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EDITORIAL

O que aconteceu?

Pensem, e digam se não é um bom sinal. As pessoas saem surpreendidas de uma noitada, de um encontro entre amigos ou de um evento mais imponente e se veem todas tomadas, quase dominadas, por uma pergunta imprevista, daquelas que não se pode responder sem pensar: o que aconteceu? Não “quem tinha razão?”, ou “quem disse a coisa mais inteligente?”, ou outras expressões vazias que muitas vezes acabam por reduzir a vida a talk show, e a realidade a opinião. Mas algo mais simples, capaz de penetrar, do mesmo modo como penetrava nos corações dos primeiros discípulos quando se viam diante daqueles fatos inexplicáveis, porém inegáveis. Tinham acontecido. Estava diante de seus olhos. E os obrigava a se perguntarem: o que aconteceu? É um bom sinal quando fazemos essa pergunta. Porque ela respeita a natureza da razão que é, antes de tudo, abertura e maravilhamento – isto é, indagação – diante dos fatos, e a natureza do homem, que em sua origem está aberto a tudo e inclinado ao desejo de conhecer. Mas é um bom sinal também por outro motivo. Aquela pergunta respeita a própria essência do cristianismo. Antes, em alguns aspectos, é a única via de acesso ao cristianismo. Que é um fato, objetivamente. Algo que acontece. Se seguirmos seu fio condutor com lealdade, diante dos fatos imprevisíveis e evidentemente inexplicáveis, e acrescentarmos todos os fatores humanos que os constituem, se partirmos daquela pergunta, chegaremos necessariamente ao Mistério. Chegaremos a Deus, que age. Ao único fator que pode explicar aquele a mais presente naquilo que aconteceu.

MUITO BEM: É EXATAMENTE ESTA A PERGUNTA que chega do Cairo. Onde, há alguns dias, aconteceu um Meeting “filho” daquele que acontece em Rímini. Dois dias de encontros e mostras, tendo a beleza como campo de diálogo, em terras islâmicas. E organizado por muçulmanos, pessoas que vivem sua tradição, profundamente tocadas por uma amizade com pessoas que vivem o cristianismo profundamente. Chegando a torná-la carne e sangue, isto é, cultura. Se pensássemos nisso algumas semanas antes, diríamos: impossível. No entanto, aconteceu. E foi imponente. Tão imponente, a ponto de ser inexplicável, mesmo levando em conta toda a boa vontade e a capacidade daqueles que participaram. E de provocar em muitos – melhor, em todos – exatamente esta abertura: o que aconteceu ali? E quem tornou isto possível?

BASTA NÃO FECHAR ESSA PERGUNTA. Mantê-la aberta, diante do espetáculo de homens que levam a sério seus desejos de verdade e felicidade e encontram outros que vivem o mesmo desejo. Basta usá-la como lente que evidencie o conteúdo dos artigos desta edição. E de todos os outros que virão, e que já estão chegando, porque entre os traços inconfundíveis do Mistério há um que é impossível ao homem: o que Ele faz nascer, perdura. Realiza-se. Talvez com modalidades inesperadas (aliás, quase sempre com modalidades inesperadas), mas se realiza. “A fé cristã, amigos, parte dos fatos e, por isso, podemos dar razões dos fatos, não um genérico spérem”, lembrava Julián Carrón há algum tempo. “A fé parte de um fato que gera esperança, e esta esperança é cheia de razões por causa do fato acontecido.” Um fato. Basta segui-lo, onde e como acontece. Inclusive no Cairo.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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