Papa Francisco é um rio transbordante. Ele não se cansa de comunicar o que vive, a superabundância de um relacionamento que o torna livre e alegre, cheio de vida. Portanto, é inevitável que muitos, de uma forma ou de outra, procurem fazer-se intérpretes do seu pensamento. Sinceramente, sinto um certo temor em definir algo a respeito desse homem que nos supera de todos os lados.
Frequentemente ouvimos dizer: “O Papa quer dizer isso...”, “O traço característico desse Papa é este..”. Vaticanistas, jornalistas, teólogos, todos evidentemente buscando desenvolver da melhor forma possível o próprio trabalho, talvez querendo realizar “a descoberta” do ano.
Querer “explicar” Papa Francisco é realmente uma tarefa difícil porque quanto mais uma pessoa que é colocada diante de nós mostra a sua irredutibilidade, a sua originalidade, poderíamos dizer o seu ser pleno de Espírito Santo, menos se pode “compreendê-la”, no sentido de fechá-la em definições, em explicações. Deveríamos aprender com o povo simples, como o Papa nos mostrou e como podemos observar aqui no Brasil, indo a Aparecida: aquilo que o povo simples mais deseja é olhar, tocar para ser curado, aprender, “ficar com ele”.
A coisa mais imponente que vejo em mim é o nascimento e o desenvolvimento de um diálogo. Todos os dias tenho a possibilidade de estar diante de algo que esse homem me diz, e tenho a possibilidade de me deixar provocar, de conhecer coisas novas e de ver entrarem em crise outras, talvez já um pouco envelhecidas. As suas homilias matutinas na capela de Santa Marta são para mim um exemplo desse diálogo onde me descubro olhando, sendo provocado, um pouco como os apóstolos quando estavam com Jesus nos momentos normais da vida, como quando, por exemplo, ele nos falou do maravilhamento:
“O maravilhamento é uma grande graça, é a graça que Deus nos dá no encontro com Jesus Cristo. É algo que faz com que fiquemos meio fora de nós mesmos por causa da alegria... não é um mero entusiasmo”, como aquele dos torcedores, “quando o próprio time vence”, mas “é algo mais profundo”. É fazer a experiência interior de encontrar Jesus vivo e achar que isto seja impossível: “Mas o Senhor nos faz entender que é real. É belíssimo!”. Depois do maravilhamento, portanto, vem o consolo espiritual e no fim, “último degrauzinho”, a paz. “Sempre, mesmo nas provações mais dolorosas, o cristão não perde a paz e a presença de Jesus” e “com um pouco de coragem” pode pedir: “Senhor, dá-me esta graça que é a marca do encontro contigo: o consolo espiritual” e a paz. Uma paz que não se pode perder porque “não é nossa”, é do Senhor; a verdadeira paz “não se vende nem se compra. É um dom de Deus”, por isso – conclui o Papa – “peçamos a graça do consolo espiritual e da paz espiritual que começa com esse maravilhamento de alegria no encontro com Jesus Cristo. Assim seja”. (04/04/2013)
“Tamquam scintillae in arundineto”, diz a Bíblia no Livro da Sabedoria, os justos serão como fagulhas no meio da palha. Lembro uma coisa que aprendi com Dom Giussani, quando nos dizia que num diálogo “aquilo que deve permanecer são as fagulhas: elas precisam ser agarradas como vaga-lumes nas mãos de um menino”. Nesse diálogo feito de tantas expressões, palavras, pensamentos, acontecem essas “fagulhas”, momentos nos quais fui e sou especialmente tocado, momentos de correspondência que chegam até o coração e que geram uma amizade e uma filiação imprevista. Essas “fagulhas” poderiam depois desaparecer no nada, como tantas coisas bonitas que nos tocam. Por isso não basta vê-las, diz Dom Giussani, “precisam ser agarradas como vaga-lumes nas mãos de um menino”. Então, é necessário um trabalho, é necessária a minha humanidade, é necessária a minha simplicidade para que se tornem experiência. E assim vejo que caminhamos juntos e, como sempre diz Papa Francisco, se vai avante!
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