Em 2002, Clara Broggi e Giovanna Orlando, duas educadoras italianas que foram à África para acompanhar alguns projetos da AVSI, uma ONG italiana, fizeram a proposta de ler Educar é um risco de Luigi Giussani com amigos de Kampala. “Foi, de fato, o nosso primeiro ‘curso’ de formação sobre Educação. Depois disso, nestes anos, encontramos mais de 25 mil pessoas em toda a África”. Quem fala é Mauro Giacomazzi, italiano que mora em Uganda desde 2007. Ele viu nascer e crescer o Permanent Centre of Education (PCE): “Uma quase universidade, na qual formamos professores e organizamos cursos de atualização. Sempre tendo como farol aquele livro”. Ou seja, o percurso educativo no qual Dom Giussani, pela primeira vez em 1977, sintetizou sua experiência de docente e educador. “A Educação é uma comunicação de si, isto é, do próprio modo de relacionar-se com o real”, escrevia o fundador de CL, falando de um caminho no qual aluno e mestre são chamados a pôr-se em jogo com toda a sua liberdade.
Em 2005 o Pontifício Conselho Cor Unum apoia a iniciativa da AVSI e os cursos aumentam. Mas precisavam estruturar-se melhor. Daí a ideia de um centro que tivesse como finalidade comunicar a todos o desafio que Dom Giussani coloca em Educar é um risco com a citação do teólogo austríaco Jungmann, isto é, de uma Educação como introdução à realidade total.É uma revolução em comparação à ideia africana de professor. “Mas não só. Nestas sociedades falta a ideia do valor da pessoa”. O próprio ofício de professor, muitas vezes mal pago, é considerado pouco digno. “Ao contrário, antes de aprofundar técnicas de ensino, você inicia a fazer quem ensina entender que a criança que está na sua frente tem seus mesmos desejos, o seu mesmo valor. E que educar não é inculcar, como recitam os documentos programáticos do Ministério, mas que é fazer florescer, fazer emergir a pessoa”. Nada óbvio. “Às vezes temos que partir explicando por que é importante fazer chamada. Poucos a fazem, e é difícil que um professore saiba o nome de seus alunos”, explica Mauro.
O PCE continua a crescer ao longo dos anos. E não só em Kampala. Chegou ao Sudão do Sul, ao campo de refugiados de Dadaab, no Quênia, aos confins da Somália, ao Congo, Myanmar, Ruanda... “Sempre fomos atrás daquilo que acontecia”, diz o mesmo Mauro. Assim, surge uma demanda entre as mulheres do Meeting Point de Kampala: desejavam uma escola onde seus filhos pudessem crescer fazendo a mesma experiência que elas viviam. “De outro lado, também tínhamos necessidade de um lugar onde dar continuidade e vida àquilo que fazíamos no PCE”, completa Mauro. Nasce daí, em 2010, a Luigi Giussani, uma escola de ensino fundamental e médio, no bairro de Kireka, com mais de mil estudantes.
“Dom Giussani, justamente no Educar é um risco dá uma definição de ‘problema’: do grego, ‘algo que está em frente’. É o desafio que vivemos. Passo a passo, tentamos responder às solicitações da realidade, partindo da experiência que fazemos nas aulas”. Isto ocorre com a Luigi Giussani. Mas não só. Também com outras realidades, nascidas na experiência do Movimento, como as escolas de Nairóbi no Quênia, ou na Nigéria. “É a estrada para encontrar novas metodologias didáticas ou abordagens inéditas das matérias. Mas sempre para construir a relação educativa como a entende Giussani. A didática, a Escola, tornam-se instrumento para alcançar o coração de um jovem”.
A certo ponto também o Ministério ugandês toma conhecimento do PCE e lhe aprecia o trabalho. “Pediram-nos para fazer credenciamento como instituto para a formação de professores e mudamos o nome. Eles mesmos sugeriram o nome de Dom Giussani, por ver que o centro é dedicado a ele”, diz Mauro. Chega-se assim a hoje, com cursos e projetos em toda a África. “Começamos também a produzir pesquisas para estudar os resultados da nossa abordagem sobre os jovens. É uma evidência: nossos estudantes da Luigi Giussani estão felizes, empenham-se com ótimos resultados, e suas famílias também mudam. São mais abertos, mais destemidos ao enfrentar tudo, caráter difícil de encontrar nos africanos, muitas vezes aniquilados em suas interrogações desde pequenos”. Um benfeitor americano, em visita à Uganda, também percebeu a diferença: “Nunca vi jovens com tamanha paixão em contar aquilo que fazem, ao falar de si e de sua escola”.
Faz poucos anos, foram contactados por uma entidade filantrópica de Washington. “Encontramo-nos, eles aprovaram o financiamento, mas depois não deram mais sinais”. Por dois anos Mauro e os seus amigos ‘usam’ aquela doação. Depois, quase de surpresa, a entidade envia uma representante. “Era de origem africana. Nós tínhamos preparado uma pequena apresentação no andar de cima, mas faltava energia para o elevador. E ela tinha deficiência”. Transferem tudo para baixo. O rosto aborrecido da senhora, ressentida pelos transtornos, devagar se transforma. Até se emocionar: “Sabe, Mauro, quando se fala de Educação na África, eu choro porque todos pensam que não existe uma esperança. E, ao invés, hoje eu a vi”, confiou-lhe a mulher.
“Quando você toca o coração das pessoas, não sabe o que pode acontecer”, conta ainda Mauro. “Tenho comigo as palavras de um professor após um curso, no Sudão do Sul. Contou-me que na véspera, voltando para casa, tinha visto seu filho, de cinco anos, correr como louco para casa. Disse: ‘Ele sabia que, se tivesse chegado depois de mim, eu poderia bater nele. E, ao contrário, eu o vi e lhe disse para continuar a brincar. E que o chamaria para o jantar. Ele obedecia porque tinha medo. E em vez disso eu queria que me amasse’”.
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