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OS FATOS

Amar Jesus através do carisma

por Dom Filippo Santoro
27/03/2015 - Texto sobre a Audiência do Papa Francisco com CL, publicado em “Il Sussidiario.it”, dia 18 de março de 2015
Dom Filippo cumprimenta Papa Francisco.
Dom Filippo cumprimenta Papa Francisco.

Como bispo interpelado por muitos amigos, manifesto a minha gratidão ao Santo Padre pelo convite a não reduzir o carisma de Comunhão e Libertação a etiqueta, a cinzas, a método autorreferencial, a sermos meros empresários de uma ONG. É verdade que, em meio à confusão geral, crescemos seguindo um caminho bem preciso: o do carisma. Mas quantas vezes eu também precisei insistir, convidando as pessoas do Movimento a participarem com plena disponibilidade e não apenas formalmente dos encontros eclesiais e sociais com outras realidades agregativas sem nos fecharmos em falsas superioridades, como se fôssemos os únicos a ter a fórmula e a experiência justa do Evangelho! Dom Giussani sempre nos ensinou a aprender da realidade, de todos e particularmente do magistério do Papa e dos Bispos, da vida da Igreja e de cada encontro, valorizando todos os sinais de verdade que encontramos. De Leopardi a Pavese, de Kafka a Pasolini, dos ortodoxos, dos irmãos judeus aos monges budistas.

De fato, há vários modos de encontrar Jesus. Todos são verdadeiros quando nos levam a Jesus.
O carisma é um desses modos. Cada um tem a sua história.
Como quando você encontra Jesus através de um amigo ou uma amiga, ou através de seu marido ou sua esposa. Quem salva você é Jesus, mas você não pode jogar fora seu marido para ficar com Jesus.
As duas coisas estão unidas. O Papa quer nos dizer que não precisamos abandonar o carisma porque está ultrapassado, mas que através do carisma, devemos amar Jesus sempre mais. Isso significa ser descentrados. E, depois, devemos levá-lo com a mesma paixão que Dom Giussani nos ensinou, em nossa vida, onde moramos, àquelas que o Papa chama de periferias e, particularmente, aos pobres através de um testemunho de autenticidade humana e de pobreza. Não por uma estratégia, mas porque sem Jesus não podemos viver. Como quando entramos nas escolas e nas universidades, nas favelas do Brasil ou numa comunidade da África,entre os doentes de AIDS. Todos, lugares onde continuamos presentes. E Francisco reconhece isso quando afirma: “O carisma originário nada perdeu do seu frescor e vitalidade”.

Fiquei muito tocado com o encontro com o Papa. Ele convidou-nos a vivermos aquilo a que Dom Giussani sempre nos educou, corrigindo-nos, porém, com uma força extraordinária. E, como vivemos tudo isso com os nossos limites, é justo que alguém nos lembre deles. Estamos diante de um apelo forte e de um convite a aprofundar a natureza do carisma, a vivê-lo com verdade, não a abandoná-lo. Nesse sentido se move toda a “teologia dos carismas” vivida na Igreja e aprofundada depois do Concílio Vaticano II com a visão da “Igreja como comunhão” e particularmente desenvolvida até hoje a partir do Primeiro Encontro Internacional dos Movimentos Eclesiais, do qual Dom Giussani participou ativamente. Naquela ocasião, São João Paulo II, na audiência de 27 de setembro de 1981, disse: “A própria Igreja é um Movimento”. Em tempos diferentes, o Papa Francisco nos chama a atenção a não “petrificarmos” o carisma transformando-o em um objeto de museu e nos indica o caminho do descentramento: “no cerne só está o Senhor”. Não é possível liquidar esse tema negando-o ou repetindo-o mimeticamente; exige um aprofundamento rigoroso e um cordial empenho de seguimento. O Papa repetiu aquilo que disse na entrevista à Civiltà Cattolica, sobre a sua Companhia de Jesus: “A Companhia é descentrada de si mesma: seu centro é Cristo e a sua Igreja. Se, ao contrário, olha demasiado para si própria, se se coloca a si mesma no centro como estrutura bem sólida, muito bem ‘armada’, então corre o perigo de sentir-se segura e autossuficiente”. E como os jesuítas, em sua admirável história de missionários e de santos, cometeram mais erros do que nós, vamos aprender a lição para que, com o nosso rosto, possamos “ser braços, mãos, pés, mente e coração de uma Igreja em saída”.

+ Filippo Santoro
Bispo de Taranto

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