“Uma casa”. Construída “com a ajuda de todos”, preparada para acolher “gente que tem no coração o desejo de ser protagonista da vida” e de enriquecer-se com “amizades novas e velhas”. Bernardo Cardoso, o jovem presidente da Associação Meeting Lisboa, lê a mensagem que conclui os três dias de eventos, e pensamos que é verdade, nessa palavra está tudo: “Uma casa”. Muito bonita, simples e essencial, como toda a manifestação, mas acolhedora.
Neste ano, o Meeting mudou de lugar. Do Campo Pequeno, o local das duas primeiras edições, para a beira-Tejo, junto aos paralelepípedos de pedra clara desenhados por Vittorio Gregotti para o Centro Cultural de Belém (CCB). Sede de prestígio. Do outro lado está o Mosteiro dos Jerônimos, obra-prima manuelina que por si só vale a viagem. Um pouco mais adiante, a Torre de Belém e a vista para o oceano que se vê ao longe, a seguir a foz do rio. O Meeting contenta-se com a tenda branca que ocupa uma área no exterior do CCB, mas o horizonte é igualmente amplo. Já na véspera à noite, no vaivém de voluntários, amigos locais e gente vinda de longe para dar uma ajuda (56 jovens só da Espanha, mas também um bom grupo de italianos) e montar os stands, o palco, as exposições. Uma das exposições é aquela sobre Dom Giussani preparada na Itália pelos seus dez anos de falecimento. As outras surgiram e desenvolveram-se aqui, de um enamoramento por Van Gogh e do desejo de aprofundar a reflexão sobre a Europa, iniciado com a questão colocada por Julián Carrón exatamente há um ano: “É possível um novo início?”.
Uma pergunta que é próxima da que dá o título ao Meeting, tomada de uma carta de Giacomo Leopardi a um amigo: “Se a felicidade não existe, então o que é a vida?”. E para responder haverá rostos com histórias, mais do que palavras. A começar pela tarde de sexta-feira, quando sobe ao palco Paul Bhatti para testemunhar a sua luta pela defesa dos cristãos do Paquistão. É introduzido por Aura Miguel, vaticanista da Rádio Renascença e uma das promotoras do evento.
Conhecemos Bhatti: é médico, viveu muito tempo na Itália, mas acabou assumindo o legado de Shahbaz, o irmão mais novo que era ministro das Minorias Religiosas e foi assassinado pelos talibãs de Islamabad em 2011. Bhatti fala de si, da mãe que o encorajou a prosseguir o trabalho, “porque é preciso seguir o que Deus pede”. E da ideia de voltar para a Europa, levando do Paquistão familiares e amigos, que muda subitamente quando, no funeral de Shahbaz, vê reunido o seu povo. Esse povo que chora mártires como as 15 vítimas do atentado de Lahore no mês passado, ou tenta defender Asia Bibi e tantos outros presos por causa da lei da blasfêmia, que permite denunciar os cristãos impunemente. Mas olhando para Bhatti, vendo o seu olhar, percebe-se que sim, que é possível ser feliz mesmo assim, mesmo arriscando a vida, se ela é dada por aquilo que vale pena.
À noite, concerto de fado, introduzido por Rui Vieira Nery, o grande especialista nesta música que narra a alma e o coração de Portugal. Fala de saudade, do desejo de felicidade, que assediava Leopardi, como poucas expressões artísticas conseguem. No palco vão-se alternando homens e mulheres, vozes mais jovens e fadistas maduros. A terminar, Ricardo Ribeiro, uma estrela em ascensão e espírito inquieto, como diz antes de cantar, falando de si: “Procurar a felicidade, sempre, é a coisa mais importante da vida”.
No sábado, outros encontros. Fala-se de empresa e do “desafio do desenvolvimento”. Um dos convidados, José Manuel Fernandes, jornalista de renome, escreverá no Observador ter ficado impressionado pela pergunta que lhe foi dirigida sobre o contraste entre um país cheio de gente que quer viver e construir, e o retrato da mídia, que está “sempre anunciando uma catástrofe iminente ou lamentando mais uma desgraça. Respondi-lhe como pude, […] A resposta que lhe dei importa pouco aqui […] o que fui ouvindo ao longo daquela manhã e as conversas que tive depois com alguns dos que estavam lá […] alterou o estado de espírito algo sombrio com que entrara”.
Depois se passa à Europa, com o testemunho de Valentina Doria, ginecologista, e Davide Perillo, diretor da revista Tracce. Falam de si e das suas experiências, mas estão ambos impressionados pelo que veem acontecer ali. Pela mostra sobre este tema, por exemplo, nascida para aprofundar a intervenção de Carrón em abril de 2014, para ver de onde surgem o desmoronar das evidências e a fome dos “novos direitos” e que contribuição pode dar a fé no contexto atual. Para um grupo de jovens foi a oportunidade para um confronto contínuo com a sua experiência pessoal (“Está vendo este quadro de Magritte, com a pomba na gaiola aberta mas que não voa? É o homem moderno, mas eu também, muitas vezes, me sinto assim…”) e para uma amizade carregada de perguntas. Nos painéis, entre quadros de Bacon e citações de Bento XVI, há também e-mails e testemunhos deles. “Devia fechar-me em casa e estudar, sem ver ninguém. Assim melhoro as notas e amanhã posso ter um emprego melhor. Mas não me basta ser feliz quando for velha. Quero ser feliz agora!”. Tinha sido escrito por Mariana, ateia, à amiga Mafalda, do Movimento. As duas estão aqui agora. E é um espetáculo vê-las trabalhando juntas ou discutindo com os outros jovens ou com a Sofia, a amiga adulta que uniu as pontas soltas do trabalho.
Como também é um espetáculo o estímulo que levou Patrícia a estudar Van Gogh, depois de ficar impressionada com uma lição. “É como eu, tem o mesmo desejo que eu”. A mostra, sobre “um olhar escancarado para o real”, nasceu assim, seguindo esse desejo. Dele se fala um pouco mais tarde, num encontro com a crítica de arte Luísa Soares de Oliveira e o artista Pedro Calapez. Mas no fundo é o mesmo fio condutor do encontro noturno, que leva ao palco três vencedores de prêmios científicos e literários (Henrique Leitão, Afonso Reis Cabral e Elvira Fortunato), antes da festa-concerto.
A última manhã é dedicada às crianças e o último encontro a Miguel Araújo, cantor e compositor do Porto que exprime pela música a vida quotidiana, interrogações, medos, expectativas, com ironia e profundidade. É um belo diálogo, toca o coração, mesmo de quem veio do exterior e, portanto, não o conhecia. Mas, se sentiu em casa.
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón