Pontifícia Academia reafi rma defesa da vida e estimula a criação de bancos públicos de cordão umbilical
por DANIEL GOMES
(Reportagem na Zona Oeste)
De volta ao Brasil, após participar da 17ª Assembleia da Pontifícia Academia para a Vida, no Vaticano, Dalton Luiz de Paula Ramos, professor titular de bioética da USP e há sete anos membro da Pontifícia Academia conversou com a reportagem de O SÃO PAULO sobre o evento realizado de 24 a 26 de fevereiro, no qual foram tratadas as questões do trauma pós-aborto e a criação de bancos de cordão umbilical para o isolamento de células-tronco.
Durante a assembleia, de acordo com o professor, especialistas das áreas médica, psiquiátrica e de assistência social destacaram que o aborto ocasiona traumas não só às mulheres que o fazem, mas também aos irmãos do feto abortado e ao pai. Ele relembrou que o papa Bento 16, em audiência com os participantes, alertou à necessidade de ações de solidariedade junto às pessoas que pensam realizar aborto, bem como às mulheres que já o tenham feito.
“Há um chamado do Magistério da Igreja que é de apontar para a ferida e para o pecado que o aborto representa, mas sempre enfatizando nesse nosso chamado à solidariedade, à corresponsabilidade da comunidade cristã, para que possamos, num ato de misericórdia, oferecer o perdão e a paz no sacramento da Reconciliação. A mensagem da Igreja é de solidariedade, sem nunca negar o malefício que o pecado, o ato em si, representa”, esclareceu.
Em discurso aos participantes, o papa Bento 16 apontou que toda a sociedade deve defender o direito à vida e que os médicos, em especial, precisam alertar as mulheres sobre a ideia enganosa de que solucionarão algumas dificuldades com a prática do aborto. Dalton Ramos explicou as razões pelas quais os católicos devem ser contra o aborto. “Temos que condenar o aborto, pelas razões antropológicas do significado de destruição da vida e também pela simples constatação de que o aborto não resolve absolutamente nada, nenhuma das demandas que às vezes são colocadas, como problemas de saúde, liberdade na forma de viver a sexualidade, nem mesmo solução para uma gravidez que tenha sua origem em um ato de violência”, opinou.
Em referência à criação de bancos de cordão umbilical para isolamento de células tronco, o professor destacou que o uso da técnica para finalidades terapêuticas e de pesquisa é promissor, além de ética e antropologicamente correta, pois não causa a destruição de embriões. Há, no entanto, a preocupação de que se incentive a criação de bancos públicos de cordão umbilical, ante a tendência do surgimento de bancos privados para uso autólogo (conservação da amostra de sangue do cordão umbilical para posterior uso próprio, se necessário).
“Os bancos públicos podem ser fontes de células e de outros componentes biológicos para qualquer indivíduo. Mas o ponto importante é a democratização, o uso em larga escala para todo segmento da sociedade, e não só daqueles que eventualmente possam pagar para fazer sua contribuição com esses bancos”, explicou.
As reflexões tratadas na assembleia da Pontifícia Academia para a Vida subsidiarão as diferentes instâncias do Vaticano, como a Congregação para a Doutrina da Fé, e estarão, em breve, disponíveis em publicações impressas e eletrônicas. O discurso do papa Bento 16 à assembleia pode ser acessado no site da Pontifícia Academia (www.academiavita.org).
Fonte: O São Paulo, 29/03 a 4/04/2011 (Geral, p. B2)
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