Bento XVI dedicou a Leão Magno a audiência do dia 5 de março de 2008, definindo-o como “um dos maiores Pontífices que honraram a Sé romana: o seu pontificado foi, sem dúvida, um dos mais importantes na história da Igreja”.
Em 430, se tornou diácono da Igreja de Roma e logo foi notado: em 440, foi enviado à corte imperial, numa missão diplomática na Gália, para resolver uma difícil situação. Esteve a serviço de modo exemplar primeiro do Papa Celestino I e depois do Papa Sisto III: depois da morte deste último, ele foi eleito Papa. O novo Papa foi consagrado no dia 29 de setembro de 440, data que ele celebrou todos os anos como aniversário do seu verdadeiro nascimento.
O historiador August Franzen o define como “Pontífice intrépido”. Enquanto que John Kelly, no Grande Dicionário Ilustrado dos Papas, fala dele assim: “Pontífice enérgico e tenaz, em toda a sua política e nas suas declarações oficiais se inspirou na convicção de que a suprema e universal autoridade da Igreja, originalmente conferida a Pedro por Cristo, tinha sido transmitida a todos os Bispos de Roma como sucessores e herdeiros do Apóstolo. Como, de fato, Pedro havia recebido do Senhor um poder maior comparado com aquele dos outros apóstolos, da mesma forma o Papa era ‘o primaz de todos os bispos’”. Segundo Bento XVI, “Leão mostrava como o exercício do primado romano era, então, necessário, da mesma forma que o é hoje, para servir de forma eficaz à comunhão, característica da única Igreja de Cristo”.
Leão Magno nunca mostrava a menor dúvida de que o primado pertencesse ao Bispo de Roma e que esse primado deveria se estender também a toda a Igreja do Oriente.
Como aconteceria mais tarde com o pontificado de Gregório Magno, a realidade induziu a responsabilidade do Papa a assumir um papel dominante não apenas no campo religioso, como também no civil e no político. Lembramos particularmente de um célebre episódio, retratado pelo gênio de Rafael na Sala de Eliodoro dos Museus Vaticanos. “O episódio data de 452, quando o Papa, em Mântua, junto com uma delegação romana, encontrou Átila, líder dos Hunos, e o dissuadiu de prosseguir a guerra de invasão com a qual já havia devastado as regiões do nordeste da Itália. E, dessa forma, salvou o resto da Península. Este importante acontecimento se tornou memorável, e continua sendo um sinal emblemático da ação de paz assumida pelo Pontífice”, escreveu o Papa Bento XVI.
Leão afirmou com sucesso a própria autoridade sobre todo o Ocidente. Porém, nos relacionamentos com o Oriente enfrentou grande resistência. O monge Eutíquio havia começado a propagar a doutrina segundo a qual Jesus Cristo tinha apenas uma natureza, a natureza divina, e não a humana: Papa Leão mandou a Flaviano, bispo de Constantinopla, superior imediato de Eutíquio, uma importante carta, conhecida como Tomo a Flaviano (Epistola dogmatica ad Flavianum), na qual condenava Eutíquio e esclarecia, com autoridade, a verdadeira doutrina da união das duas naturezas na única pessoa de Cristo (união hipostática). Esta carta foi definida como a primeira decisão infalível ex cathedra de um Papa.
Bento XVI ressalta outro fato importantíssimo do pontificado do Papa Leão: o Concílio da Calcedônia, “a mais importante assembleia até então celebrada na história da Igreja”. Desde o século VI o Concílio de Niceia (325), o Concílio de Constantinopla (381), o Concílio de Éfeso (431) e o Concílio da Calcedônia (451) foram considerados, com razão, ponto de referência para a verdadeira cristologia: eles resumiam a fé da Igreja antiga e foram comparados por Gregório Magno aos quatro Evangelhos. O Concílio da Calcedônia, contra a heresia de Eutíquio, afirmou a união na única pessoa de Cristo das duas naturezas, humana e divina: Jesus Cristo era verdadeiro homem e verdadeiro Deus. O citado Tomo a Flaviano foi lido na Calcedônia, e os Bispos presentes o aclamaram com a exclamação: “Pedro falou pela boca de Leão”.
Proclamado, em 1754, “Doutor da Igreja”, Leão Magno não foi teólogo original, mas foi um claro defensor da ortodoxia, como demonstram os seus 96 sermões e as suas 143 cartas, escritos todos com clareza, concisão e melodiosa prosa rítmica. Com Bento XVI recordamos, particularmente, aquilo que ele destaca num sermão a propósito da Páscoa: ela deve ser celebrada em todo tempo do ano “não tanto como algo do passado, mas muito mais como um evento do presente”. Morreu no dia 10 de novembro de 461, a sua festa é celebrada no dia 10 de novembro no Ocidente e no dia 18 de fevereiro no Oriente.
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