Na liturgia de hoje temos muitos motivos para agradecer a Deus. Em primeiro lugar, o fato de ter nos reunido aqui para o encontro com os amigos que durante o meu ministério eu pude acompanhar, seja aqui no Rio de Janeiro, seja em Petrópolis e em outros lugares. Mas hoje estamos celebrando como motivo principal a ação de graças pela Jornada Mundial da Juventude. E também, sendo a primeira sexta-feira do mês, estamos celebramos a misericórdia do Senhor, a misericórdia de Jesus, nosso Deus e nosso salvador. Queria contar muitas, mas o que vivemos nesses dias na Jornada Mundial da Juventude foi uma coisa tão extraordinária que não podemos deixar de ficar admirados diante da graça que nos foi dada e que vivemos particularmente aqui em Copacabana. Na mensagem que o Papa Francisco nos deixou, nós temos vários pontos que nos ajudam a reviver a experiência do Movimento Comunhão e Libertação, o carisma de Dom Giussani, na sua forma mais profunda, mais viva.
Em primeiro lugar, quando o Papa fala da experiência da fé do encontro com Jesus. Antes de todos os discursos, o que nós vivemos na praia de Copacabana foi exatamente o abraço de Cristo. Cristo nos visitou. O Senhor nos visitou. O Senhor ficou perto de nós, manifestou o seu amor, manifestou a sua misericórdia, a sua bondade. Foi um dom de Deus para todos nós, nas medidas e nas formas que nós nem imaginávamos. O ponto de partida é o dom de Cristo, é a graça de Cristo.
Na experiência do Movimento nós sempre afirmamos que tudo nasce de um encontro. Tudo nasce de um encontro que nos surpreende, que nos maravilha, que nos enche de gratidão, que nos enche de certeza. E olhando vocês que estão aqui, cada um de nós pode se lembrar do encontro que fez. O momento e todas as circunstâncias nas quais – através de mim, do padre Giuliano, do padre Enrico, do padre Paulo e de outros amigos – o encontro com Jesus foi uma experiência extraordinária na nossa vida. No início não teve um bom propósito nem uma grande ideia, nem uma decisão de ser melhores na vida moral, como afirmava o Papa Bento XVI. No início, é simplesmente o fato de um encontro que nos toca e que não pode ser cancelado. Assim acontece na nossa história. A nossa amizade nasce de um encontro que não pode ser cancelado. E o que vivemos aqui tem em comum ser uma manifestação forte e bonita de Deus que nos visita e que está no meio de nós. Esta é a experiência que me tocou, a experiência da proximidade de Deus, a experiência da familiaridade Dele, da misericórdia Dele para com todos nós.
Em segundo lugar, a experiência de ver três milhões e meio de jovens nos remete a outra coisa que na vida do Movimento sempre nós aprofundamos: o valor do sinal da unidade. Três milhões e meio de pessoas, ou duas pessoas que vivem na consciência da presença de Cristo realizam no mundo uma coisa nova, uma coisa extraordinária. Podem ser três milhões e meio, podem ser duas – como éramos eu e padre Giuliano quando chegamos aqui –, porque no meio de nós está a presença do Senhor, o motivo da unidade, algo extraordinário, muito maior que nós. Pode ser uma coisa tão grande como os três milhões e meio, pode ser uma coisa simples, mas quem a vive percebe que existe alguma coisa que é para toda a vida. Não é só para um momento, não é só para o momento dos colegiais, o momento da juventude. Vocês que agora começam a ser adultos, a ter filhos, a formar família, veem que esta experiência dura para sempre. Nestes dias da Jornada, quando fiz a minha catequese na paróquia de Nossa Senhora de Copacabana, depois da minha palestra veio um jovem de Brasília e me falou: “Dom Filippo, tem 10 anos que estou no meu grupo de paróquia e de vez em quando eu desanimo, de vez em quando fico triste, fico perdido, mas vendo que o senhor com a sua experiência, com a sua idade, está mais entusiasmado que eu, vejo que a promessa do Senhor é para sempre”. É para sempre! O encontro não é obra nossa, a nós cabe seguir. A nós cabe dizer sim a toda essa coisa, se não fica apenas o fato exterior, não o fato nosso de reconhecimento da presença Dele. Então, podem ser três milhões e meio, ou duas pessoas, ou três, ou cinco, ou um grupinho que começa – como começou um grupinho do Movimento lá no Cabral, depois um grupinho na paróquia, um grupinho na UFRJ – é a mesma coisa porque contém a presença extraordinária de Cristo. O Papa Francisco dizia: “vocês são o campo de Deus”. Então, é importante cuidar do sinal, é importante cuidar da vida comum como o sinal da presença que nasce do reconhecimento da presença de Cristo. Aquilo que Carrón sempre nos diz: o trabalho de cada um de nós, o desejo de cada um de nós, que se traduz em atenção ao sinal da unidade. O sinal da unidade como fato precioso.
