No último mês, refletores e câmeras, do mundo todo, se voltaram para ela: não é uma pessoa mas, sim, um lugar. Lugar cuja forma tem características tão extraordinárias a ponto de entrar para a restrita categoria dos lugares “globais”. A referência é à Praça de São Pedro, epicentro de uma atenção midiática mas, também, ponto de convergência da espera e da esperança de milhões, talvez bilhões de homens. Como acontece frequentemente, lugares assim, tão familiares aos olhos de todos, parece que existem desde sempre; esquece-se que têm uma história, que são o fruto não apenas de uma genialidade, mas também de uma genialidade que teve que abrir caminho entre mil oposições, declaradas ou não, e entre problemas técnicos de fazer tremer as bases.
A genialidade de Gian Lorenzo Bernini imaginou e depois realizou a Praça de São Pedro, escultor máximo de sua época, “reinventado”, por um Papa não menos genial que ele, como arquiteto e urbanista para redesenhar a imagem de Roma. Foi Urbano VIII, Papa Barberini, que desenterrou Bernini e o obrigou a sair do estúdio onde estava submerso por encomendas de toda a Europa. Depois dele, também Alexandre VII (1655 – 1657) e Clemente IX (1667 – 1669) o convocaram confiando-lhe a ambiciosa tarefa.
A estratégia de Urbano VIII é hoje olhada como comunicação do poder e fausto do papado. Na verdade, porém, obedece a uma lógica muito mais interessante e profunda: no momento em que a cultura protestante concebia uma arte voltada ao privado, tanto nos temas como nas dimensões (Vermeer foi o mais genial e profundo intérprete deste “recuo”), Roma reagiu com uma estratégia radicalmente oposta: a arte tem uma função pública, que deve viver fora dos muros, deve ser o mais visível possível.
Portanto, nada de segredo, de escondido (nisto a arte comunica também os traços da fé católica: universal e aberta para o mundo). Esta é a ideia que fez a beleza de Roma, que a plasmou, desenvolvendo soluções urbanísticas que não tem comparação na História. A Praça de São Pedro se enquadra perfeitamente nesta estratégia da qual é, em certo sentido, o ponto alto. Bernini teve que enfrentar o tema daquela enorme esplanada sobre a qual se erguia a fachada da nova São Pedro: uma fachada muito horizontal que Bernini define com um adjetivo que diz tudo: “agachada”. Dali fez partir a assim chamada “praça reta” que, com sua forma apenas sugestiva de trapézio, tem o efeito de abrir e de imprimir um dinamismo às linhas demasiado “sentadas” da fachada.
Depois da “praça reta” desenhou aquela maravilhosa oval de 198 por 148 metros, circundada pela imensa colunata de quatro ordens (284 colunas e 88 pilares), sobre a qual sobressai a longa fila de 140 estátuas de santos, cada uma correspondendo a uma fileira de colunas.
São muitíssimas as sutilezas óticas às quais Bernini recorre para manter a harmonia nessa praça na qual concorrem, com grande energia, forças centrípetas mas, também, forças centrífugas (a oval sugere um impulso para fora). Por exemplo, à medida que se passa às ordens externas e, portanto, com “voltas” mais largas, as colunas aumentam, gradualmente, de circunferência de modo a manter inalterados ritmos e proporções. A ênfase do desenho encontra, pois, elementos de “resfriamento” pela escolha da ordem dórica (nos capitéis) e jônica para o entablamento que complementam a ordem coríntia, usada por Maderno para a fachada.
Além disso, Bernini mantem o plano ligeiramente inclinado, um artifício que permite hoje, à multidão, uma grande visibilidade, não somente em direção à janela da Bênção como também de si mesma. Isto é o que disse um historiador da Praça São Pedro “a multidão se vê”.
Mas nada melhor do que esta declaração de objetivos de Bernini dá ideia da beleza e do sentido de sua praça: “A igreja de São Pedro, quase matriz de todas as outras, deve ter um pórtico que justamente demonstre receber de braços abertos, maternalmente, os Católicos, para confirma-los na fé; os Heréticos, para reagregá-los à Igreja; e os Infiéis para iluminá-los com a verdadeira luz”.
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