Poucas pessoas discordariam do fato de que o Brasil vive uma grande crise que afeta diferentes aspectos da vida social.
Desde a eleição, onde se ouviu que era possível “fazer o diabo” para vencer, ou que, independente do resultado das urnas, nada de bom poderia surgir, o que levou 29% do eleitorado (abstenções, brancos e nulos) à decisão de não participar da escolha do presidente, já tínhamos sinais claros de um país dividido e com poucas esperanças.
Passadas as eleições, íamos conhecendo os detalhes e as proporções daquela que parece ser a nossa grande chaga: a corrupção.
Na educação, a situação não é menos crítica... Mesmo com o aumento dos recursos financeiros nos anos anteriores, a qualidade da educação que oferecemos aos nossos jovens continua muito baixa. Para completar, o pós-eleição nos trouxe a notícia de cortes no orçamento e a impressão de que bons resultados parecem, cada vez mais, uma realidade distante, sobretudo pelo descompasso entre as deficiências e as propostas.
Se formos falar da saúde ou da segurança pública também aí a situação não é boa...
Neste contexto, mais do que explicações dos aspectos da crise, a urgência maior é saber como enfrentar de forma positiva e propositiva esta situação. Análises das trevas, muitas já foram feitas, o nosso problema é acender uma luz, mesmo que seja a de um palito de fósforo...
Por um lado temos uma parte da população convicta de que não existem alternativas. Outros continuam a crer que a solução esteja em algum projeto de “sociedade perfeita”. Apesar da diversidade de propostas, há uma característica que está em todos estes projetos, tornando-os igualmente ideologias revolucionárias: para garantir a mudança radical da sociedade (a fim de alcançar aquilo que eles chamam “mundo melhor”), estes projetos pressupõem a concentração de poder nas mãos de um ou alguns dirigentes que passam a ter um controle cada vez maior sobre a sociedade - o que em última instância substitui (e por isto destrói) a liberdade de ação das pessoas e dos grupos. A Venezuela, de Nicolás Maduro, é o mais recente exemplo de nação que está pagando o alto preço de ter entrado por este caminho. Quanto ao Brasil, não podemos pensar que este perigo esteja fora do nosso horizonte. Quem nos governa tem pretensões semelhantes às de Maduro, com a diferença de que ainda não dispõe dos mesmos recursos (lá a soberania dos poderes de Estado, por exemplo, já foi suplantada).
A nós esse caminho não interessa, pois pensamos que uma alternativa só é verdadeira se leva em consideração a realidade na totalidade dos seus fatores, sem negar nada.
A primeira realidade a ser considerada é aquele ímpeto que cada ser humano traz no coração, aquelas exigências fundamentais (verdade, liberdade, felicidade, beleza, justiça etc.) que são como o motor de tudo aquilo que ele faz. Essas exigências não são uma criação, um sonho ou um projeto de um sujeito. São realidades vivas, na medida em que constituem como que a marca registrada do ser humano e, consequentemente, aquilo que determina o valor de cada um.
A essa altura alguém poderia perguntar o que isso tem a ver com a superação da atual crise social e política do Brasil... Resposta: tudo.
O fato de mudar a classe dirigente, por mais importante que seja isto, especialmente no contexto atual, não garante que a crise será superada. Somente uma mudança no modo de relacionamento entre a pessoa e o poder, entre a sociedade e o Estado, pode abrir o caminho para a construção de uma sociedade mais decente.
Nesse novo relacionamento deve-se, antes de tudo, reconhecer o valor de cada pessoa (decorrente dessas exigências fundamentais que a constitui) e de todas as realidades que dela nascem: a família, as associações, as obras sociais, as empresas... Assim, construiremos a partir daquilo que existe e não a partir de sonhos, desafiando cada pessoa, cada grupo social, a agir como protagonista.
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