“Mãe, não esquece de colocar na bolsa o papel com as intenções a São José que sua amiga me deu. Está em cima do banco”. Olhando pela janela do carro as colinas suaves do Var, em Provença (França), lembro-me das palavras sonolentas do meu filho esta manhã. Nunca deixa de pedir, por si e pelas pessoas de quem gosta. Com o passar dos anos, o pedido, a oração muitas vezes é feita carregada de humilde afetividade. Hoje, também é assim em Cotignac, o único lugar, reconhecido pela Igreja, onde em 1660 São José apareceu fazendo brotar uma fonte de água milagrosa. Será um dia com ele e com as irmãs beneditinas de clausura, que vivem no convento ao lado do santuário desde 1977.
“Já estamos chegando”, diz Adele, minha acompanhante e motorista, que deu origem a essa viagem. Há cinco anos, quando soube da aparição, ela e algumas amigas da Fraternidade São José (companhia vocacional que nasceu do carisma de Dom Giussani que reúne pessoas chamadas a viver a virgindade continuando a morar e trabalhar onde estão; ndr), foram até lá em peregrinação e conheceram as irmãs. Antes do verão, ela me disse: “Vamos visitar as irmãs duas vezes por ano. Levamos a elas os livros de Dom Giussani. Para nós, são sempre um auxílio. É uma amizade querida. Você precisa conhecê-las. Nós acompanhamos você até lá”.
E aqui estou, com essas seis companheiras de viagem, que eram desconhecidas até hoje. A cidade fica para trás, enquanto pegamos uma estrada estreita ladeada por vinhedos. E depois de uma curva dentro do bosque, no meio da montanha, aparece o “Mosteiro la Fonte Saint Joseph du Bessillon”. Mais alguns minutos e chegamos. Alguns peregrinos saem da igreja. “Esta é a fonte”, me diz Irene. Quase no nível do chão na frente da porta do mosteiro há uma torneira no muro, onde está escrito: “Beba com alegria na fonte da salvação” (Isaías, 12,3). Atrás, em um nicho, a imagem de São José e ao lado uma cestinha com pequenos papéis para escrever as intenções. É tudo muito simples, essencial, muito pobre, eu diria. Mas não é a palavra correta. O silêncio é impressionante, não oprime.
No mosteiro, a irmã que ficará algumas horas conosco, até a oração das Vésperas, nos espera. Assim que vê as amigas, sorri feliz, abraça cada uma chamando-as pelo nome. Pergunta por aquelas que não vieram. “Como vai?”, pergunta Adele. “Há pouco tempo fizemos os Exercícios, e o tema foram as virtudes: sobretudo a humildade, que é fundamental para São Bento. É difícil”. “Por que?”, pergunto. “A humildade é uma virtude que é preciso nascer novamente em todos os momentos, pensamos que já a alcançamos, porém, é preciso sempre ir além. A humildade é a pobreza completa. Quer dizer, ser simples receptores do amor de Deus. Somos gestores dos dons de Deus”.
Essa irmã, que me pede para não citar o nome dela, tem um olhar vivo, transparente. “Não é importante, acredite. Não somos nós que devemos aparecer”. Conta-me a história da sua vocação. A sua história. Vivia na região de Paris. Formada em Filosofia, foi professora de letras durante 13 anos. “Era uma boa professora, mas entendia que era pouco aquilo que eu podia fazer pelos outros, mesmo dando o máximo de mim. Desde pequena, senti o chamado de São Bento”. Em 1979 chega a Bessillon onde, dois anos antes tinha chegado uma comunidade de 13 irmãs beneditinas que, por problemas de segurança, com a aprovação da Congregação romana dos religiosos, precisaram deixar o convento de Medea, na Argélia. É a primeira noviça. “Por causa da Revolução Francesa, o convento foi abandonado e por isso estava em péssimas condições. Era preciso reconstruí-lo. Muitos benfeitores nos ajudaram. Lembro da oferta que um camareiro de Marselha nos enviava todo mês. Um famoso arquiteto, Fernand Pouillon, ofereceu seu trabalho gratuitamente, e manteve-se fiel ao projeto inicial. Disse-nos que foi sua obra mais bonita”.
O que São José e São Bento têm em comum? “Ambos amam o silêncio, o serviço, o amor a Cristo na total humildade. O anonimato de São José é o ideal de São Bento. A total humildade. Por isso, são dois pais: um é protetor da Igreja, o outro, da Europa. Em Medea havia uma imagem de São José. E ninguém sabia da aparição. Ele nos levou a Cotignac. E São José nos fez encontrar o Movimento de vocês”. Depois, olhando para minhas amigas, disse: “Quando conhecemos vocês compreendi que não eram peregrinos como os outros. Havia uma busca espiritual muito profunda, um amor à Igreja que nos unia. E, depois, vocês trouxeram os livros de Dom Giussani”. O que tocou vocês? “O senso do humano, o homem”.