O Papa dizia, quando celebramos a Via Sacra: “Só em Cristo morto e ressuscitado encontramos salvação e redenção. E você como é [o nosso sim a Ele]? Como Pilatos, que lavou as mãos diante do Senhor? Ou como o Cirineu, como Maria e as outras mulheres que não tiveram medo de acompanhar Jesus até o final, com amor e com ternura?”. Nós somos o campo da fé de Deus. Então, o sinal é construído por cada um de nós. Não nasce automaticamente, não vive se a gente não cuida desta experiência. O reconhecimento do Senhor produz uma familiaridade, produz uma unidade. Então, o sinal da unidade em qualquer lugar, entre os bispos, entre os amigos, entre os colegas, não pode ser um sinal esfacelado, mas um sinal que se edifica, que se cultiva, que se leva pra frente. Não como Pilatos, mas como Maria e as mulheres fiéis, e um trabalho pessoal é o segredo para isso.
E depois, outro aspecto muito importante que o Papa nos indicou foi: “Nós não podemos ficar fechados na paróquia, nos movimentos e nas novas comunidades. Não podemos ficar fechados. Precisamos ir às ruas”. Esta é a questão. Eu falava isso em Petrópolis, falo em Taranto: “Precisamos gastar as solas do sapato”. Precisamos comunicar, ir às ruas, ir com coragem às ruas. Porque sempre nos foi dito sobre a importância do ambiente. A fé se vive no ambiente. Na paróquia e no grupinho, a pessoa se alimenta da palavra de Deus, na Escola de Comunidade, mas é no encontro com outras pessoas que a beleza da fé, como uma chama, arde e cresce. Então, temos que reaprender a viver como está na base do nosso carisma, essa presença viva no ambiente.
Na minha missão em Taranto, tem uma grande siderúrgica, a maior da Europa, que dá emprego para 20.000 pessoas. O Juiz mandou fechar porque poluía o ambiente. Aí eu defendi contra a poluição, mas também fiquei perto dos operários. E na fábrica me diziam: “Obrigado, porque fazemos esta batalha pelas nossas famílias, pelos nossos filhos, e a Igreja está perto de nós”. Somos chamados a viver a presença dentro da sociedade, dentro do ambiente, na vida pública, na escola, a presença na vida cotidiana, porque Jesus nos chama para estar dentro da vida, para estar dentro do grupo com a novidade que Ele nos dá.
E a este terceiro ponto está ligado também a atitude de simplicidade do Santo Padre. Atitude de simplicidade, de despojamento, de pobreza, de humildade. Dom Giussani sempre dizia: na faculdade devem ser amigos dos seus colegas, de qualquer credo e religião eles sejam, porque somente através da proximidade do amor se entende, não se entende através de um discurso, mas através da proximidade. E como Jesus ficou perto de mim, eu fico perto do outro. Mas também em casa, na família, é como Cristo que diz: Vem. E assim você quer bem ao seu esposo, à esposa, e assim no mundo: a simplicidade, o despojamento, vivendo o essencial, o ser amigos. Então, nesta mensagem que nos foi dita, ele nos envia: “Ide, sem medo, para servir”. Servir, porque o Senhor nos manda anunciar a sua presença, o seu amor.
Assim, caríssimos amigos, o dom desta minha visita a vocês é dentro do dom maior que foi esta Jornada Mundial da Juventude que coloca a nossa experiência de Movimento dentro do grande coração da Igreja. Encontrando qualquer pessoa, e ficando perto de qualquer um, assim como eles são, e com simplicidade. Em Petrópolis, no Morro dos Anjos, na creche onde trabalha a Carminha, quando eu fiz o primeiro encontro com as crianças elas fizeram uma grande festa. E eu quis me encontrar com as mães delas. E elas chegaram. Ali é um lugar paupérrimo, e contaram das dificuldades, dos sacrifícios. Fizemos uma proposta e começaram a fazer costura, a vender camisetas, bolsinhas, e começaram a ter um resultado. Depois de seis meses eu fui lá e elas me disseram: “Obrigada porque começamos a ganhar alguma coisa a mais, mas sobretudo o seu convite nos abriu a um momento de Escola de Comunidade que fazemos depois. E nos abriu a ter confiança em nós mesmas [a confiança: eu tenho valor, a minha vida é importante, pode fazer alguma coisa grande a partir do encontro feito]. E, depois outra coisa, senhor Bispo: quando viemos aqui o senhor não nos perguntou se íamos à missa, se éramos católicas, se éramos bem casadas, simplesmente nos acolheu”. É assim. Esta é a grandeza do encontro: uma Igreja que acolhe, assim como nós fomos acolhidos e enviados, o Senhor nos quer bem mais uma vez e nos acolhe.
* Dom Filippo Santor é Arcebispo de Taranto (Itália).
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