“O trabalho não é tudo. Mas nele a gente se joga inteiro”. Para poder dizer isso, o italiano Giorgio Grasso, nascido em 1964, percorreu uma brilhante e febril carreira na direção de pessoal de várias empresas e multinacionais. Algo que sempre desejou e que durou até um ano atrás, quando passou a ser taxista.
Para entender, voltemos um pouco na história. Diplomado em Jurisprudência, tinha um plano de estudos bem-orientado: “Eu queria trabalhar na gestão de relações pessoais, num âmbito onde os relacionamentos estivessem no centro. Porque isso me apaixonava e eu me sentia estimulado”. O primeiro emprego no banco durou pouco; pede demissão, para desassossego do pai, preocupado com o seu futuro. Tem 26 anos e ideias claras. Começa numa empresa de restauração coletiva, onde faz um pouco de tudo, mas, sobretudo, começa a ter contato com as representações de base. A atividade sindical, naqueles anos, era forte: disputas, contraposições. “Logo aprendi que a minha formação técnica e teórica tinha um valor marginal. Precisava aprender tudo na prática. E me joguei nisso”.
Depois de um ano e meio assume a direção de pessoal no grupo Rinascente, que gerencia lojas de departamentos. “Foi a experiência mais formadora que tive, mais rica de conteúdos e de método. Nós éramos um grupo de jovens, que entramos juntos na empresa, e por isso cimentamos relações importantes”. Daí, o salto às multinacionais. “Eu era ajudado por um mercado de trabalho incomparável com o de hoje: receptivo, dinâmico, com contínuas oportunidades”. Entra na Coca-Cola. Permanece aí por dois anos, onde segue toda a aquisição e a transformação dos estabelecimentos de produção, começando a enfrentar o aspecto mais duro do ofício: o das demissões. A partir daí, o ritmo se torna cada vez mais intenso. Com a explosão da Internet e postos de trabalho sobrando, passa da Coca-Cola para a Nestlé. Depois se lança como empreendedor na área de tecnologia da informação, mas logo retorna às empresas.
É o ano 2000 e ingressa na empresa alemã Software AG. Sua atividade é residual: “Contratava, contratava, contratava... Continuava a colocar gente dentro, que depois de dois meses saíam, e novos entravam. Uma mobilidade impressionante. Aliás, até esse aspecto, a oferta de aumentos salariais desproporcionais, faz parte do crescimento descontrolado, que se revelou destrutivo”. Tudo entrou em colapso. Ele o sentiu na pele, vendo-se na obrigação de administrar a crise: processos de “reestruturação” contínuos, passando de 400 funcionários para uma dezena... Será assim também em outras companhias, sempre em fase de diminuição. Giorgio sistematicamente administrou cortes, requalificações, redesenhando as estruturas.
Com o tempo, a dureza da função faz desaparecer o estímulo motivacional do início e a satisfação com uma profissão que ama. E que vê mudar. “Antes havia um conteúdo muito mais estratégico na gestão de pessoal: a importância e também a problematicidade dos relacionamentos era central. A atenção às relações interpessoais no trabalho era muito mais sentida. Agora tudo se acelerou, há uma multidão de plataformas de interação, que empobreceu as relações, em termos de frequência e qualidade”.
Ele acabou vivendo com crescente dificuldade a pressão. “Eu percebi que estava sendo cada vez menos capaz de administrar o stress”. Seu trabalho há anos não tinha mais horário. “Mesmo quando estava em casa, não estava, porque trabalhava no computador ou porque estava sempre tenso”, e já tinha três filhos. “Minha mulher Angeles sempre demonstrou uma paciência infinita. Nunca reclamou da minha ausência, nem me pediu para mudar de trabalho. Sempre me apoiou. Também quando eu decidi mudar de vida”. Seu último emprego foi numa consultoria italiana, em 2013, da qual se demitiu em fevereiro do ano passado. Para trabalhar como taxista.
“Foi uma escolha difícil. Eram anos nos quais eu expunha à família e aos amigos a problemática do trabalho; eu me arrastava estoicamente”, conta. “O orgulho é poderoso. E depois eu já nem ousava desejar que a circunstância mudasse: eu dizia a mim mesmo que, se essa era a realidade que me foi dada, eu precisava vivê-la. Eu me atormentava, mas era abstrato”. Tanto que não conseguia dormir.
Falava disso com os amigos, com pessoas que estimava e que faziam o mesmo trabalho. Um sacerdote, toda vez que ele pedia ajuda em relação ao trabalho, lhe respondia falando da vida como vocação, da relação com Deus e do casamento. “Eu não entendia. A minha fé estava nas margens, não entrava na problematicidade do trabalho. Só comecei a intuí-lo depois”. Graças também à sua mulher.
Um dia, um amigo perguntou a ela o que achava da escolha feita pelo marido, e ela disse: “Eu não me casei com um dirigente, casei com o Giorgio”. Foi como lembrar-se de si mesmo. E “devagarzinho”, diz ele, “comecei a entender também a defasagem humana que eu vivia: sem perceber, a gente absolutiza o trabalho. Agora começo a ver claramente a distinção: não é o objetivo da vida, mas é o modo como se vive o escopo da sua vida”.
A mudança teve um impacto na qualidade de vida, para eles, para os filhos, “até como imagem social, digamos. Mas eu não lamento nada. Estou usufruindo cada dia o encontro com as pessoas que sobem no táxi. Ajudou muito ter aceitado um trabalho mais adequado a mim”. Muda também a relação com o dinheiro. “É mais consciente. Antes, para mim, era óbvio fazer retirada da conta corrente; agora, toda noite levo para casa, nas mãos, a receita do dia e a dou à minha mulher”.
Não é a apologia do “pobre, mas feliz”, nem é que o trabalho perdeu, para ele, importância. Ao contrário: “Estou descobrindo a sacralidade dele. É a correspondência a uma função. Para mim significa, durante a jornada, recordar-me do Senhor e de quem eu sou”.
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