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MAGISTÉRIO

A "revolução cristã" do bem

por Papa Francisco
23/02/2017 - Angelus (Praça São Pedro, 19 de fevereiro 2017)

Amados irmãos e irmãs, bom dia! No evangelho deste domingo (Mt 5, 38-48) — uma daquelas páginas que melhor exprimem a “revolução cristã” — Jesus mostra o caminho da verdadeira justiça mediante a lei do amor que supera a do talião, ou seja, “olho por olho, dente por dente”. Esta antiga regra impunha que se infligisse aos transgressores penas equivalentes aos danos causados: a morte a quem tinha matado, a amputação a quem tinha ferido alguém, e assim por diante. Jesus não pede aos seus discípulos que suportem o mal, aliás, pede que reajam, e não com outro mal, mas com o bem. Só assim se interrompe a corrente do mal: um mal leva a outro mal, outro mal leva a mais outro... Interrompe-se esta corrente de mal, e as coisas mudam verdadeiramente. Com efeito o mal é um “vazio”, um vazio de bem, e um vazio não se pode encher com outro vazio, mas só com um “cheio”, ou seja, com o bem. A represália nunca leva à resolução dos conflitos. “Tu tramaste contra mim, vais pagar”: isto nunca resolve um conflito, nem sequer é cristão.

Para Jesus, a rejeição da violência pode exigir também a renúncia a um direito legítimo; e dá alguns exemplos: apresentar a outra face, ceder a própria veste ou o próprio dinheiro, aceitar outros sacrifícios (cf. vv. 39-42). Mas esta renúncia não significa dizer que as exigências da justiça são ignoradas ou contraditas; não, ao contrário, o amor cristão, que se manifesta de modo especial na misericórdia, representa uma realização superior da justiça. Aquilo que Jesus nos quer ensinar é a clara distinção que devemos fazer entre a justiça e a vingança. Distinguir entre justiça e vingança. A vingança nunca é justa. É-nos consentido pedir justiça; é nosso dever praticar a justiça. Ao contrário, é-nos proibido vingar-nos ou fomentar de qualquer forma a vingança, enquanto expressão do ódio e da violência.

Jesus não pretende propor um novo ordenamento civil, mas antes o mandamento do amor ao próximo, que inclui também o amor aos inimigos: “Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem” (v. 44). E isto não é fácil. Esta palavra não deve ser interpretada como aprovação do mal praticado pelo inimigo, mas como convite a uma perspetiva superior, a uma perspetiva magnânima, semelhante à do Pai celeste, o qual — diz Jesus — “faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos” (v. 45). Com efeito, também o inimigo é uma pessoa humana, criada como tal à imagem de Deus, mesmo se atualmente esta imagem é ofuscada por uma conduta indigna.

Quando falamos de “inimigos” não devemos pensar em sabe-se lá quais pessoas diversas e distantes de nós; falamos também de nós mesmos, que podemos entrar em conflito com o nosso próximo, por vezes com os nossos familiares. Quantas inimizades nas famílias, quantas! Pensemos nisto. Inimigos são também aqueles que falam mal de nós, que nos caluniam e são injustos conosco. E não é fácil digerir isto. A todas estas pessoas estamos chamados a responder com o bem, que também ele tem as suas estratégias, inspiradas pelo amor.

A Virgem Maria nos ajude a seguir Jesus por este caminho exigente, que exalta deveras a dignidade humana e nos faz viver como filhos do nosso Pai que está nos céus. Nos ajude a praticar a paciência, o diálogo, o perdão, e a sermos artífices de comunhão e artífices de fraternidade na nossa vida diária, sobretudo na nossa família.

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