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Hoje nos serve amor, não só tolerância

por Wael Farouq
18/04/2017 - Artigo publicado no jornal italiano Avvenire, de 11 de abril de 2017, poucos dias depois do ataque a duas igrejas cristãs no Egito, no Domingo de Ramos, deixando dezenas de mortos e centenas de feridos

Os cristãos coptas sabem que, hoje, ir à Igreja no Egito para rezar é um risco. Daesh ameaçou de queimá-los nas Igrejas e, há apenas dez dias atrás, as forças de segurança desarmaram uma bomba exatamente no mesmo edifício santo que no Domingo de Ramos sofreu um dos mais ferozes ataques terroristas. No entanto, os cristãos egípcios continuam a ir às Igrejas para rezar. O Domingo de Ramos é um dia especial para as crianças. As mães, antigamente, se divertiam criando símbolos e jogos com as folhas de palmeira. Nós, crianças muçulmanas, recebíamos coroas, estrelas e espadas feitas com estas folhas, enquanto as crianças cristãs levavam as cruzes. Nós lhes acompanhávamos em comitiva até às portas das Igrejas. Eles entravam para a Missa e nós recebíamos algum doce. Depois, à espera de que eles saíssem, protegíamos a Igreja dos inimigos e demônios invisíveis com as nossas espadas verdes.

Acho que a minha seja a última geração que viveu esta alegria. Em seguida, no final dos anos 1970, o presidente Anwar al-Sadat abriu o espaço público aos islamitas e milhões de egípcios emigraram em direção aos países do Golfo, em direção às sociedades uniformes que conheciam o pluralismo religioso e não o aceitavam. Foi o início da campanha do ódio contra os cristãos no geral e àqueles egípcios em particular. Em cada bairro havia uma mesquita controlada pelos propagandistas do islamismo político. Sob a proteção de Sadat e na indiferença dos seus sucessores, a propaganda contra os cristãos durou quarenta anos. Os sheyky diziam aos muçulmanos que os cristãos eram “pagãos”, que não comessem da sua comida, que não os amassem. Diziam: “Mataram os vossos irmãos no Iraque, Palestina e Afeganistão”. Diziam: “Não festejem as festas deles, não os cumprimentem”.

No entanto, mesmo depois de anos desta propaganda mórbida, os egípcios souberam redescobrir a própria unidade na Praça Tahrir. A revolução criou um espaço de encontro entre o muçulmano, que se via tentado a esquecer-se do amor e uma secular convivência, e o cristão que era resignado a emigrar ou isolar-se do mundo, fechando-se dentro de os muros da sua Igreja no seu próprio país. A revolução, nos poucos anos passados, destruiu décadas de uma odiosa propaganda. Tantos egípcios, porém, apesar da propaganda de ódio e os estragos dos terroristas, estão redescobrindo o bem da unidade. Depois dos ataques do domingo passado, os cristãos celebraram nas redes sociais os policiais heroicos – todos muçulmanos – mortos enquanto cumpriam o seu dever de proteger a missa oficial de papa Tawadros. Era ele o foco principal dos ataques: o primeiro, aquele na Igreja de Tanta, tinha o propósito de chamar a atenção para atingir poucas horas depois o chefe espiritual dos cristãos coptas na Igreja de São Marcos, em Alexandria. O terrorista, porém, não conseguiu entrar, e se explodiu diante da porta da Igreja, matando cristãos e muçulmanos.
Muitos muçulmanos correram para doar sangue, abriram as portas das mesquitas para cuidar dos feridos e choraram rios de lágrimas enquanto extraíam os feridos da Igreja. A humanidade deles venceu a propaganda do ódio. Muçulmanos e cristãos permaneceram juntos, no hospital, na mesquita, na Igreja.

Este é um tempo no qual os pregadores da tolerância devem dar um passo atrás. A tolerância não é nada mais que slogan de quem é incapaz de amar, e não basta. Hoje não temos a necessidade de tolerar, mas de amar. Porque este terror será derrotado somente com a nossa capacidade de amar e chorar pelos outros.

Daesh reivindicou a responsabilidade dos ataques terroristas, mas só Daesh é o responsável? Não são também os islamitas que fazem propaganda do ódio? Não é também quem se limita a condenar o ato criminal, sem condenar a ideologia que o alimenta? Não é também quem divide os islamitas entre moderados e extremistas? O sheyky Yusuf al-Qaradawi – símbolo dos chamados islamitas moderados – justificou os ataques terroristas dando a culpa à presença de um regime ditatorial. Mas onde está a ditadura em Estocolmo? Onde está a ditadura em Bruxelas, em Londres e na França? Como se pode justificar a onda de lobos solitários e de guerra santa de baixo custo na Europa? Estão erguendo um muro psicológico entre nós para destruir aquilo que é mais precioso na civilização: a liberdade, a democracia, os direitos humanos.

Pode-se morre num bar, em um teatro, em um parque, em um estádio, no metrô. Ser assassinado na Igreja. O teu assassino não te conhece, nunca viu o teu rosto, nunca escutou o teu nome. Ele não sabe se a tua morte deixará os corações de quem te ama tristes, ou deixará feliz aqueles que te odeiam. Não conhece nem sequer a tua religião, nem a tua nacionalidade. Na verdade, o teu assassino não te mata, mas sim a vida que existe em ti. O terrorista suicida não conhece nada das suas vítimas, conhece só a si mesmo. Mas o que conhece de si mesmo que o empurra à morte? Aliás, o que não conhece de si mesmo que o leva a fugir da vida?

Conhece o ódio, não o amor. Está morto antes mesmo de morrer e se explode para escapar desta morte. É verdade, a fé no amor não te protegerá de uma bala ou de um estilhaço que poderá alojar-se no teu coração, mas protegerá o teu coração da morte antes mesmo da própria morte, do viver a vida como uma fuga contínua da morte.

* O autor é egípcio e muçulmano, atualmente o autor é docente de “Ciências linguísticas e Línguas estrangeiras” na Universidade Católica de Milão.

 
 

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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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