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EDITORIAL

Um amor inabalável

É apenas uma linha, inserida em uma passagem na qual os olhos correm rápido e pode passar despercebida. Está no parágrafo 3 da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, antes que Papa Francisco comece a delinear os temas que tornam este um “documento programático”, cujo valor emerge em toda a sua grandeza à medida que é aprofundado. Escreve o Papa: “Ninguém pode nos tirar a dignidade que este amor infinito e inabalável nos confere”. Uma linha com poucas palavras. Pode ser interpretada como uma premissa óbvia, necessária ao “discurso” que vem depois, no qual fala da Igreja, da sociedade, da economia... Ou pode ser levada profundamente a sério.
No que consiste a nossa “dignidade”, o nosso valor? Naquilo que sabemos fazer, no resultado das nossas ações e capacidades? Ou, para os condenados nas prisões, no mal cometido? Ou, para todos, no fato de ser amados por Deus com um “amor infinito e inabalável”? Se esta última resposta for verdadeira, muda o nosso modo de olhar para nós mesmos? Tem incidência no nosso dia a dia?
Responder a isso é decisivo. Não só porque tudo aquilo que o Papa diz depois, de alguma forma, apoia-se exatamente sobre essa certeza, mas porque é necessário para a própria vida. É preciso uma consciência adequada do que somos, de onde está o nosso valor. Sobretudo nos momentos em que este valor nos parece efêmero, precário, dependente daquilo que acontece.

Estar em busca é sempre vertiginoso, pois a busca e o pedido coincidem com a nossa natureza, com o “como somos feitos”. Dom Giussani nos lembrava que “o verdadeiro protagonista da história é o mendicante: Cristo mendicante do coração do homem e o coração do homem mendicante de Cristo”. Antes de qualquer capacidade nossa, antes das coisas que conhecemos ou sabemos fazer, existe este fato que podemos redescobrir continuamente: somos feitos, queridos, amados por um Outro “com um amor inabalável”. Com os nossos talentos, os nossos temperamentos, e até mesmo as nossas fraquezas.
A “dignidade”, o nosso valor, está neste reconhecimento. Isto vale quando alguém enfrenta circunstâncias duras no trabalho, quando está desempregado buscando uma colocação, quando estuda ou cuida da família. Mesmo quando alguém se encontra atrás das grades (e, como podemos ler na reportagem, é possível descobrir-se humano justamente em um momento no qual percebemos toda a nossa fraqueza). Ou até mesmo quando decide dar um passo que contradiz todas os nossos esquemas de “sucesso”, como fez Bento XVI exatamente há um ano. O que parecia um ato de fraqueza está tendo a força de mudar toda a Igreja, pois se apoiava em uma consistência certa, serena. Como diz Francisco, “inabalável”.

Buscando ser um instrumento que testemunhe cada vez mais a vida de pessoas certas dessa Presença, para o ano de 2014 Passos terá algumas mudanças. Junto com a edição on-line (ww.passos-cl.com.br), outras formas de comunicação como Facebook e Twitter estão sendo desenvolvidas, trazendo conteúdos complementares à edição impressa.
Nosso convite, a você leitor, é que participe cada vez mais da construção da revista, relatando experiências próprias, compartilhando percepções e juízos sobre a realidade, enviando sugestões de artigos. A riqueza que acontece na vida de uma pessoa é ocasião para que todos possamos fazer a experiência de também nos sentirmos olhados e amados.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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