O pontificado de Silvestre I (314-335) foi importante, mesmo que a figura deste Papa pareça a alguns historiadores um pouco secundária. John Kelly, pelo contrário, sustenta que a expressão “gloriosíssimo” atribuída a ele muitas vezes parece ter algum fundamento de verdade histórica.
Segundo o seu Grande Dicionário Ilustrado dos Papas, de Silvestre nos ficou o eco de dois breves, mas significativos, episódios. Dediquemo-nos ao primeiro deles, que aconteceu quando Constantino, o Grande, convocou o primeiro sínodo de Arles (314). Constantino não concedeu o encargo de presidência do sínodo ao Bispo de Roma, mas confiou a sua direção a Cresto, bispo de Siracusa, e a Marino, bispo de Arles: Silvestre inviou dois sacerdotes e dois diáconos. Terminados os trabalhos do sínodo, comunicou as suas decisões a Silvestre com uma carta que exprimia o reconhecimento do seu primado sobre o Ocidente.
Mas, eis o primeiro grande problema: as relações entre Constantino e o Papa, depois da conversão de Constantino. “A postura favorável assumida por Constantino quanto ao cristianismo provocou uma mudança no curso dos acontecimentos. Este foi um fato histórico de importância mundial que deu início, não apenas para o Estado Romano, mas também para a Igreja, a uma época completamente nova”, escreve August Franzen na sua Breve História da Igreja. Historicamente acontece uma verdadeira fundação de uma “igreja imperial”. Franzen continua: “Foi justo, para a Igreja, ter estreitado esta aliança com o Estado? É uma pergunta que remete a uma antiquíssima e muito difícil problemática, que não se resolveu até hoje”. Além do mais, quase pareceu que a autoridade papal tivesse sido eclipsada pela autoridade imperial.
Não podemos enfrentar o problema aqui; limitamo-nos a reconhecer que, depois de anos de perseguições, estava nascendo uma colaboração entre o Estado e a Igreja, entre o Papado e o Império, entre o Papa Silvestre I e o Imperador Constantino.
Em 325, Constantino (não o Papa) anunciou o primeiro Concílio Ecumênico, em Niceia. Papa Silvestre, por causa de sua idade, não esteve presente e se fez representar por dois presbíteros. Ainda que, durante o desenrolar do concílio, eles não gozassem do direito de precedência, todavia assinaram em primeiro lugar, depois do presidente, os atos conciliares. Ário defendeu sua teoria, mas depois de longos e agitados debates venceu a corrente que representava a ortodoxia: Cristo é “gerado da substância do Pai como o unigênito, Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial (homoùsios) ao Pai”.
Outro sinal da colaboração entre o Papado e o Império foram as “principescas doações do imperador”: tratava-se de grandes igrejas, como a Basílica constantina – mais tarde chamada de São João de Latrão – e as Basílicas de São Pedro e de São Paulo; durante o pontificado de Silvestre a Roma pagã começou a se tornar a Roma cristã.
Papa Silvestre I foi canonizado e a sua festa é celebrada no dia 31 de dezembro.
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