Essa pergunta do salmista, caríssimos amigos, nos vê reunidos, aos milhares, neste estádio, por ocasião da peregrinação anual de Macerata a Loreto, agradecendo ao Senhor pela conclusão deste ano (escolar e acadêmico) e para confiar a Ele, e à Beata Virgem lauretana, as nossas existências.
Embora “fisicamente” somos nós que caminhamos, não devemos nos esquecer de que, na realidade, é o Senhor que vem ao nosso encontro. Ele nos convocou aqui, esta noite, está presente com Seu corpo e Seu sangue, nos acompanha na caminhada, nos precede, nos segue e está sempre conosco.
Caríssimos amigos, só tem sentido caminhar se a gente tem um meta; e o cansaço é menos pesado se compartilhamos a estrada com outros irmãos. A peregrinação é, pois, uma clara imagem da nossa vida e da vida de cada homem.
Nós sabemos quem somos!
Nós sabemos em Quem cremos!
Nós sabemos – por graça, não por mérito nosso – que existe uma meta, um significado nessa experiência – única e maravilhosa – que chamamos de vida.
E esse significado tem um nome: Jesus Cristo!
Caminhando, cantando e rezando, nesta noite, queremos anunciar a todos aqueles que encontrarmos, e que caminham ao nosso lado, esse extraordinário fato: a vida tem um sentido, uma meta! O homem não está mais só, no cosmo. Deus vem ao seu encontro, ama-o e o salva, em Jesus, verdadeiro homem e verdadeiro Deus.
Caminhando, a cada passo descobriremos que o anúncio feito se concretiza: torna-se mais real, inclusive para quem anuncia. E não por uma pseudo “autoconvicção de massa”, mas porque a cada passo a liberdade adere a um anúncio, a uma proposta, e passo a passo, humildemente, se torna certeza em quem caminha e proposta em quem observa.
Elemento determinante, inclusive na compreensão autêntica do mistério da Eucaristia, é a obediência. Na noite da quinta-feira santa, antes de ser entregue aos seus crucificadores, “Jesus instituiu o Sacramento do Seu corpo e do Seu sangue, o Memorial do Seu sacrifício pascal. [...] o fez no seio de um rito, que determinou aos Apóstolos que perpetuassem, como sinal supremo do verdadeiro Sagrado, que é Ele próprio” (Bento XVI, Homilia, 7 de junho de 2012).
Há dois mil anos a Igreja obedece à ordem do seu Senhor, celebrando e adorando a Santíssima Eucaristia, verdadeiro “alimento de salvação” na caminhada da vida e da fé.
A obediência, na Igreja, é fonte de verdadeira liberdade, é a medida da sequela, é, no fundo, a medida da qualidade da nossa fé. Só uma fé obediente é fé autêntica!
A própria Tradição descreve a fé como “obediência àquela forma de ensino à qual nos entregamos”. O Catecismo da Igreja Católica diz: “A Virgem Maria realiza da maneira mais perfeita a obediência da fé” (CCC n. 148).
Para nós todos, a sequela e a obediência têm um “ponto focal” irrenunciável, para o qual olhamos constantemente, e ao qual, convictamente, renovamos toda a nossa devoção: Pedro, Sua Santidade Bento XVI.
Caríssimos amigos, sei que, com os seus sacerdotes, vocês cuidam com carinho da celebração eucarística, particularmente do canto, autêntica expressão de beleza e de identidade para um povo, e isso é digno de louvor.
Rogo que descubram, também, oportunamente guiados, a dimensão da Adoração eucarística, seja como indivíduos, seja como Movimento. Ela, no passado, chegou a ser interpretada, por alguns, como uma tentação de “fuga da realidade”, de não pleno envolvimento na e com a história.
Hoje, ao contrário, compreende-se claramente que a Adoração eucarística não é nenhuma “fuga” da realidade, mas verdadeira e própria imersão na realidade por excelência, que é Cristo. É o que nos ensina o apóstolo Paulo na Carta aos Colossenses: “a realidade é o corpo de Cristo” (2,17).
Mergulhando na Adoração e fazendo silêncio na presença de Jesus-Eucaristia torna-se mais evidente a Sua presença no mundo e mais simples servir à Sua glória e mostrar o Seu poder! Ele se torna mais reconhecível na nossa vida, na dos amigos e, sobretudo, na de qualquer homem que a Providência coloque em nosso caminho e do qual somos chamamos a ser “mães e pais” na fé.
Como indica, eficazmente, o tema desta 34ª Peregrinação, “Cristo é algo que está acontecendo agora”; Ele “acontece” sobretudo na celebração eucarística e isso permite desde sempre ao povo cristão reconhecer a Sua presença em qualquer outra realidade, inclusive naquela aparentemente mais remota.
Por que “algo” e não “alguém” está acontecendo agora?
Poder-se-ia objetar que Cristo é uma pessoa e, portanto, “alguém”.
Certamente que Ele é uma pessoa, mas, ao escolher o termo “algo”, pretendeu-se sublinhar o elemento “factual” de Cristo. Cristo é um fato na história da humanidade, aliás é o fato mais envolvente, relevante e significativo da história.
E está presente, acontecendo agora.
Se assim não fosse, Cristo não seria interessante para nós, porque vivemos por algo que está acontecendo agora!
Não basta uma bela lembrança para a gente viver.
Não basta a expectativa, a esperança de um bom futuro.
É necessário ter algo presente, que em toda a sua evidência nos pareça carregado de razões para a liberdade e capaz de determinar – não apenas suscitar, mas determinar! – a nossa autêntica afeição.
Só Cristo presente, celebrado e adorado na Eucaristia e publicamente reconhecido nessa vitória, nessa glória de Cristo no mundo que é o povo, é uma razão suficiente para a gente viver e esperar, para agradecermos e continuarmos caminhando juntos.
Toda Eucaristia celebra o sacrifício e a vitória de Cristo, e O torna contemporâneo a nós. Em cada Eucaristia somos chamados a mergulhar nessa nova realidade, que “dá à vida um novo horizonte e, com isso, a direção decisiva” (DCE n. 1).
Nestes tempos nada simples para o nosso país e para a Europa, nestes tempos de insegurança e de terror, quando até as forças da natureza parecem recordar dramaticamente ao homem pós-moderno a sua estrutural limitação, pedimos a simplicidade de coração para podermos reconhecer “o que está acontecendo agora”. Não daqui a pouco, não esta noite, não amanhã cedo, mas Agora!
Está acontecendo o milagre da sua liberdade que está aqui, presente, e da liberdade do outro que, como você, está disposto a se colocar totalmente no jogo.
“Não esperem um milagre, esperem um caminho”, chegou a dizer mons. Giussani. Esse caminho, para e em Cristo, nós o confiamos à Beata Virgem lauretana, perfeitamente obediente na fé e na provação, fortaleza inexpugnável, do que está acontecendo agora!
(Homilia durante a missa no estádio Helvia Recina, em Macerata. Sábado, 9 de junho de 2012)
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