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OS FATOS

Sinal de contradição. Um Papa que revela os pensamentos escondidos nos corações dos homens

por Marco Montrasi
26/01/2015

Artigo inicialmente publicado no Site Terre d'America, de Alver Metalli, no sábado 24 de janeiro de 2015.

No Evangelho, o velho Simeão diz a Jesus que Ele será “sinal de contradição porque revelará os pensamentos dos corações”. Isso se parece um pouco com o que está acontecendo com o Papa Francisco. Um homem de quase 80 anos que fala, quotidianamente, a milhões de pessoas, ou seja, interage com uma quantidade impressionante de inteligências e sensibilidades. Na atual época em que vivemos, assim tecnológica, nunca houve uma forma de comunicação tão massiva. Uma palavra que, num curto espaço de tempo, chega a milhões de pessoas, provocando reações.

Todos os dias, o Papa se expõe ao julgamento de todos, e é surpreendente a liberdade com a qual o faz. Ele arrisca e confia na liberdade da pessoa que o escuta. É preciso ter muita coragem, pensei comigo, mas a coragem sozinha não seria suficiente. Ele realmente acredita no Espírito Santo. E, à medida que o tempo passa, torna-se evidente que, dentre estas milhões de pessoas, existem tantas que aguardam suas palavras para poder analisá-las microscopicamente, a fim de encontrar passos em falso e contradições, que seriam logo divulgadas para suas redes de contatos. Como na época de Jesus, a um certo ponto, Ele decidiu se expor para que fossem revelados os pensamentos dos corações. Para que se revelasse aquilo que o público já tinha decidido pensar, colocando à prova aquela abertura de coração única, que faz com que nos deixemos surpreender.

Não poderei nunca compreender ou conhecer novidade que venha de Deus se não estiver disponível a essa abertura. Talvez seja por isso que o Papa nos exorta a olhar os pobres. Convida-nos não só a dar, mas a estar dispostos a receber, a ser evangelizados por aqueles que gostaríamos de evangelizar. Como ele mesmo disse no belíssimo discurso aos jovens nas Filipinas: “Somente uma coisa te falta. Isto é o que nos falta: aprender a mendigar daqueles a quem damos. Não é algo fácil de entender: aprender a mendigar. Aprender a receber da humildade daqueles que ajudamos. Aprender a sermos evangelizados pelos pobres”. Essa é a verdadeira luta, pois é muito difícil ser simples.

É interessante procurar os vídeos dos discursos do Papa mais criticados por alguns jornalistas, como, por exemplo, a última coletiva de imprensa no avião que regressava de Manila, na qual se falou dos católicos e de filhos. Assistindo com atenção, é possível perceber uma mensagem muito simples, razoável, cuja síntese é a paternidade responsável, conceito que o Papa posteriormente aprofundou em outro discurso. Um homem de bom senso entende logo o significado daquilo que o Papa queria comunicar. Mas, se temos outras ideologias em mente, se já somos previamente do contra, podemos extrair uma frase e mudar todo o sentido do discurso. Aquilo que o mal procura não é, antes de tudo, a dor física; o mal pretende separar; trabalha para dividir aquilo que é unido. Nos últimos dias tenho visto muitas pessoas que, lendo comentários ou artigos que criticam duramente o Papa, ficam confusas e começam a duvidar, e é aí que mora o mal. É preciso estar atentos, julgar e ler bem, antes de tudo, o que diz o Papa e, também, aquilo que pessoas com más intenções escrevem dele. Assim, evitamos as armadilhas que tendem a nos afastar de quem é pai.

O Cardeal Tagle, no agradecimento final durante a missa na catedral de Manila, disse: “Vossa Santidade traz fogo, não para destruir, mas para purificar. Traz o terremoto, não para devastar, mas para acordar. Verdadeiramente, és Pedro, a rocha sobre a qual Jesus construiu a Sua Igreja. És Pedro, que vem dar força aos nossos irmãos e irmãs na fé. Seja bem-vindo, sucessor de Pedro, nesta terra abençoada por esperança incansável, música infinita e fé alegre. Com a Vossa visita, entendemos que Jesus renovará e reconstruirá a Sua Igreja nas Filipinas”.

O Papa escolheu este modo de comunicar, este modo de fazer com que conheçamos ainda mais Cristo e a nossa humanidade. Falando informalmente, ele muitas vezes diz “eu penso isso, talvez seja assim”, ou seja, fala como alguém que pode estar errado. E, no final das contas, vejo que quem não se escandaliza com esse modo e o segue com simplicidade é contente. Ao contrário, quem está ali aguardando passos em falso e tenta afastá-lo do seu povo, é nervoso e, provavelmente, triste.

Eu estou com o Cardeal Tagle: Tu és Pedro e, seguindo-te, sabemos que Jesus renovará e reconstruirá a Sua Igreja.

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