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OS FATOS

Catalunha: A possibilidade de um diálogo autêntico

03/10/2017 - Em uma assembleia de estudantes, em Madri, falou-se do referendum. Uma moça de Barcelona disse: “eu sou independentista. Mas não é só isso o que me define...”. Os colegiais da Espanha contam como a unidade pode nascer, também onde não parece ser possível
Barcelona, os independentistas catalãs na praça.
Barcelona, os independentistas catalãs na praça.

30 de setembro de 2017. Faltam só 15 horas para o 1º de outubro, dia marcado para o referendo pela independência da Catalunha. Uma estudante de Barcelona se levanta em uma assembleia, diante de duzentos e cinquenta jovens reunidos em Madri, provenientes de diferentes partes da península ibérica: “Eu sou independentista. Mas percebo que não sou definida somente por essa posição. Nesses dias, na verdade, continuo a me perguntar quem sou eu. Fico incomodada se me chamam de ‘separatista’, como se esse termo identificasse tudo aquilo que eu sou. Tem uma coisa que sei com absoluta certeza: acima de tudo isso eu desejo ser amada. E me entristesse muito me sentir julgada constantemente. Hoje estou aqui, longe de Barcelona, porque a relação com uma amiga de Madri me ajudou a me despertar, a abandonar o ceticismo, a julgar tudo aquilo que estamos vivendo. Ela está me ajudando a viver, a entender a mim mesma”.

Esses estudantes têm dois hábitos particularmente estranhos. O primeiro é que falam e se escutam. E não fazem só um diálogo: se contam a própria vida, se fazem perguntas, se interessam por aquilo que acontece em volta deles, entram em relação com os seus professores e os adultos para serem ajudados a enfrentar os seus problemas, as feridas e os desejos. Ajudam-se e se corrigem. O segundo hábito é o de cantar. Cantam como canta um povo que tem algo para expressar. No caminho da tradição cristã, aprenderam a valorizar o ritmo dos spirituals afro-americanos, a alegria incontentável dos cantos irlandeses, e, até mesmo, a nostalgia dos habanere catalãs.


Uma manifestação dos integralistas em Madri.

Na conclusão da assembleia, quase trezentas vozes cantaram com decisão e sem timidez El meu avi . Essa bonita habanera faz com que eles se movimentem de um lado para outro, como a água do oceano que bate com força o Català (música escrita em homenagem aos soldados mortos na guerra hispano-americana). Longe da sua casa, os soldados valentes e cansados pensam na sua terra e cantam lembrando-se daquilo que eles deixaram: Viva a Catalunha! Viva o “Català”! Diante da beleza, ambos os lados “abaixam as armas”, e se unem a uma só voz. As diferenças não se dissolvem, mas não são mais elementos de inimizade e estranheza.

Esses jovens são em si a esperança para a Espanha. Eles encontraram uma realidade humana que os arranca da ingenuidade, do ceticismo, do ressentimento. Diante da ideologia que nos invadiu nesses dias, a curiosidade deles traça o verdadeiro caminho em direção da liberdade. No encontro com a esperança cristã uma estudante, que esperava tudo no 1 a 0, e uma comunidade inteira de estudantes e professores são capazes de se unir por conta própria e de se reconhecer como uma única coisa.

A verdadeira novidade nem sempre aparece no primeiro plano: no dia 30 de setembro, poucas horas antes do 1º de outubro, jovens de quinze ou dezesseis anos apostaram na possibilidade de um diálogo autêntico, fundado na compreensão e na estima do outro, também na vida política. Isso nos faz entender que tipo de proposta educativa é capaz de gerar essa unidade, corajosa e imprevista. Viva a Catalunha! Viva o “Català”! A canção daqueles jovens não era grito separatista estéril, mas o coração de uma experiência comum.

Os estudantes dos colegiais de Comunhão e Libertação da Espanha

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