“É preciso um novo início. O horizonte de um amor maior. Porque, sem amar a Cristo mais do que à pessoa amada, este relacionamento resseca”. Duas mil pessoas escutando padre Julián Carrón, num pavilhão da Feira de Verona, que, uma semana antes, alojava maquinário para trabalhar o mármore e, em poucos dias, alojará as novidades do setor de móveis. O salão escuta em silêncio o Presidente da Fraternidade de CL que fala sobre família, amor, matrimônio, virgindade. Cita Goethe e o Papa, Rilke e Pavese, Leopardi e Dom Giussani, Eliot e Shakespeare na cidade de Romeu e Julieta. Onde a sacada dos namorados se tornou ponto turístico, e não é mais o sinal de um amor pleno e sem pretensões.
Havia grande expectativa em Verona. Na feira apareceram banqueiros, políticos, empresários, párocos, o prefeito, autoridades militares, misturados às milhares de pessoas. Espera do quê? Carlo Fratta Pasini, presidente do Banco Popular, que – na esteira do Family Happening de um mês atrás – convidou padre Carrón junto com os diretores da Cattolica Assicurazioni e da Fondazione Cariverona, explicou: “Falamos da família não porque queremos nos refugiar no mundo privado, num momento de crise generalizada, mas porque a família é um elemento de força expansiva, que se encarrega dos problemas, é orientada para o futuro, para a vida, para imaginar algo de melhor. Esta postura não pode ficar confinada à vida doméstica, mas deveria animar as comunidades locais e a sociedade civil, que hoje parece renunciar ao próprio futuro, preocupada em tentar compor interesses e egoísmos, defender aquilo que temos sem construir aquilo que podemos ser. Por isto, viemos não apenas para escutar Padre Carrón, mas exatamente para vê-lo, para encontrá-lo”.
Ver, encontrar, tocar com as próprias mãos. É isto que Carrón repropôs: “Jesus não ficou parado anunciando a verdade do matrimônio, mas introduziu uma novidade na vida dos apóstolos que tornou possível vivê-lo segundo esta verdade”. Uma experiência presente, que é possível ver agora. Tantos se escandalizam com quantidade de famílias desfeitas. Carrón não. Mesmo os discípulos, quando ouviram Jesus pela primeira vez falando sobre o matrimônio, concluíram que “não convêm se casar”, mas não ficaram presos nisso. Diante dos olhos materializam-se nomes e rostos de pessoas que repetem isto todos os dias: gente arrependida, e gente que amanhã não vai querer se arrepender. Toma forma a desilusão que todos experimentamos, a pretensão às vezes violenta segundo a qual o outro, no seu limite, possa responder à pergunta infinita que nada é mais capaz de despertar do que a pessoa amada.
Há outro escândalo tortuoso que bloqueia, porque faz com que sonhemos o impossível retorno daquele belo tempo que passou: como é possível que aquele “tesouro moral” consolidado nos séculos, sobre o sentido do matrimônio, tenha se dissipado tão profundamente e em tão breve tempo? Carrón cita Bento XVI: “A liberdade pressupõe que, nas decisões fundamentais, cada homem, cada geração seja um novo início”. Aquilo que era transmitido pacificamente de uma geração à outra não existe mais. “É um novo início”, repete Carrón. “Porque não é possível dar por óbvio nada daquilo que, até há pouco tempo, era claro para todos”.
É preciso recomeçar do zero. Perguntar-se quem é o homem, quem sou eu, e dar-se conta de que aquilo que somos nos é revelado na relação com a pessoa amada. Também aqui, nomes e rostos. A mulher, o marido. Os filhos. Os pais. Certos amigos. Uma beleza irresistível, o “raio divino” que Aspasia era para Leopardi. Que, porém, são apenas “um lembrete”, para dizer com Lewis: “Olha! O que te recordo?”. Um sinal. E é preciso encontrar aquilo a que o sinal remete, de outra forma “o homem cai no erro de parar diante da realidade que suscitou o desejo, reduzindo-o àquilo que aparece aos nossos olhos, e, cedo ou tarde, se manifesta a incapacidade de responder ao desejo suscitado”. Eis “a inaudita proposta de Jesus para que a experiência mais bonita da vida, apaixonar-se, não decaia”. O matrimônio, a ocasião mais atraente para chegar a dizer “Tu” a Cristo. Há “um modo absolutamente gratuito que Cristo introduziu na história”, através do qual se vê que “a sua pessoa é um bem de tal forma grande e precioso a ponto de poder ser considerado o único que corresponde plenamente à sede de felicidade do homem”. Um pároco, no fim do dia, dizia que, há tempos, não se sentia tão ajudado a aprofundar a sua vocação. A virgindade, o celibato, “a autêntica esperança para os casados”. Comunidades cristãs “capazes de acompanhar e sustentar os esposos na sua aventura”. A família precisa de um lugar para viver. “E do testemunho de quem experimenta a plenitude humana que Cristo torna possível”.
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón