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OS PAPAS NA HISTÓRIA

GREGÓRIO IX: O amigo de Francisco e a “lei triste”

por Eugenio Russomano
12/04/2013 - Continua a série sobre alguns dos mais significativos pontífices da história. Desta vez, um Papa “enérgico e profundamente religioso” que defende a Igreja contra as pretensões do imperador Frederico II e que também aprovou a primeira lei inquisitorial

Hugo ou Hugolino, sobrinho de Inocêncio III, filho do conde de Segni, nasceu em Anagni, por volta de 1155 e foi eleito para a cátedra de Pedro em 19 de março de 1227 com o nome de Gregório IX: este monge camaldulense, ao contrário de seu pacato antecessor, “tinha um caráter autoritário, inflexível, excepcionalmente enérgico, porém profundamente religioso”, como explica o historiador John Kelly. Usou sua autoridade – Gregório IX deu continuidade à posição teocrática de Inocêncio III - contra a pretensão hegemônica, mas perigosa para a libertas Ecclesiae, do imperador Frederico II (1220 – 1250). Usou sua religiosidade mantendo frequentes contatos amigáveis com os movimentos espirituais de sua época (foi muito amigo de são Domingos e principalmente de são Francisco): conheceu pessoalmente alguns dos santos por ele canonizados. A Gregório IX se devem os processos de canonização de Francisco de Assis (1228), de Antonio de Pádua (1232), de Domingos de Gusmão (1234) e de Isabel da Hungria (1235).

Em 1140, o monge camaldulense Graziano, magister em Bolonha, organizou as normas do Direito Canônico da Igreja: sua obra constitui o núcleo fundamental do Corpus Juris Canonici, que permaneceu, até 1918 como texto fundamental do Direito Canônico. Na Idade Média, Gregório acrescentou uma compilação, o Liber extra decretum (1234), a primeira compilação completa e cheia de autoridade dos decretos papais, recolhida pelo canonista espanhol Raimundo de Penaforte e que se tornou a principal fonte do Direito Canônico até Pio X e Bento XV.

É preciso abrir um importante parêntese relacionado à triste história da Inquisição. Ela foi, na verdade, organizada sob o pontificado de Inocêncio III: a repressão dos heréticos e a inquisição (do latim inquisitio, inquérito), isto é, a instituição eclesiástica encarregada de procurar (inquirere) e punir os heréticos surgiu sob Inocêncio III, embora a primeira e efetiva lei inquisitorial tenha sido sob o pontificado de Gregório. Em 1224 foi promulgada, por Gregório IX e o imperador Frederico II, uma lei inquisitorial para a Lombardia.

Porém, boa parte do pontificado de Gregório IX foi ocupada pelo embate com o imperador Frederico II: na grande luta entre regnum e sacerdotium, entre o imperador Frederico II e o papa Gregório IX e com os sucessivos pontífices, o problema fundamental era o de escolher a qual das duas potências pertencia à supremacia. Em 29 de setembro de 1227, Gregório excomungou Frederico porque o jovem imperador tinha retomado a tradicional política sueva na Sicília, com a intenção de ocupar a Itália meridional: o fato constituía grave perigo para a libertas Ecclesiae. Entre 1227 e 1230, as relações entre Estado e Igreja foram marcadas por tensão contínua, até se alcançar, por fim, uma reconciliação, com o tratado de São Germano, em 1230. Frederico se empenhava em não violar o patrimônio de São Pedro e Gregório retirou a sentença de excomunhão.

Em 1238, o conflito entre o Papa e o imperador recomeçou: ficou evidente para o Papa que o interesse do imperador era submeter à Itália toda, não excluindo Roma, acentuando o perigo de um bloqueio do Estado pontifício. Gregório renovou a excomunhão (1239). O embate foi violento: o imperador foi identificado como o Anticristo, pelo lado da cúria romana, enquanto que, para Frederico II, o Papa era o traidor de Cristo, a ruína da Igreja. Enquanto o imperador invadia o Estado pontifício, cercando Roma, o Papa convocava um Concílio universal que, entretanto, não chegou a acontecer porque o velho pontífice, quase centenário, morreu em 22 de agosto de 1241.

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