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OS PAPAS NA HISTÓRIA

GREGÓRIO VII “Amei a justiça, por isso morro no exílio”

por Eugenio Russomanno
12/07/2012 - Gregório VII, na época da luta pelas investiduras, defende a liberdade da Igreja ante as pretensões dos reis e príncipes,a ponto de obrigar Henrique IV a fazer um caminho de penitência através dos Alpes...
O corpo de Gregório VII conservado na catedral de Salerno.
O corpo de Gregório VII conservado na catedral de Salerno.

Papa Hildebrando nasceu na Toscana, em 1020, e foi eleito ao sólio pontifício em 22 de abril de 1073. “Homem de habilidade, determinação e experiência excepcionais, cuja estatura intelectual transparece em suas cartas [Registrum], Gregório fez da reforma o nó central de seu programa. A sua altíssima, mística, concepção de Papado, exposta nas vinte e sete proposições do Dictatuspapae (1075), contemplava não apenas a santidade pessoal do Papa, derivada diretamente de São Pedro, mas também a sua supremacia sobre toda autoridade, tanto temporal quanto espiritual”, escreve o historiador John Kelly. A libertas ecclesiae era o objetivo principal da reforma gregoriana: o movimento reformista, que leva o nome e a marca de Gregório VII, combateu o modo pelo qual eram conferidos aos reis, príncipes e nobres os bispados e abadias (investidura de leigos) e os abusos que se criavam na concessão desta dignidade eclesiástica (simonia).
“Os ideais de Gregório VII foram nobilíssimos: a reforma dos costumes e a afirmação dos valores morais; a liberdade da Igreja frente a toda contaminação mundana e sugestão laica; o triunfo da justiça no reconhecimento dos direitos de Cristo e de Sua Igreja... São Gregório foi o defensor da liberdade do homem e da Igreja: lutou pela justiça e por ela chegou até a morrer no exílio”, escreveu João Paulo II.
Eleito Papa por aclamação popular, logo restabeleceu os decretos de seus predecessores contra omatrimônio dos clérigos e a simonia, e determinou a proibição das investiduras de leigos, vetando a intromissão dos leigos nas nomeações eclesiásticas. O jovem rei Henrique IV (1056-1106) não podia aceitar: tanto o Dictatus papae quanto as primeiras iniciativas do novo Papa tinham evidentemente uma incidência política fortíssima. Com o rei Henrique IV e o Papa Gregório VII (1073-1085,) entram paraa História os homens que, enquanto expoentes de duas visões contrapostas (o ponto-de-vista do Império e o ponto-de-vista do Papado) tem como resultado a luta pelas investiduras.
Quando Henrique fez valer seu direito real ao decidir a eleição episcopal na diocese de Milão (1072), desobedecendo a proibição do pontífice, Gregório reiterou a proibição da investidura laical e ameaçou o rei com a excomunhão. O rei, porém, não deu atenção à tomada de posição do Papa. Gregório reagiu imediatamente, excomungando Henrique IV e desobrigando os súditos do rei do juramento de fidelidade. As coisas se tornavam gravemente ruins para a própria autoridade política de Henrique IV. Chega-se, assim, ao célebre acontecimento de Canossa. Como escreve o historiador August Franzen: “No inverno de 1076/1077, Henrique iniciou seu caminho penitencial em direção a Canossa. Acompanhado pela mulher e o filhinho, com um pequeno séquito, atravessou os Alpes, em meio a grandes perigos. Nesse entretempo, também o Papa partiu de Roma para ir à Alemanha. Gregório alojara-sea pouco no castelo fortificado da marquesa Matilde da Toscana, quando Henrique chegou a Canossa, na encosta setentrional dos Apeninos. Vestido com a túnica dos penitentes, o rei esperou durante três dias diante da porta do castelo antes de obter permissão para entrar (26-28 janeiro de 1077). Graças à intercessão de seu padrinho, o abade Hugo de Cluny, e da marquesa Matilde de Canossa, pode finalmente receber a absolvição de Gregório”.
Gregório saíra da luta mais forte que nunca. Porém, em março de 1080, Henrique foi excomungado e destituído pela segunda vez: sua reação foi, então, violenta colocando Roma em estado de sítio. Gregório refugiou-se junto ao normando Roberto, o Guiscardo, (1015-1085), na Itália meridional, morrendo depois em Salerno, em 25 de maio de 1085.
Reconhecido por todos como um dos maiores Papas e uma das maiores personalidades da Idade Média, beatificado no ano de 1584 e canonizado em 1606, conforme o historiador Kelly, Gregório permanece objeto de controvérsia tanto para o mundo de hoje quanto para seus contemporâneos. Pio XII, em mensagem radiofônica aos fiéis de Salerno, em 11 de julho de 1954, definia Gregório VII como “um gigante do Papado, de modo que dele se pode dizer, com tranquila verdade, ser um dos maiores pontífices, não apenas da Idade Média mas de todos os tempos”. Dissipatoda controvérsia o juízo de João Paulo II que, na visita pastoral a Salerno em 26 de maio de 1985 disse: “De acordo com o testemunho dos cronistas da época, Gregório VII, doente, abandonado por muitos e aparentemente vencido, teria pronunciado as palavras: ‘Amei a justiça e odiei a iniquidade, por isso morro no exílio’. Sem entrar no mérito de sua autenticidade, (essas palavras) contêm uma profunda veracidade histórica porqueresumem o sentido de toda a obra do grande Papa e correspondem exatamente ao ideal supremo e constante de toda sua vida”. Conforme João Paulo II, a justiça é, para o Santo Papa Hildebrando, a ordem de Deus no mundo; dela se depreende que toda as coisas humanas, das menores às maiores, estão ordenadas de acordo com a vontade e a lei de Deus, que o homem não seja deformado pelo pecado mas plasmado à imagem de Deus. Segundo o pensamento de são Gregório VII, a tarefa básica e gigantesca do Papa é velar para que a iusticia Dei se realize e a iniquitas seja impedida por todos os meios. Conforme João Paulo II, Hildebrando, eleito Bispo de Roma em 22 de abril de 1073, foi, durante doze anos, o ardente e incansável protagonista daquela grandiosa obra de purificação e libertação da Igreja que, dele, tomou o nome de “reforma gregoriana”. São Gregório agia assim porque amava imensamente a Igreja, esposa de Cristo, que ele queria pura, casta, santa, livre. Sua festa se celebra em 25 de maio.

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