“Ou a educação é a comunicação daquilo que é verdade para mim, a expressão do modo como eu me relaciono com a realidade, ou é só uma imposição, um manual de instruções estranhas à pessoa”.
Deogracious Droma é ugandense, tem pouco mais de vinte anos e trabalha formando professores no maior campo de refugiados do mundo, em Dadaab, no Quênia, na fronteira com a Somália. Dia 27 de setembro falará em Nova York, no Palácio de Vidro das Nações Unidas. A iniciativa partiu do ministro do Exterior da Itália, Giulio Terzi. Em vista da Assembleia Geral que se desenvolve esta semana, ele decidiu organizar um evento sobre a tolerância e o diálogo inter-religioso, convidando a Avsi para participar. Alberto Piatti, secretário geral da ONG, pediu ao jovem ugandense que contasse a sua experiência com os futuros professores, de religião muçulmana, aos quais propõe o método educacional de Dom Luigi Giussani. “A proposta que faço não cancela ou ignora as diferenças religiosas”, continua Deogracious: “Antes, valoriza o que está no fundo de cada tradição: o coração do homem”.
O trabalho da Avsi em Dadaab, um campo de refugiados que abriga cerca de quinhentas mil pessoas, em sua maioria somalis, começou em 2009 a pedido da entidade Cooperação Italiana para o Desenvolvimento e do órgão United Nations High Commission for Refugees (Unhcr). “No início nos ocupávamos só de reestruturar ou construir novas classes, as escolas eram perigosas, com paredes de lata e cobertura de folhas de zinco”, explica Leo Capobianco, responsável pela Avsi no Quênia. “Depois, vendo que os professores do ensino fundamental eram simples ex-alunos das escolas de ensino médio, decidimos dar-lhes uma qualificação melhor, através de cursos”. Assim teve início a colaboração com a Mount Kenya University, que coloca à disposição os próprios professores e com o Permanent Center for Education (Pce), do qual Deogracious faz parte.
“A Unhcr apreciou muito o nosso trabalho, nos pediu para ampliar a nossa atividade e garantiu novos financiamentos. Há alguns meses, conseguimos abrir uma escola (toda de tijolos) para três mil estudantes”. Em três anos, 730 professores foram formados e 310 classes foram colocadas à disposição de 16.250 crianças.
Em 2011, falou-se em todo o mundo da emergência humanitária na Somália, por causa da grande seca, das novas ondas migratórias e dos atentados terroristas. “Isso provocou uma grande quantidade de ajuda”, continua Capobianco. “Este ano, ao invés, alcançaram destaque outras realidades, como a Síria ou o Mali, e os fundos que havíamos solicitado minguaram: só recebemos a metade. Infelizmente, as duas escolas que projetávamos construir não foram nem começadas”.
Um dos maiores problemas continua sendo a Al Shabaab, célula somali da Al-Qaeda, que com frequência golpeia o interior do campo: duas voluntárias espanholas estão seqüestradas há seis meses. “As últimas notícias dos jornais locais são positivas. O exército queniano, apoiado pela União Africana, há tempo combate os terroristas. Nestes dias, está apertando o cerco a Kismayo, a última fortaleza deles”.
A notícia verdadeiramente positiva, porém, é a experiência que Deogracious levará à sede da ONU. Lá estarão personalidades como o Alto Comissariado para os Direitos Humanos e o diretor geral da Unesco, para ouvir como numa zona onde em geral predomina a guerra, cristãos e muçulmanos podem encontrar-se e dialogar. “Não quero que aqueles que tenho diante dos olhos se tornem escravos das minhas ideias, mas companheiros de caminhada”, conclui Deogracious: “Eu o corrijo e ele me corrige. A sua fé se torna uma ocasião para descobrir cada vez mais quem eu sou”.
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