A irmã que acompanha as noviças e conhece bem o italiano usou É Possível Viver Assim? para suas aulas. “Percebeu que as irmãs amavam muito esse livro porque ninguém fala da liberdade do modo como Giussani fala”. E para ela? “Eu tinha curiosidade e, então, li Educar é um Risco: foi um golpe fulminante. Nunca li um livro assim. Agora, li O Senso Religioso. Para mim, a intuição fundamental é a contemporaneidade de Cristo. Como na regra de São Bento. Do mesmo modo, Giussani propõe um caminho. Um caminho de fé”. Para um instante e olha para a imagem de Bento XV pendurada na parede. “Olha, eu ouço o Papa e, depois, leio Dom Giussani: os dois dizem a mesma coisa. É impressionante. Esse Papa sempre me impressiona”.
O Papa, há pouco, anunciou o Ano da Fé: que significado isso tem para vocês, irmãs de clausura? “Significa aprofundar a nossa vocação. É preciso se converter todos os dias. A conversão é chegar a viver da fé”. Não me basta. Eu quero entender mais. O que quer dizer viver da fé? “Tentar ver as pessoas, os acontecimentos, o mundo com o olhar de Cristo. É um caminho que não nos deixa tranquilos. É isso que o Papa nos pede. Em um mosteiro contemplativo como o nosso, significa dar a Deus tudo de nós para que outros recebam a sua graça. Podemos tocar o Mistério com as mãos. Ele se inclina. Algumas vezes, Deus nos dá glória porque algumas pessoas nos escrevem agradecendo nossas orações. Mas de nossa parte, tudo é gratuito. Os outros podem “aproveitar” somente se vivemos essa liberdade. Por isso, precisamos das orações de vocês”. Suas palavras são vertiginosas e, ao mesmo tempo, tão concretas que é impossível não pensar em como elas estão dentro do mundo. “Com licença, agora vou chamar a madre superiora, que quer cumprimentar vocês. Deixei algo para beberem na bandeja”.
“Que rajada de pedidos”, me diz Irene, minha intérprete. É verdade. Pede-se de tudo. Depois de cinco minutos, a madre superiora chega. Olha para Giovanni, o fotógrafo, que não para de clicar. “É uma metralhadora!”, exclama, rindo. Ele também ri. Entendo isso. A energia desta mulher, que é uma das irmãs que vieram da Argélia, impressiona. Sou apresentada. Ela me diz: “Em Tracce (a versão francesa de Passos) li com muito interesse sobre as eleições americanas. Precisamos estar informadas sobre o que acontece no mundo. Nós não temos muito tempo para ler. Temos o Observatório Romano e... Tracce”. Depois, pega os livros de Giussani em francês que trouxemos. Abre Em busca do rosto do homem e tem um sobressalto: “A ascese: o drama da afetividade. Isso é fundamental! Rezava há um tempo pedindo para encontrar alguém que falasse sobre este tema”. E comenta. “Falo do ponto de vista cristão. Durante muito tempo a afetividade permaneceu fechada dentro da moral do dever, reprimida, no que diz respeito à igreja francesa dentro de uma ótica jansenista. Com Santa Terezinha, passou-se deste tipo de moral para a atração por Deus. Deus nos deu um coração para que o sirvamos, para que manifestemos o seu amor. Entendo porque Pio XI definiu Santa Terezinha como a maior santa dos tempos modernos. Hoje, ao contrário, caminhamos para uma afetividade que não se pode controlar. Você entende porque é tão importante o que Dom Giussani escreveu?”. Entendo. Nosso tempo termina. A campainha anuncia a hora das Vésperas. Encontramos-nos na igreja. Aqui também tudo é essencial. O mármore do altar e o tapete foram trazidos da Argélia pelas primeiras irmãs. Em um nicho, a imagem de São José mais antiga de Cotignac. Do lado de fora da grade, escutamos o canto das Vésperas em gregoriano. O silêncio enche-se de oração. Da minha também, mesmo sem abrir a boca.
Na manhã seguinte, voltamos. A mesma irmã nos recebe com dois grandes álbuns cheios de fotos: é a história delas, de Medea a Cotignac. Os trabalhos de reestruturação, a consagração, os parentes, os amigos, os benfeitores que aos poucos foram morrendo. Folheando o álbum, vejo uma foto da francesa Régine Pernoud, especialista em Idade Média. Muitos peregrinos vêm ao santuário? “Chegam de toda a França e de outros lugares também. Entre junho e setembro, todos os finais de semana acontecem as peregrinações dos pais, das mães, dos casais que não conseguem ter filhos, daqueles que ainda não encontraram sua vocação, dos avós. Nós os vemos chegar em procissão. É uma bela tradição. Todos deixam os próprios pedidos escritos. Porém, queremos deixar uma coisa clara: nós não organizamos nada. Se batem no convento e nos pedem, falamos da aparição. Nossa obra é outra”. Qual? “Na regra de São Bento está escrito: não antepor nada à obra de Deus e não antepor nada ao amor de Cristo. Portanto, a obra de Deus é Cristo. E Cristo está no centro da nossa vida. A liturgia da Igreja O torna presente 24 horas em 24. Por isso, o nosso dia é cheio de oração. Dedicamo-nos ao trabalho cerca de cinco horas distribuídas durante o dia. Agora, com você, estou trabalhando! É uma bela ocupação”. O tempo “laborativo” termina. Despedimo-nos. Vejo-a uma última vez na missa.
Antes de ir embora, diante da imagem de São José, escrevo meus pedidos. Dou-me conta de que são muitos. Confio-lhes todos.
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