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Divertida Mente

04/10/2015 - Corriere della Sera

Riley tem onze anos e sua família se mudou para outra cidade. Desorientação, novas sensações, perda de pontos-chave, são vistos através das emoções na sua mente. Mas falta o “gerador de equilíbrio”

por Antonio Polito

Se vocês forem assistir Divertidamente (vão com a desculpa de levar as crianças, assim vocês sairão melhores do cinema) estejam atentos a um detalhe. Como já é muito conhecido, o filme é uma representação fantástica, embora com base científica, daquilo que se passa na mente de uma pré-adolescente de onze anos, o tumulto e o conflito entre os sentimentos, o se encontrar e o choque das emoções: raiva, medo, nojo, tristeza e alegria. Aquilo que, porém, falta no todo é a razão. A guerra dos instintos é a única coisa que acontece no cérebro de Riley. Os comportamentos dela são determinados em uma cabine de direção na qual não se senta nenhum diretor. Então, não nos perguntamos nem sequer se são razoáveis ou irracionais. São o êxito de uma partida sem juiz na qual, talvez por causa da idade jovem da protagonista, a solitária Alegria exercita uma liderança sobre os outros jogadores e assim que se distrai, todo o autocontrole de Riley desmorona.

Aquele gerador de equilíbrio – a razão, a racionalidade, a razoabilidade – no qual cada genitor confia para moderar o poder excessivo e a violência dos sentimentos em um adolescente, e cada dia trabalha duro para lhe dar as bases que aprendeu com a experiência de vida, aqui não está presente. Dizem que o filme conhece e respeita as últimas descobertas da neurobiologia e que as coisas realmente estão assim no nosso cérebro. Mas se estão assim, qual o motivo de todo o esforço da educação, do bom exemplo, da passagem dos valores entre as gerações, se não se tem uma razão a qual apelar? (E, de fato, no filme, os pais não podem quase nada, a não ser amar, a não ser se irritar).

Por sorte os instintos de Riley, movidos pelo instinto de sobrevivência, se moderam mutuamente. Poder-se-ia até mesmo dizer, mesmo se o filme não o diga, que a razoabilidade seja o fruto do compromisso que no final se estabelece entre a Alegria e a Tristeza, quando a Alegria entende que um pouco de tristeza também é necessária na vida, se se quer crescer. As lembranças da menina, antes feitas amarelo-ouro de Alegria, ou azul de Tristeza; tornam-se assim uma cor mista entre o amarelo e o azul. A razão não é nada além que um efeito cromático, como quando se misturam as cores-base sobre uma paleta. Mas é um processo espontâneo e casual. Poder-se-ia dizer: irracional.

Para ser exigente, poder-se-ia acrescentar um outro grande ausente na mente de Riley além da razão: o livre arbítrio. Não existe, de fato, nenhum momento no qual a nossa heroína seja chamada a tomar uma decisão, a escolher entre diversas opções. São sempre os instintos que a dirigem, na fuga de casa e mais adiante na volta pra casa, de volta ao passado nostálgico e tranquilizador da menina ou adiante em direção ao futuro da adolescente - que a assusta por causa de sua imprevisibilidade. Riley vive em um universo moral no qual não há espaço para a responsabilidade individual, e, de fato, não se tem liberdade; então não pode existir culpa ou pecado. Nem mesmo se vê uma pessoa que não seja só biologia. É talvez o primeiro personagem na história do cinema sem um caráter. O filme é lindo e, como vocês podem ver, faz refletir. Mas é um sinal dos tempos que ninguém tenha reclamado pelo desaparecimento daqueles dois atores, a razão e o livre-arbítrio, os quais, uma geração atrás, considerávamos indispensáveis para a edificação de uma vida adulta.

(Artigo publicado no jornal italiano Corriere della Sera, 04/10/2015)

 
 

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