Quando, em outubro de 1986, Dom Giussani encontrou as comunidades da Sicília ocidental de Alcamo, ficou impressionado com a “seriedade do amor à vida” desse grupo de homens jovens, que, em uma terra pobre e sofrida, viviam uma “conexão intuitiva entre a fé e a vida concreta” que se expressava acima de tudo através da paixão pelo trabalho.
Alguns anos antes, ali em Alcamo, um grupo de jovens tinha encontrado a experiência do Movimento de Comunhão e Libertação e tinha constituído o primeiro núcleo de jovens trabalhadores. E realmente eram bem jovens: quase nenhum deles tinha mais de dezoito anos. Trabalhadores um pouco menos, porque as possibilidades de ocupação eram raras. Muitos deles tinham começado a trabalhar ainda criança, mas eram ocupações temporárias, mal remuneradas, muitas vezes perigosas devido a falta de qualquer segurança.
Juntos tinham decidido criar sozinhos o próprio trabalho, constituindo duas cooperativas que faziam um pouco de tudo: da prevenção de incêndio nas áreas de bosque à limpeza de cemitérios, como também o cultivo de melões e a gestão de centros de férias para crianças.
A inauguração
A história ali depois os levou, seguindo uma paixão e uma oportunidade que nasceu da caritativa com pessoas idosas e com deficiência, a ingressar em uma associação e a constituir um asilo, com um andar dedicado também a pessoas afetadas por doenças psiquiátricas.
Tudo aquilo que tinham aprendido nos primeiros anos revelou-se muito importante, porque quando dizem que construíram a estrutura, quer dizer no sentido literal: “Tijolo sobre tijolo”.
Desde então passaram-se anos de dedicação paciente, que levaram os primeiros amigos a agregar outros, até que quarenta pessoas trabalham hoje estavelmente na associação. E com contratos fixos.
A ideia de trabalho de verdade, digno, é algo que eles tiveram claro desde o início. Em uma terra que com frequência, porém, o trabalho fica a mercê de trocas de favores políticos e os contratos são por tempo indeterminado para que se possa sempre exercer o controle sobre as pessoas, eles quiseram imediatamente viver e mostrar algo de diferente: “Te contrato porque te estimo e quero construir com você”.
Com o tempo, a associação virou uma porta de entrada para as necessidades sociais, um imã para tantas simpáticas e estranhas pessoas que nessa amizade encontraram uma nova família, um ponto de estabilidade, um abraço incondicional. Assim, o asilo hoje é o ponto de partida de muitas caixas de alimentos, que são levadas às famílias de uma caritativa. E é também um centro de solidariedade para os que solicitam assistência. E tantas outras coisas.
Dessa origem criativa e complexa nasceu algo novo. Pondo as mãos na realidade a paixão não se acalma, mas só aumenta. E cresce a sensibilidade para as necessidades daqueles que os buscam e daqueles que são encontrados por eles.
Acompanhando pessoas com doenças psiquiátricas, Liborio, Peppe, Francesco e Massimo se deram conta de que poder trabalhar, se sentir util, é uma exigência também para eles. Não podem estar todo o dia em uma casa fazendo atividades de sociabilidade. Querem mais. Querem um trabalho. E a possibilidade de um espaço de trabalho começou a se tornar concreta com a aquisição de um terreno vizinho, em Partinico.
A primeira vez que viram o pôr do sol ali ficaram impressionados com o céu que parecia pegar fogo, talvez pegando um pouco o reflexo daquela terra, que também era assim tão vermelha. Por isso, irá ser chamada de “Rossa Sera” (“Anoitecer vermelho”), pelas cores do céu e dos campos. E também porque Alcamo é lugar de missões, como o Brasil que foi contado pelas canções escritas para os primeiros colegiais (giessini) que partiam para Belo Horizonte nos anos 60. E também nos corações desses amigos bate a paixão pelo mundo.
Sobre aquele terreno surge agora uma casa: hospedará dez pessoas com problemas psiquiátricos, que, além de viver, poderão também trabalhar. Foram começadas as primeiras plantações, com vinhas, oliveiras e tomates, e em breve começará também a oficina de processamento dos produtos. E, antes ou depois, será feito também um centro de formação, para ensinar aos rapazes todas as atividades.
“Neste período muitas iniciativas agrícolas estão fechando, os campos estão sendo abandonados e as empresas estão em crise. Também por isso que tantas pessoas olham a Rossa Sera como um ponto de esperança”, conta Liborio, um dos fundadores da cooperativa.
E Peppe, o presidente, acrescenta: “Aqui viverão juntos o desejo de construir e o abraço ao limite. Como que para significar que todo a humanidade que nos interessa, que construímos com aquilo que somos, por mais que possa ser falha e cheia de limites, nos foi doada”. A cooperativa, portanto, não dará trabalho somente a quem vive na casa, mas também a muitos outros, incluindo jovens sem trabalho e outras pessoas com dificuldade.
Na festa de inauguração, no sábado, 17 de junho, havia, no mínimo, oitocentas pessoas. Muitos passaram a noite anterior montando a decoração ou fazendo a comida, outros queriam somente estar ali, felizes por fazerem parte dessa amizade alegre e construtiva. Aqui e ali se via pais com os filhos com deficiência, cheios de curiosidade e esperança de que aquela coisa bela pudesse ser uma possibilidade também para os seus meninos.
Olhando para eles durante a inauguração nos damos conta de que aqueles primeiros jovens se tornaram realmente grandes. Alguns deles, pela festa, inclusive tiraram a camiseta e as sandalias e se vestiram de festa. Mas aquele frescor do início ecoa em seus humildes agradecimentos pela nossa história, para todos nós, amigos, que do resto da Itália fomos festejar, por esse lindo presente que nos foi dado para viver.
Vem à cabeça, novamente, Dom Giussani, naquele profético encontro em Alcamo de trinta anos atrás: “O gosto pelo trabalho que eu vi em vocês, a coragem diante do risco que eu vi nas iniciativas de vocês, é uma expressão da vida como serviço a um projeto maior, que se realiza nos tempos que nós temos para construir. Devemos construir o nosso pequeno grande pedaço de mundo. Venha o Teu Reino, e o seu reino é também um homem que busca deixar mais humana a própria vida e a dos outros”.
Monica Poletto è presidente da Cdo - Obras sociais