Ser é caridade”, Passos nº 33, outubro 2002, p. 86.
[46] Ibidem, p. 105.
[47] Cfr. Jo 3,16-21.
[48] Cfr. Rm 5,6-11.
[49] Gal 2,20.
[50] L. Giussani, “Comovidos ante o Infinito”, cit., p. 3.
[51] R. Farina, “Judeus e cristãos ...”, entrevista com padre Gi-ussani, Libero, 22 de agosto 2002, p. 1; republicado com o título “O Ser é caridade”, Passos nº 33, outubro 2002, p. 86.
[52] Ibidem, p. 107.
[53] L. Giussani, “Comovidos ante o Infinito”, cit., p. 2.
[54] Ibidem, p. 3.
[55] Rm 8,31-35.37-39.
[56] L. Giussani, “Fé em Deus é fé em Cristo”, in Exercícios da Fraternidade 1998, op. cit., p. 43.
[57] L. Giussani, “Attraverso l’umano”, in Avvenimento di libertà…, op. cit., pp. 54-55.
[58] L. Giussani, Affezione e dimora, op. cit., p. 96.
[59] L. Giussani, “Comovidos ante o Infinito”, cit., p. 3.
[60] Ibidem.

 
 

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