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Sem citar política, Papa faz discurso revolucionário

Francisco Borba Ribeiro Neto (*)
23/07/2013 - G1

Uma das grandes habilidades dos grandes comunicadores é a capacidade de quebrar expectativas, apresentando a seu público algo sempre novo, que impacta pela força da surpresa. Em sua chegada ao Brasil, no discurso em presença da presidente Dilma e de outras personalidades políticas brasileiras, o Papa Francisco mostrou que tem esta capacidade de surpreender, de passar uma mensagem nova indo contra as expectativas.

Todos esperavam que este primeiro discurso, feito diante das autoridades políticas, viesse recheado com uma boa carga política, direta ou indireta. Mas Francisco não falou de política. Seu interlocutor não eram os políticos presentes, mas sim o coração do povo brasileiro – ou melhor, o coração de cada brasileiro. Ao fazer isso, não desconsiderou a política, mas elevou-a a um nível quase inimaginável. Falou da maior força que move a história: o coração da pessoa, aquele lugar onde cada um de nós guarda as coisas mais valiosas que tem na vida.

Pedindo para “bater delicadamente” à porta que é o coração de cada brasileiro, mostrou a humildade e o carinho que lhe são próprios. Dizendo “não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado”, não apenas mostrou a pobreza cristã, mas se colocou na posição corajosa daquele que doa tudo que tem pelo outro. Humildade, carinho, pobreza, coragem, doação de si… Que homem público não se sentirá interpelado por estes atributos? Que cidadão não encontrará aí um caminho para a construção do bem comum?

Partindo do coração da pessoa, o Papa Francisco fez um desafio mudo a todos que querem o poder pelo poder e organizam suas vidas em função disto. E cada um que o ouviu percebeu esta incrível verdade: que o coração é maior do que o poder, pois nos torna realmente humanos, enquanto o poder frequentemente desfigura nossa humanidade.

Francisco começou sua viagem sem falar de política. Mas, não falando de política, fez o discurso político mais revolucionário que poderia ter feito.

(*) Francisco Borba Ribeiro Neto é coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC de São Paulo


(Portal de Notícias G1)

 
 

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