“Es bueno que tú existas”. É a frase escrita, em grandes letras vermelhas, como título do panfleto que nesta semana foi distribuído pelos jovens universitários de CL (CLU) de Madri nos corredores de suas Faculdades. Um gesto que suscitou sensação e reações violentas no meio dos estudantes da Universidade Complutense, porque focaliza a atenção sobre um tema que está esquentando os espíritos da população espanhola, e não só: o aborto e os direitos da criança.
Na Espanha, com efeito, o debate se acendeu quando, em dezembro de 2013, foi proposto um projeto de lei visando restringir os casos em que o aborto não seria reconhecido como crime. Um passo para trás de trinta anos, para grande parte dos jornais e da opinião pública. “Nós com este panfleto queremos sublinhar qual é o verdadeiro ponto da questão: uma mulher que sofre violência não resolve o seu drama abortando, o que ela deseja é amar e ser amada, é preciso voltar ao valor da pessoa” explica Rocío, que frequenta o último ano do curso de História da Arte.
“Quando saiu o panfleto do Movimento, que dava um juízo claro sobre a situação, decidimos distribuí-lo na nossa Faculdade”. Mas já na quarta-feira, panfletando nos corredores de Ciências Políticas, foram agredidos por um grupo de feministas e por jovens militantes políticos. “Sabíamos que estávamos entrando na cova dos leões”, conta, “mal começamos a dar os panfletos e nos atacaram verbal e fisicamente. No nosso ambiente este assunto é um tabu, são quase todos favoráveis ao aborto e não há ninguém portador de uma visão como a nossa”. Mas não é a primeira vez que distribuímos panfletos de juízo na Universidade, e sempre nasceu algo bonito a partir destes gestos. O mal e a violência existem, e me causam medo, mas, olhando a minha experiência, nestas ocasiões sempre nasceram, no diálogo, relacionamentos que são um bem. E no final é isto o que fica”.
Portanto, apesar de tudo, quinta-feira repetiram o gesto na faculdade de Ciências da Informação, onde se repetiu a mesma cena de violência. “Várias vezes me perguntei se era verdadeiramente útil o que estávamos fazendo, visto que ninguém tinha vontade de nos escutar: quem nos ataca parte de uma posição ideológica, não quer nem mesmo saber o que temos para dizer”, recomeça a contar Rocío. Mas ficaram surpresos também desta vez: “Algumas moças, que têm um jornalzinho, se aproximaram e nos perguntaram o que tínhamos a dizer, com outros iniciamos um diálogo, ainda que eles defendessem uma ideia diferente da nossa”.
Como também alguns rapazes comunistas da associação "Tempos modernos", que Rocío havia conhecido na Universidade: “Com eles nasceu um belíssimo relacionamento, nos ajudamos, e um deles, lendo o panfleto, disse: Que inveja! Quem dera eu pudesse dizer uma coisa semelhante”. Sobre o aborto eles têm as mesmas ideias das feministas que nos agrediram, mas a partir da amizade que os liga aos jovens do CLU, sem preconceito leram o panfleto, reconhecendo que ter uma visão do homem assim, olhá-lo pelo seu valor, é desejável. “Nós não queríamos impor a nossa ideia, mas fazer refletir sobre o problema, porque às vezes parece que abortar seja como ir ao cabeleireiro”.
E conclui: “Eu tinha medo, a violência me endurece, mas depois pensei que, se o medo e o mal nos bloqueiam, então quer dizer que eles vencem”. Ao invés não, e isto os outros o veem: “A minha não é coragem, mas a certeza do bem, que é o mesmo para todos os homens”. A violência é a que faz mais barulho, mas “vendo as feministas eu senti um impulso de ternura porque desejo isto também para elas. Fiquei pensando: Eu sou mais livre do que vocês, porque não leem nem mesmo um panfleto que traz uma ideia deferente da de vocês. Não é verdade que eu não sou livre porque vocês me obrigam a ir embora”. E uma última descoberta: “O coração humano é igual para todos, disto eu tenho certeza. E os nossos amigos comunistas são a prova mais evidente disso”.
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