Esses dias são um convite. Um convite que entra de repente chamando a sair da fortaleza onde o nosso eu pode estar fechado. Um convite que quer me tirar da defensiva e quer desarmar as minhas barricadas.
Eduardo Campos perdeu a vida tragicamente. No Iraque, um povo é obrigado a fugir das suas casas sofrendo um drama terrível por causa de um fundamentalismo cego que odeia o diferente de si e então precisa exterminá-lo para viver. Entre Israel e Palestina, o impossível diálogo. Crise entre Ucrânia e Rússia.
Mas mesmo sem aparecer nos jornais, nas nossas casas, entre as nossas amizades, vive-se esse estranho momento em que é tão difícil ser amigo, olhar o outro, aprender com ele, dialogar, caminhar junto. Como disse recentemente o Papa Francisco na Coréia: “É como se um deserto espiritual se estivesse propagando em todo o mundo” (Encontro com os jovens da Ásia, 15 de agosto de 2014).
Tudo isso que está acontecendo e as eleições de Outubro próximo são uma grande provocação que pode abrir uma brecha. Uma brecha que é como uma ferida que não é mortal mas é para nos fazer viver mais. Porque é uma ferida que nos devolve o nosso eu adormecido.
Papa Francisco é uma grande testemunha que podemos observar e seguir nestes dias. O que ele testemunha é que quando Cristo, com a sua força de atração, está no centro do coração do homem, aí o homem e todos os seus problemas estão no centro, porque Cristo ama o destino do homem.
Colocamos abaixo alguns trechos da exortação apostólica do Papa Francisco Evangelii Gaudium (Cap. IV) para podermos verificar a provocação que é o momento das eleições. O risco é o de assistir a um espetáculo já conhecido, de ser espectador de um momento que não me vê protagonista ou onde não quero entrar para não me sujar as mãos. Mas o que estamos vendo com o Papa é que é fácil viver no nosso mundo individualista e, quase sem nos darmos conta, não termos mais aquele ímpeto ideal de querer mudar o mundo. O mundo muda se eu mudo, a sociedade muda se a minha humanidade muda, se aceita quebrar algo que está cristalizado e, talvez, sem esperança. “Não nos deixemos roubar o fundamento da nossa esperança!” (Papa Francisco, Basílica do Santo Sepulcro, Jerusalém, 25 de maio de 2014).
“Peço a Deus que cresça o número de políticos capazes de entrar num autêntico diálogo que vise efetivamente sanar as raízes profundas e não a aparência dos males do nosso mundo. A política, tão denegrida, é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum. Temos de nos convencer que a caridade ‘é o princípio não só das micro-relações estabelecidas entre amigos, na família, no pequeno grupo, mas também das macro-relações como relacionamentos sociais, econômicos, políticos’. Rezo ao Senhor para que nos conceda mais políticos, que tenham verdadeiramente a peito a sociedade, o povo, a vida dos pobres. É indispensável que os governantes e o poder financeiro levantem o olhar e alarguem as suas perspectivas, procurando que haja trabalho digno, instrução e cuidados sanitários para todos os cidadãos.
Lembremo-nos que ‘ser cidadão fiel é uma virtude, e a participação na vida política é uma obrigação moral’. Mas, tornar-se um povo é algo mais, exigindo um processo constante no qual cada nova geração está envolvida. É um trabalho lento e árduo que exige querer integrar-se e aprender a fazê-lo até se desenvolver uma cultura do encontro numa harmonia pluriforme.
Às vezes interrogo-me sobre quais são as pessoas que, no mundo atual, se preocupam realmente mais com gerar processos que construam um povo do que com obter resultados imediatos que produzam ganhos políticos fáceis, rápidos e efêmeros, mas que não constroem a plenitude humana.” (Trechos da Evangelii Gaudium, cap. IV)
Diante dessas palavras, o que sentimos vibrar em nós?
Convidamos todos a um trabalho pessoal e a um diálogo com todos aqueles que acreditam que seja possível uma mudança, que seja possível construir uma sociedade melhor. Pessoas que desejem começar processos que visem ao bem comum de um povo a partir da mudança da própria pessoa.
Propomos novamente também a entrevista à agência Zenit ("Fazer um caminho solitário é muito difícil, senão impossível") porque pode ajudar nesse trabalho de consciência e de encontro.
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón