Na maioria das vezes uma obra de caridade não nasce de um projeto de escrivaninha, mas da experiência direta que alguém faz em um momento difícil da sua vida. Foi assim no século XVI para Camilo de Lellis que, internado no Hospital dos Incuráveis de Roma, concebe ali a sua grande obra de assistência aos doentes que revolucionou a própria idéia de hospital. E foi assim com Antonio Gamba que, freqüentando hospitais para tratar-se, tinha feito experiência direta dos transtornos e da desorientação que os parentes dos doentes não residentes ali (e os próprios doentes com alta, mas em convalescença ou em tratamento) viviam para hospedar-se em Milão: “As longas conversas com essas pessoas nos momentos de internação e de tratamento me provocavam uma profunda comoção. Entendo que condividir “com palavras” o incômodo desses amigos servia para alguma coisa, mas não atenuava a sensação de incômodo que eles experimentavam. Pensei, no fundo, que para hospedar esses amigos não precisaria de nenhuma especialização profissional...”. Antonio e sua esposa decidiram procurar os amigos do grupo de formação e oração que freqüentavam na paróquia de São Protaso, que se demonstraram imediatamente abertos e disponíveis a empenhar-se com eles nessa obra. Nasce assim, em 1993, a Casa de Acolhida São Protaso para parentes de doentes ( e mesmo doentes em convalescença ou em tratamento) internados ou em hospital-dia nos hospitais milaneses. A atividade, iniciada primeiramente em um pequeno apartamento, se transferiu em 1999 para uma vilazinha da rua Murillo, onde está até agora. Ali foram concluídos sete quartos, duas salas de estar, cozinha e seis banheiros para hospedar de modo muito digno 19 pessoas. A casa está sempre cheia, porque a disponibilidade de leitos é pouca em relação às dimensões da necessidade, e os voluntários que ficam disponíveis para a acolhida a cada hora do dia e cada dia do ano, devem estar sempre prontos a oferecer respostas eficazes às necessidades imprevistas que surgem cotidianamente. Todavia, o serviço fornecido, por mais importante, é vivido, como diz Antonio “para viver um gesto comunitário de caridade” e para oferecer, além do ambiente seguro, uma companhia cristã à dor, feita de desejo de plenitude para a própria vida e de amor ao destino das pessoas que se ajudam. Não é a toa que estas pessoas, tratadas não como “assistidos”, mas como amigos encontrados em um momento difícil da vida, muitas vezes querem manter contato com os voluntários da Casa para continuar no cotidiano aquela semente de vida nova experimentado naqueles dias de acolhimento. É um resultado posterior, não menos importante, de uma obra onde a caridade como dom de si comovido e a subsidiariedade como iniciativa das pessoas em resposta às necessidades, muitas vezes ignoradas, mostram como a história de bem do cristianismo continuamente se renova.
*Presidente da Fundação para a Subsidiariedade
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