A reflexão de Papa Francisco na missa de terça-feira, 5 de novembro, em Santa Marta, foi inspirada nas leituras litúrgicas (Rm 12, 5-16a;Lc 14, 15-24). Leituras – explicou – que “nos mostram como é o bilhete de identidade do cristão; como é o cristão”. E das quais se compreende “antes de tudo” que “a existência cristã é um convite: só nos tornamos cristãos se formos convidados”.
O Papa Francisco esclareceu o que significa concretamente o convite do Senhor para cada cristão: não é um convite “para dar um passeio” mas “para uma festa; para a alegria: a alegria de ser salvo, a alegria de ser redimido”, a alegria de partilhar a vida com Jesus. E sugeriu também o que devemos entender com o termo “festa”: “uma reunião de pessoas que falam, riem, festejam, são felizes”, disse. Mas o elemento principal é exatamente a “reunião” de muitos indivíduos. “Entre as pessoas mentalmente normais nunca vi alguém que festeja sozinho: seria um pouco tedioso!”, explicou, evocando a triste imagem de quem “abre uma garrafa de vinho” para brindar em solidão. Portanto, a festa exige que se esteja em companhia, “com os outros, em família, com os amigos”. Resumindo, a festa “partilha-se”. Por isso, ser cristão implica “pertença. Pertencemos a este corpo”, feito de “pessoas que foram convidadas para a festa”; uma festa que “nos une a todos”, uma “festa de unidade”. Portanto a festa exige um estar em companhia, “com os outros, em família, com os amigos”. Em síntese, a festa “partilha-se”. Por isso ser cristão exige a “pertença. Pertence-se a este corpo”, feito de “gente que foi convidada para a festa”; uma festa que “nos une todos”, uma festa de unidade”.
Um ulterior aspecto analisado pelo Pontífice refere-se à misericórdia de Deus, que alcança até quantos declinam o convite ou fingem que o aceitam, mas não participam plenamente na festa. O trecho de Lucas enumera as desculpas dadas por alguns convidados muito ocupados, os quais “participam na festa só de nome: não aceitam o convite, dizem sim mas na verdade é um não”. Para o Papa Francisco são os precursores daqueles “cristãos que se limitam a estar na lista dos convidados. Cristãos na lista”. Contudo, infelizmente ser “classificado como cristão” não “é suficiente. Se não entrarmos na festa, não somos cristãos; estamos na lista mas isto não serve para a nossa salvação”, advertiu o Papa.
Resumindo a sua reflexão, o Pontífice citou cinco significados ligados à imagem do “entrar na igreja” e, consequentemente, do “entrar na Igreja”. Primeiramente, trata-se de “uma graça, um convite; não se pode comprar este direito”. Em segundo lugar, inclui o “criar comunidade, partilhar tudo o que temos – as virtudes, as qualidades que o Senhor nos doou – no serviço de uns aos outros”. Além disso, requer que “estejamos disponíveis para o que o Senhor nos pede”. E quer dizer também “não pedir caminhos ou portas especiais”. E por último, significa “entrar no povo de Deus que caminha rumo à eternidade” e no qual “ninguém é protagonista”, porque “temos Alguém que fez tudo” e só ele pode ser “o protagonista”. Eis a exortação do Papa Francisco para nos colocarmos “todos atrás dele; e quem não está atrás dele, é alguém que inventa desculpas”. Como aquele que, parafraseando o Evangelho, diz: “Comprei o campo, casei, comprei o gado, mas não posso ir atrás dele”.
Certamente, advertiu o Santo Padre, “o Senhor é muito generoso” e “abre todas as portas”. Ele “compreende também quem diz: não, Senhor, não quero vir contigo. Compreende e espera, porque é misericordioso”. Mas não aceita mentiras: “O Senhor – frisou – não aprecia o homem que promete e não cumpre. Quem finge que agradece por muitas coisas boas, mas na realidade continua pela sua estrada; quem tem boas maneiras, mas só faz a própria vontade, não a do Senhor”.
Eis então o convite conclusivo do Papa, que exortou a pedir a Deus a graça de compreender “como é bom ser convidado para a festa, partilhar com todos as próprias qualidades, estar com Ele”; e, ao contrário, como é “triste brincar com o sim e o não”; dizer sim mas satisfazer-se só com “estar” na lista dos cristãos.
(Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 45 de 7 de novembro de 2013)
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