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OS PAPAS NA HISTÓRIA

Gelásio I – Um pobre que enriqueceu os pobres

por Eugenio Russomanno
08/11/2011 - Na sequência de textos sobre alguns dos mais significativos Papas da história, nos dedicamos, neste décimo primeiro, à vida de um homem “determinado a servir, mais do que a dominar”
Papa Gelásio I.
Papa Gelásio I.

Eleito no dia 1º de março de 492, Gelásio teve que enfrentar uma situação histórica, eclesial, social e política difícil.
Antes de mais, continuou a conduta intransigente do seu predecessor, Félix III, quanto ao cisma acaciano: Acácio, patriarca de Constantinopla, havia sido excomungado pelo Papa Félix III (483-492) por ter se vinculado ao monofisismo. Chegou-se à total ruptura entre Oriente e Ocidente e a um cisma que durou 35 anos (484-519). É preciso sublinhar que, em 490, as três sedes patriarcais de Alexandria, Jerusalém e Antioquia, estavam ocupadas por monofisistas, mas Gelásio foi inflexível, a ponto de perder inclusive a simpatia do imperador Anastásio (491-519): no tratado de teologia De duabus in Christo naturis, ele delineia claramente o ponto de vista ocidental.
Gelásio aproveitou toda ocasião para afirmar a supremacia da Sé Romana: Ambrósio de Milão já havia afirmado “Ubi Petrus, ibi Ecclesia”, e Gelásio foi o primeiro Papa a ser saudado como “Vigário de Cristo” (Sínodo romano de 13 de maio de 495).
Historicamente a fama de Papa Gelásio esta ligada ao conteúdo de uma célebre carta sua dirigida ao imperador Anastásio: retomando o pensamento de Ambrósio, Gelásio formulou com grande clareza o relacionamento que deveria existir entre a Igreja, “autoridade consagrada dos bispos” e o Estado, “poder real”, com a sua teoria (dualista) dos dois poderes. Como sublinha August Franzen na Breve História da Igreja, ele estabeleceu a diferença entre imperium e sacerdotium, opondo-se firmemente à identificação que o Império do Oriente fazia entre eles. Para Gelásio, a autoridade espiritual é independente da temporal; cada uma é soberana no âmbito que lhe compete; todavia, a autoridade espiritual tem uma importância maior, visto que também os reis devem prestar contas a Deus; porém, mesmo aqueles que sustentam o destino da Igreja devem obedecer, no que respeita à ordem pública, às leis imperiais. “Se, na ordem das coisas públicas, os bispos reconhecem a potestade que te foi dada por Deus, e obedecem às tuas leis sem querer ir contra as tuas decisões nas coisas do mundo, com que afeto tu deves obedecer àqueles que estão encarregados de dispensar os sagrados mistérios!”, lê-se na carta a Anastásio citada antes.
“Escritor prolífico” – como o definiu John Kelly, no Grande Dicionário Ilustrado dos Papas –, Gelásio deixou mais de cem cartas e seis tratados de Teologia: segundo o estudioso, depois de Leão Magno, ele foi o Papa mais relevante do século V, a ponto de superar o próprio Leão na compreensão das questões teológicas. Os contemporâneos nutriam por Gelásio um afeto extraordinário, como se vê numa descrição deixada pelo monge Dionísio o Pequeno: “Ela evidencia a sua humildade, a sua determinação a servir mais do que a dominar, a alegria que encontrava no conversar com os servos de Deus e no meditar sobre a Bíblia; descreve também a constância com a qual mortificava a sua pessoa, a generosidade para com os pobres e o modo com o qual, tomando como modelo o Bom Pastor, vivia exatamente segundo o ensinamento dos divinos preceitos”, escreve John Kelly. “Morreu pobre depois de ter enriquecido os pobres”, recorda Dionísio o Pequeno, e foi sepultado em São Pedo (496). A sua festa é celebrada no dia 21 de novembro.

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