Meio da tarde, a última sexta-feira de um mês qualquer. Na porta de um centro esportivo, no município madrileno de Villanueva de la Cañada, há um grande alvoroço. Muita gente para diante do espetáculo de uma centena de pessoas que preparam cestas básicas. Alguns retornam depois de um tempo trazendo alimentos, outros se oferecem espontaneamente como voluntários porque “nunca viram nada parecido na cidade."
A história começou há três meses, quando três amigos um deles muito atingido pela crise conheceram em Madri a experiência dos Bancos de Solidariedade. Foram ouvidos pela consciência da necessidade que viram nas pessoas, mas também pela comoção por esta obra de caridade. Não tinham nenhum projeto, nenhum plano e nenhum talento especial. Precisaram e quiseram aprender tudo desde o início.
E assim, na garagem de um destes amigos, que serviu de armazém improvisado para os primeiros alimentos recolhidos, foram feitas as primeiras cestas pensando nas necessidades concretas das várias famílias da cidade.
O número de pessoas que desejam participar da iniciativa está crescendo rapidamente, como a garagem é muito pequena aumenta em torno do lugar o tumulto para a preparação das caixas.
Até então, os iniciadores do Banco de Solidariedade Villanueva fazem contato com os Serviços Sociais da cidade, contando o que os move e perguntando se conhecem famílias com necessidades, as quais eles poderiam atender.
Mayca conta que a primeira vez ajudaram duas mães, uma com uma filha de dois anos e outra grávida e a primeira resposta dos funcionários é espécie de incômodo: “ São apenas duas pobres mulheres, o que vocês estão nos dizendo? Mas pouco a pouco ficaram surpresos. De fato começaram a fazer referências de várias necessidades, incluindo casos de mal tratos: “ Nós não somos capazes de responder a essas pessoas com a nossa ajuda, mas você, com sua humanidade, podem acompanhá-los.”Inclusive uma funcionária começou a participar pessoalmente na elaboração mensal das cestas e disse que deseja voltar com seu filho para que ele possa ver o que ali acontece. Um fruto desta colaboração, é o fato que a própria prefeitura disponibiliza um armazém para permitir que o trabalho funcione de modo mais organizado.
A coleta de alimentos, a elaboração das cestas e as visitas às famílias vão gerando uma rede de relações cada vez mais densa, uma rede atenta para atender as necessidades que vão surgindo, além da mera entrega mensal dos alimentos básicos. Há muitos exemplos. Quando nasce uma criança em uma destas famílias se busca entre todos roupas para doação. Alguns vão a lojas das cidades venderem bijuterias produzidas pelas famílias atendidas. Voluntários ensinam espanhol a imigrantes romenos que não podem trabalhar devido ao desconhecimento da língua. Donas de casa que ensinam tarefas domésticas para gerar novas oportunidades de emprego, gente que ajuda na produção de currículos, que outros que criam listas de cargos disponíveis nas empresas em que trabalham. A lista se estende a medida que os fatos vão surgindo.“O certo é que levando as caixas, nos damos conta que temos que dar um passo adiante”, nos explica Mayca. “Você acha que isso vai ajudar, mas encontra rupturas familiares, dificuldades com a educação dos filhos, doenças, o drama do desemprego, necessidades sem fim.” E surge a pergunta: Quem está a altura desta necessidade infinita, a altura do coração do homem? O envolvimento diário com esta realidade de dor e o desejo encarnado em rostos familiares têm nos ajudado a esclarecer está questão crucial. “Nosso objetivo não é administrar dinheiro ou solucionar os problemas de alimentação (ainda que venhamos fazendo isso com crescente eficácia) mas sim reconhecer que Cristo está presente e sabe abraçar a pessoa com toda a sua necessidade, até o ponto de liberá-la do peso de circunstâncias que a marcaram.“
E assim os voluntários do Banco de Solidariedade se dão conta que têm as mesmas exigências das famílias que ajudam, a necessidade deles, no final é a mesma.
E isso, em vez de atrasá-los, está acelerando o processo para continuar construindo. É impressionante como espetáculo desta presença na cidade levanta perguntas e dissolve preconceitos. Foi o caso de vários militantes socialistas, que após uma discussão inicial com voluntários que pediam alimentos na porta de um supermercado, se apresentaram na sexta com total disponibilidade para fazer as cestas. O reconhecimento expresso pelos onze vereadores de todos os partidos traz uma apresentação para um Centro Cultural dizendo:
"Isto é um bem para todos"
Os responsáveis pelos Serviços Sociais, com o que há crescido não só a colaboração, mas também a amizade,comentam que as famílias atendidas pelo O Banco de Solidariedade “falam de um abraço atrás do outro”. Uma boa descrição daquilo que acontece: Um abraço que afirma o bem que é a vida, seu significado e destino bom dentro da dureza das circunstâncias.
Mac, um nigeriano foi ajudado por dois anos pelo Banco com a cesta de alimentos, enquanto o ajudavam a escrever um currículo e formalizar seus papéis, encontrou finalmente um trabalho em Badajoz e seu agradecimento era tão grande que disse: “ Quero doar todos os meses 20 euros ao Banco porque também agora que estou trabalhando continuo a pensar em vocês. Desejo também ir todas as últimas sextas-feiras do mês para participar da preparação das cestas e estar com todos.” Ou o caso de uma família de Magrebe que prepara um lanche como forma de agradecimento aos voluntários que lhe levam a cesta e chama todos os seus vizinhos para que participem da iniciativa. Outra família que conseguiu trabalho e não precisa mais da cesta, pede aos amigos que a traziam para não parar de visitá-los.
Fora de quaisquer planos, o fato é que durante estes anos, o raio desta caridade em ação se estendeu até cobrir 6 municípios da região. E como dizia um político local: “Eu aprecio que venha nos ver, não só para falar das desgraças que já conhecemos, mas para nos fazer ver que no meio da crise, há esperança.” Tão concreta e tão real quanto os rostos daqueles que experimentaram este abraço.
Credits /
© Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón