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OS PAPAS NA HISTÓRIA

CALIXTO II: O imperador e o fim de uma “longa luta”

por Eugenio Russomanno
25/09/2012 - Para a série sobre alguns entre os mais significativos pontífices da história, o papa que acaba com as contendas com o Império. “Um negociador hábil e paciente”, que indicou sempre o “amor pela paz”
Calixo II recebe homenagem de  Luís VI da França.
Calixo II recebe homenagem de Luís VI da França.

“Por muitos séculos, não havia sentado na cátedra de Pedro nenhum papa que fosse e se sentisse tão afortunado quanto Calixto: seja por sua prudência que por sua energia. A Cidade obedece reverente ao autor da Paz; sossegaram as lutas entre os partidos e, enquanto ele viveu, não mais soaram gritos de batalha entre as ruínas de Roma. Neste belo período de paz, o pontífice pode, por fim, pensar no bem da Cidade”. Foi assim que o historiador alemão Gregorovius fez o elogio de Calixto II.
Guido, de origem e parentela nobilíssimas, arcebispo de Vienne (França), desde 1088, foi coroado papa em 9 de fevereiro de 1119 com o nome de Calixto II. Tanto o Papa Calixto como o imperador Henrique V (1106-1125) estavam prontos para chegar a um acordo entre a Igreja e o Estado sobre a questão das investiduras: os tempos estavam propícios para a retomada das negociações e para um compromisso. Em 23 de setembro de 1122 se chega à célebre Concordata de Worms.
Procurou-se resolver o problema das investiduras com uma dupla investidura: ao rei seria dada a investidura temporal a ao Papa a investidura espiritual. O soberano concedia a investidura temporal com a transmissão de bens e direitos seculares (as assim chamadas regalias, de natureza temporal), simbolizada pela consignação do cetro. O papa e a Igreja podiam executar a consagração livre: a investidura espiritual, com direito canônico de eleição, que ficou de total competência do clero. A Concordata estipulava que era dada ao rei a possibilidade de entregar a investidura temporal apenas depois da eleição canônica e da investidura espiritual, com o anel e o pastoral.
Henrique renunciou, em seu nome e no de seus sucessores, à investidura de bispos e abades com anel e pastoral e garantiu à Igreja eleições canônicas e consagrações livres. Calixto concedeu ao rei ou imperador a presença nas eleições dos príncipes da Igreja para as sedes que se encontrassem na jurisdição do reino e de investi-los com regalias.
A Concordata de Worms pôs fim à longa “luta pelas investiduras” que teve como grandes protagonistas o Papa Gregório VII (1073-1085) e o rei alemão Henrique IV (1056-1106).
“Calixto assegurou a liberdade da Igreja na questão central da investidura”, escreve o historiador John Kelly.
Calixto ficou tão contente com o compromisso de Worms que mandou pintar um afresco sobre o tema na sala do palácio de Latrão. Em março de 1123, nesse mesmo palácio, aconteceu um grande Concílio Ecumênico (o primeiro Concílio de Latrão) que ratificou solenemente o acordo: o papa, infatigável mas moderado lutador da reforma, prevalece sobre objeções dos gregorianos intransigentes argumentando que as concessões feitas deveriam ser toleradas por amor à paz e não aceitas como princípio.
O Archivum Secretum Apostolicum Vaticanum conserva um pergaminho do caso. Realmente, o acordo conjunto das duas autoridades máximas, da Igreja e do Império, mostrava explícita e circunstanciada sanção dos dois documentos que se trocaram, naquela ocasião, Calixto II e Henrique V: o imperador concedia ao papa o documento atestando o pacto concluído e a mesma coisa fazia o pontífice com relação ao imperador. Infelizmente, se perdeu o documento concedido a Henrique V pelo papa Calixto II, enquanto que, no Arquivo Vaticano, se conserva o documento que o imperador concedeu ao pontífice, também chamado de Privilegium Calixtinum.
Concluo com as palavras de João Paulo II aos participantes de uma peregrinação promovida pela Association Calixte II, de Besançon (França): “O velho arcebispo de Vienne sobre o Ródano foi um negociador hábil e paciente. Num período de disputas profundas entre pastores e soberanos, Calixto II fez todo o possível para obter garantias de independência a favor da Igreja. A Concordata de Worms foi o resultado decisivo que, em muitos outros setores, consegue restabelecer a paz. Para dar maior importância às providências já tomadas, Calixto II convocou o primeiro Concílio de Latrão. Dele valeu-se, portanto, para unir os seus irmãos no episcopado pela tutela dos direitos da Igreja e, por outro lado, pelas reformas disciplinares que então se faziam necessárias”.

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