Na estrada que liga Milão a Genova, aos domingos, das 10h30 da manhã até o meio da tarde, muitos carros chegam ao pedágio de Bereguardo-Pavia Sul que dá acesso à cidadezinha de Trivolzio (pouco mais de mil habitantes), onde se pode avistar um campanário na bela planície. Aqui está acontecendo algo que chama a atenção e não é uma feira, ou, talvez sim, mas de outro gênero. Não existem mercadorias à venda, mas pessoas que caminham: algumas rapidamente, outras devagar. É um espetáculo! Os rostos são transparentes e dispostos a negociar com Alguém os maiores desejos e a se colocar em Suas mãos. É como se todos fossem constrangidos por um dono de casa zeloso a usarem armaduras invisíveis com as quais são protegidos do estupor. Ao entrar na igreja do ano de 1500 dos Santos Cornélio e Cipriano, encontramos o pároco, padre Ângelo Beretta, que está sempre na porta recebendo as pessoas. Logo depois da entrada há uma grande urna de cristal. Nela, um corpo com as vestes negras dos Irmãos de Caridade e uma máscara prateada no rosto. É o corpo de um morto, mas todos sabem que é para a ressurreição, e isso é muito evidente: é São Ricardo Pampuri.
Em redor, encontram-se livros grandes onde se escrevem os pedidos. Faz-se uma fila. A Santa Missa é celebrada, reza-se a oração a São Ricardo e, depois, beija-se a sua relíquia. Ao lado, há o quarto-museu onde estão objetos e indumentárias do Santo. Pode-se adquirir pequenas imagens e terços. Algo, porém, acontece. Há um encontro.
A medalhinha
A unicidade do catolicismo impressiona qualquer um: cada um está sozinho com o Senhor e, no entanto, se é um povo. Entende-se isso lendo os pedidos que já enchem 143 grandes volumes. E estes são só os escritos.
Os acontecimentos do início estão todos em uma carta publicada na revista Tracce em fevereiro de 1995. Cristina Bologna conta a visita que fez “ao vizinho São Ricardo” com alguns Memores que moram naquela região para pedir uma graça por uma amiga que tinha um tumor. Ali fez o gesto simples de esfregar uma pequena imagem do Santo sobre a divisa de uma banda musical. “Este gesto é para salientar a fisicidade do pedido. Fazemos isso não porque somos fanáticos, mas porque somos concretos”, explica Laura que aconselhou Cristina a fazer o mesmo. Depois que deram a imagem à amiga doente, desapareceu qualquer sinal da doença. Isto pode acontecer, não é obrigatoriamente um milagre no sentido, digamos, técnico. Mas a cura era certa. Tracce contou esta história sob o impulso de padre Giussani, desde então grande devoto deste Santo, um jovem médico municipal que vivia entre os jovens e que, depois, tornou-se membro dos Irmãos de Caridade, recentemente proclamado Santo pelo Papa Wojtyla (1989). Obras? A caridade, “fazer sempre a vontade do Senhor”, “ter sempre grandes desejos”.
Eu também fui testemunha de um milagre: a transformação de um lugar de dor e morte em algo renascido. Nos últimos meses do ano 2000, meu pai Guido foi internado no hospital de Desio por causa de um câncer. Não havia nada a fazer. Nos meses antecedentes, de fé robusta, mas não particularmente devoto, estive com a família de São Ricardo e fui tocado por ele. No quarto onde havia doentes terminais, entre eles ateus e até um muçulmano, a vida mudou. Mesmo quando algum deles morria e os enfermeiros ainda não tinham chegado, diante daquele defunto todos rezavam o Réquiem e a oração de São Ricardo. Eu só tinha visto algo parecido em Calcutá, na casa dos moribundos de Madre Teresa. A vida nova, na morte.
O “curador” de São Ricardo
Padre Ângelo é o curador zeloso de todo este movimento ricardiano. Ele nos conta como a fama deste santuário já se espalhou pelo mundo e de como lhe telefonam de toda a parte, mesmo pessoas que não pertencem a Comunhão e Libertação ou ao catolicismo para perguntar como fazem para chegar até lá e para pedir orações. Agora, conta com gratidão: “Enquanto estávamos pensando se era possível organizar alguma manifestação por ocasião do centenário de nascimento de São Ricardo que aconteceria em 1997, numa manhã de sábado de fevereiro de 1995, fui chamado à igreja e a encontrei cheia de gente. “São Ricardo fez um milagre”, me disseram. Certo, São Ricardo certamente fez milagres, senão não seria Santo. As pessoas que estão na igreja são de Comunhão e Libertação e me mostram um exemplar de Tracce, onde foi publicada a história da vida do nosso Santo e a narração de um milagre recém acontecido. A partir daquele momento muitas outras pessoas começaram a chegar em peregrinação a Trivolzio. No sábado à noite chegaram muitos jovens e no domingo de manhã, famílias com muitas crianças. Alguns de CL já conheciam São Ricardo: aqui perto, em Coazzano, existe uma casa de Memores que há muito tempo é dedicada ao beato Ricardo Pampuri; e Lorenzo Frugiuele foi quem escreveu a vida de São Ricardo em versos. Ele já vinha aqui antes de 1995 para pedir ajuda pela sua doença. Padre Giussani havia sugerido isso a ele”.
As surpresas do Senhor
Padre Ângelo continua: “Eu não pertencia a CL, mas tinha ouvido falar do Movimento pelo padre Giulio Bosco, um companheiro de seminário, que morreu jovem na montanha. Eu estou convencido de que devemos estar atentos àquilo que o Senhor realiza entre nós e favorecer o bem mesmo que não seja da forma como planejamos. Encontrei Dom Giussani pela primeira vez quando veio celebrar a Santa Missa por São Ricardo. Fui à praça da igreja e o vi chegar. Era a primeira vez que o encontrava, mas depois de poucas palavras parecia que sempre me conhecera. Depois da Missa, veio à sacristia tomar um café, não quis com leite, mas com grapa. Conversamos e eu me sentia realmente à vontade. Depois me perguntou porque eu não comprava a casa vazia que havia ao lado da praça da igreja para criar um lugar de acolhimento. Eu fiquei indeciso, mas ele me encorajou dizendo: “Eu lhe envio o dinheiro para a entrada”, deixando maravilhados aqueles que o acompanhavam. Este foi o início do projeto para um centro de hospitalidade e recuperação, onde é possível, também, fazer encontros. Esperamos inaugurar pelo menos a primeira parte no próximo mês de maio”. São Ricardo sempre foi muito prático e aqueles que continuam a sua missão também o são. Pergunto a eles: como vocês intitulariam estes dez anos? Padre Ângelo suspira, enquanto olha para o relógio e procura acomodar os fiéis: “As surpresas do Senhor...”.
Vida de São Pampuri
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón