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OS PAPAS NA HISTÓRIA

ALEXANDRE III Um homem obstinado na defesa da Igreja

por Eugenio Russomanno
22/11/2012 - Continuação da série sobre alguns dos mais significativos Pontífices da história. No capítulo de hoje, a vida de um Papa que fez de tudo para proteger o clero. Até desafiar o próprio imperador...
<em>Alexandre III</em>, de Spinello Aretino, Siena.
Alexandre III, de Spinello Aretino, Siena.

Uma ótima introdução à figura e ao pontificado do papa Alexandre III (1159-1181) são as palavras do historiador August Franzen: “Quando o imperador Frederico I Barba Roxa quis restaurar a ideia da supremacia do poder imperial, eclodiu uma nova luta entre o imperium e o sacerdotium. Os direitos do papado foram defendidos obstinadamente por Alexandre III e a luta se arrastou ferozmente por uns vinte anos: da dieta de Besançon (1157) até à paz de Veneza (1177). Quatro antipapas imperiais, guerras e muito sangue derramado caracterizaram esse infeliz conflito, que causou muito luto à cristandade. Chegou-se, finalmente, à paz e o imperador foi liberado da excomunhão que Alexandre lhe havia imposto desde 1160”.
Orlando (Rolando) Bandinelli nasceu em Siena por volta do ano 1100. Foi um ilustre professor de direito em Bolonha: como professor de direito canônico e, depois, de teologia, e como estudioso de Abelardo, Bandinelli influenciou de modo notável as doutrinas jurídicas da época. Os principais frutos do seu trabalho desse período foram compendiados em duas obras: o Stroma e as Sententiae; como lembra Marco Falorni, a palavra “transubstanciação”, destinada a notável fortuna nas doutrinas eucarísticas, encontra-se pela primeira vez nessas obras.
Cardeal-diácono em 1150, cardeal-presbítero em 1151, chanceler em 1153 e, enfim, conselheiro do papa Adriano IV, na dieta de Besançon (1157) ele teve o primeiro encontro com Frederico I Barba Roxa. Quando morreu Adriano IV, a maioria dos cardeais elegeu Rolando Bandinelli (7 de setembro de 1159), que adotou o nome de Alexandre III. O imperador Barba Roxa aproveitou a ocasião de um dissídio interno na Igreja para apoiar o antipapa Vítor IV. Vítor excomungou Alexandre, Alexandre excomungou Vítor e anatematizou o imperador. Os episcopados e as ordens monásticas se reuniram em Toulouse, na presença de Henrique II da Inglaterra e de Luís VII da França, e se declararam a favor de Alexandre. Iniciava-se assim uma nova luta entre Império e Igreja, que viu sucederem-se, entre outras coisas, quatro antipapas: Vítor IV, Pascoal III, Calixto III e Inocêncio III.
Em dezembro de 1167 foi constituída a Liga Lombarda, para combater o superpoder de Frederico Barba Roxa: o papa Alexandre a apoiou, “pela honra e a liberdade da Itália e a dignidade da Igreja”. Uma cidade recém-fundada foi denominada, em sua honra, Alexandria. Frederico foi derrotado pela Liga Lombarda na batalha de Legnano, dia 29 de maio de 1176: começaram então as tratativas entre Igreja e Estado, que se concluíram com a paz de Veneza (24 de julho de 1177), com a qual o imperador se comprometia a reconhecer Alexandre como legítimo Papa em troca da retirada da excomunhão.
Alexandre III presidiu o importante III Concílio Lateranense (5 a 19 de março de 1179): nas votações papais era necessária a maioria de dois terços dos cardeais, como acontece ainda hoje; promoveram-se as universidades; exortavam-se as catedrais a organizar escolas; davam-se disposições para a perseguição aos hereges.
No Grande dicionário ilustrado dos Papas, John Kelly escreve: “Alexandre, primeiro entre os papas, foi um grande legislador e muitas das suas deliberações foram incorporadas pelos códigos posteriores de direito canônico. Manteve-se fiel à tradição reformista: um das suas providências mais características foi a efetiva abolição do direito de ter ecclesiae propriae... Pessoalmente tinha uma clara visão do que seria necessário realizar, mas preferia adaptar-se a soluções pacíficas, desde que não prejudicassem os interesses substanciais da Igreja... É preciso reconhecer-lhe o mérito de ter impedido que Frederico reduzisse a Igreja a uma condição de absoluta dependência”.
João Paulo II dirigiu-se aos peregrinos de Alexandria dia 14 de novembro de 1981, no oitavo centenário da morte do grande Papa, que morreu em Civita Castellana (Viterbo) dia 30 de agosto de 1181, com as seguintes palavras: “Os peregrinos de Alexandria vieram a Roma para celebrar com especial solenidade um acontecimento de natureza e alcance eclesial. O oitavo centenário da morte de Alexandre III, o Papa em cuja honra foi construída a cidade, tendo aceitado presidir a célebre Liga Lombarda contra o imperador Frederico Barba Roxa, nos faz lembrar um período bastante difícil e complicado da história da Igreja. O cardeal Rolando Bandinelli de Siena, douto teólogo e insigne jurista, que se tornou Pontífice dia 7 de setembro de 1159, teve que carregar uma cruz bem pesada: seu longo pontificado foi marcado pelas contínuas lutas contra o imperador, para salvaguardar os direitos da Igreja, pelo cisma que perdurou com a sucessão de quatro antipapas, pela corrupção que serpenteava por toda parte, pelas frequentes guerras que espalhavam miséria, crueldade, perseguições. Mas, ao final, o imperador se submeteu a Alexandre III, fez-se a paz na Igreja e o Papa, que retornou definitivamente para Roma, teve condições de convocar o Concílio Lateranense III, o undécimo Concílio Ecumênico. Esse período de história agitado e dramático, já tão distante, nos ensina, todavia, a ser sempre e por toda parte portadores de paz”.

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