Queridos irmãos e irmãs!
Não podia deixar a Bolívia sem vir ver vocês, sem deixar de partilhar a fé e a esperança que nascem do amor entregue na cruz.
Obrigado por me receberem. Sei que se prepararam e rezaram por mim. Muito obrigado!
Nas palavras de D. Jesús Juárez e no testemunho dos irmãos que falaram, pude comprovar que a dor não é capaz de apagar a esperança no mais fundo do coração e que a vida continua a jorrar com força em circunstâncias adversas.
Quem está diante de vocês? Poderiam perguntar-se. Gostaria de responder-lhes à pergunta com uma certeza da minha vida, com uma certeza que me marcou para sempre. Aquele que está diante de vocês é um homem perdoado. Um homem que foi e está salvo de seus muitos pecados. E é assim como me apresento. Não tenho muito mais para lhes dar ou oferecer, mas o que tenho e amo, quero lhes dar, quero partilhá-lo: É Jesus, Jesus Cristo, a misericórdia do Pai.
Ele veio para nos mostrar, fazer visível o amor que Deus tem por nós. Por vocês, por você, por mim. Um amor ativo, real. Um amor que levou a sério a realidade dos seus. Um amor que cura, perdoa, levanta, cuida. Um amor que se aproxima e devolve a dignidade. Uma dignidade, que podemos perder de muitas maneiras e formas. Mas, nisto, Jesus é um obstinado: deu a sua vida por isto, para nos devolver a identidade perdida, para nos revestir com toda a sua força de dignidade.
Lembro-me de uma experiência que pode nos ajudar. Pedro e Paulo, discípulos de Jesus, também estiveram encarcerados; também foram privados da liberdade. Nessa circunstância, houve algo que os sustentou, algo que não os deixou cair no desespero, que não os deixou cair na escuridão que pode brotar da falta de sentido: foi a oração. Foi orar. Oração pessoal e comunitária. Eles rezaram, e por eles se rezava. Dois movimentos, duas ações que geram entre si uma rede que sustenta a vida e a esperança. Sustenta-nos contra o desespero e incentiva-nos a prosseguir o caminho. Uma rede que vai sustentando a vida, a de vocês e a das suas famílias. Você falava da sua mãe [dirigindo-se à pessoa que deu o seu testemunho no começo]. A oração das mães, a oração das esposas, a oração dos filhos, a oração de vocês: isto é uma rede, que vai levando a vida adiante.
Porque uma pessoa, quando Jesus entra na sua vida, não fica detida no seu passado, mas começa a olhar o presente de outra forma, com outra esperança. A pessoa começa a ver com outros olhos a si mesma, a sua própria realidade. Não fica enclausurado no que aconteceu, mas é capaz de chorar e encontrar nisso a força para voltar a começar. E, se em determinados momentos nos sentimos tristes, estamos mal, abatidos, convido-lhes a fixar o rosto de Jesus crucificado. No seu olhar, todos podemos encontrar espaço. Todos podemos colocar junto d’Ele as nossas feridas, as nossas dores e também os nossos erros, nossos pecados, tantas coisas em que podemos ter errado. Nas chagas de Jesus, encontram lugar as nossas chagas. Porque todos estamos chagados, de uma ou outra maneira. E então levar as nossas chagas até às chagas de Jesus. Para que? Para serem curadas, lavadas, transformadas, ressuscitadas. Ele morreu por ti, por mim, para nos dar a mão e levantar-nos. Conversem com os sacerdotes que aqui vêm, conversem. Conversem com todos os que vêm para falar de Jesus a vocês. Jesus sempre quer lhes levantar.
Esta certeza move-nos a trabalhar pela nossa dignidade. Reclusão não é o mesmo que exclusão – que fique claro -, porque a reclusão faz parte de um processo de reinserção na sociedade. Há muitos elementos – bem sei – que jogam contra este lugar, e você [dirigindo-se novamente à pessoa que deu o seu testemunho no começo] mencionou alguns destes elementos com muita clareza: a superlotação, a morosidade da justiça, a falta de terapias ocupacionais e de políticas de reabilitação, a violência, a carência de facilidades de estudos universitários. Tudo isso torna necessário uma pronta e eficaz aliança interinstitucional para se encontrar respostas.
Mas, enquanto se luta por isso, não podemos dar tudo por perdido. Hoje há coisas que podemos fazer.
Aqui, neste Centro de Reabilitação, a convivência depende em parte de vocês. O sofrimento e a privação podem tornar o nosso coração egoísta e levar a confrontos, mas também temos a capacidade de transformá-los em ocasião de autêntica fraternidade. Ajudam-se mutuamente. Não tenham medo de se ajudar entre vocês. O diabo procura a briga, procura a rivalidade, a divisão, os bandos. Não deem ouvidos. Lutem para saírem vencedores contra ele, unidos.
Gostaria também de pedir que levem a minha saudação às suas famílias. Algumas estão aqui. É tão importante a presença e a ajuda da família! Os avós, o pai, a mãe, os irmãos, a mulher, os filhos. Lembram-nos que vale a pena viver e lutar por um mundo melhor.
Finalmente, uma palavra de encorajamento a todos os que trabalham neste Centro: aos seus dirigentes, aos agentes da Polícia Carcerária, a todo o pessoal. Vocês realizam um serviço público fundamental. Desempenham uma tarefa importante neste processo de reinserção; tarefa de levantar e não rebaixar, de dignificar e não humilhar, de encorajar e não de desanimar. Este processo requer deixar a lógica de bons e maus para passar a uma lógica centrada na ajuda à pessoa. E esta lógica de ajudar a pessoa salvará vocês de todo o tipo de corrupção e melhorará as condições para todos, porque um processo assim vivido dignifica, anima e levanta a todos.
Antes de lhes dar a bênção, gostaria que rezássemos uns momentos em silêncio, em silêncio cada um no seu coração. Cada um sabe como fazer.
Por favor, peço-lhes que continuem a rezar por mim, porque eu também tenho os meus erros e devo fazer penitência. Muito Obrigado!
[silêncio]
E que Deus nosso Pai olhe o nosso coração; e que Deus nosso Pai, que nos ama, nos dê a sua força, sua paciência, sua ternura de Pai e nos abençoe. Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. E não se esqueçam de rezar por mim. Obrigado.
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