Neste ano comecei com Laurence a caritativa na casa Dom de Maria, das Missionárias da Caridade, perto da Praça São Pedro, uma vez por semana. Gostaria de contar os fatos que aconteceram nesses meses de caritativa.
A primeira vez que fomos não sabíamos em que, realmente, consistiria o trabalho da nossa caritativa. Sabíamos que poderíamos ter que ajudar a preparar o jantar, limpar os banheiros e fomos convidadas a estar disponíveis. Fiz todo o caminho até São Pedro pedindo dentro de mim essa disponibilidade e pensando: e se me pedirem para limpar os banheiros? Eu farei. Se me pedirem para estar com os sem-teto? Eu farei. Se me pedirem para preparar o jantar? Eu farei. Estava tão contente e grata por fazer aquela caritativa que queria fazer qualquer coisa, ainda que fosse as mais chatas.
Para minha surpresa, o que me pediram era a única coisa que eu não poderia imaginar: preparar e estar presente na adoração ao Santíssimo. Passei a maior parte do tempo do primeiro dia de joelhos, diante de Jesus. E dentro de mim entendia que Ele, mais uma vez, estava corrigindo a minha atitude: a caritativa não é, antes de mais nada, um fazer algo da minha parte (como, também, nada ao longo do dia), mas sim um estar diante d’Ele. Porque se não é assim, o fazer cansa. Assim, agora, todas as vezes que vou à caritativa faço memória daquele primeiro momento e rezo para viver cada momento (também o trabalho) em adoração.
O segundo fato é que, há um mês, morreu um dos voluntários que trabalhava com a gente no setor de refeições. Foi algo imprevisto e todos estávamos um pouco abalados. No dia seguinte ao seu falecimento estávamos ali e diante da notícia parecia que não tinha nada que pudéssemos nos falar. Tinha um grande silêncio. Depois de uns instantes, uma das Irmãs propôs que rezássemos o terço enquanto preparávamos o jantar. E assim a oração foi a palavra a se dizer, a única palavra que estava à altura do acontecido.
Fiquei muito impressionada como o fazer e a oração eram uma coisa só. Era novamente estar diante de Jesus. É a única razão que mantém juntas as pessoas que nunca se viram, de todos os continentes. Este estar diante de Jesus em cada coisa, como se vê estando diante das freiras, é o que gera uma comunhão e uma gratuidade que só são possíveis se Ele está.
Aprendo na caritativa esse viver tudo na presença de Deus, que me faz livre e alegre no fazer ou no não fazer, diante da vida ou diante da morte.
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