Vai para os conteúdos

OS PAPAS NA HISTÓRIA

JÚLIO II. A proteção aos artistas

por Eugenio Russomanno
05/08/2014 - Com Giuliano de Rovere continua a série sobre alguns entre os maiores pontífices da História. Um homem enérgico que, pensando grande, agiu de forma a que a Igreja resplandecesse diante do mundo
Júlio II retratado por Rafael.
Júlio II retratado por Rafael.

Giuliano de Rovere nasce em 5 de dezembro de 1443 em Albissola, na Itália, perto de Savona, numa família pobre. Graças ao interesse do tio Francesco (futuro Papa Sisto IV), foi educado pelos franciscanos de Perugia e se tornou mais tarde, também frade franciscano. Foi eleito Papa com o nome de Júlio II no dia 1º de novembro de 1503, escolhido por unanimidade, num conclave que durou um dia.

Como observa o historiador John Kelly, Júlio II, homem enérgico, decidido e fiel, não cedeu à tentação de enriquecer a própria família e lutou – muitas vezes ele mesmo no comando das tropas armadas – para criar um papado forte e independente, numa Itália livre da dominação estrangeira. Seu pontificado foi dominado por iniciativas políticas e guerreiras. Erasmo ironiza seu ardor militar no “Elogio da Loucura” (1509) e o historiador florentino Guicciardini observou que nele não havia nada de sacerdote, exceto o hábito e o nome.

Em 3 de maio de 1512, abre o V Concílio Lateranense (XVIII Concílio universal, 1512-1517) e durante as cinco sessões ocorridas antes de sua morte, ocupou-se principalmente em condenar o Concílio cismático da Pisa (1511-1512) e a Pragmática Sanção de Bourges.

Seu maior mérito foi o de haver protegido e encorajado grandes artistas, especialmente Michelangelo, Rafael (Sânzio) e Bramante. Este último idealizou para ele a construção da nova basílica de São Pedro (1506); Michelangelo pintou o teto da capela Sistina e Rafael pintou os afrescos nas salas do Vaticano. Sua época marcou claramente o ápice da arte renascentista.

Morre no Vaticano no dia 21 de fevereiro de 1513 e é pranteado como aquele que libertou a Itália da dominação estrangeira, sendo considerado um dos promotores da unificação italiana.

Relembro alguns trechos da bela homilia pronunciada pelo cardeal Angelo Sodano durante a concelebração eucarística por ocasião das celebrações pelo quinto centenário da eleição do Papa Júlio II, em 30 de novembro de 2003, na catedral da Madonna Assumpta, em Savona: “Para mim, vivendo no Vaticano, a figura de Júlio II tornou-se familiar. Em muitos lugares posso deparar-me com o brasão da família Rovere e nunca me canso de admirar a magnanimidade e a genialidade desse filho de vossa terra. Alguém escreveu que ele nutria grande admiração pelo imperador Júlio César. Seja qual for o fundamento de tal interpretação, é certo que ele amava pensar grande e queria que a Igreja de Roma resplandecesse diante do mundo também por sua beleza exterior.”

“Como se faz, na verdade, para não pensar nele, contemplando a grandiosidade da atual basílica de São Pedro por ele desejada? Como esquecer a instituição, em 1506, da Guarda Suíça com seu lema característico que ainda hoje admiramos? (...) Júlio foi uma das figuras mais típicas do renascimento italiano e seus dez anos de pontificado foram repletos de grandes iniciativas, como a defesa do território. O grito ‘Fora, bárbaros! ’ que lhe é atribuído, embora nunca tenha sido pronunciado, certamente corresponde ao seu empenho de defesa da península contra a intromissão estrangeira. Júlio se sentia também como um soberano temporal chamado a defender seu povo. Não à toa, quis que em seu túmulo fosse esculpido o célebre Moisés, imagem do grande condutor do povo eleito. Com certeza, os métodos de governo da época são hoje de difícil compreensão. Não por acaso, depois dele, surgiram pontífices que começaram a reforçar de maneira mais aguda a missão espiritual do Papa. (...) Mesmo com estes limites, Júlio se revelou uma personalidade excepcional no panorama geopolítico de seu tempo. Não seja esquecida a sua visão mundial dos problemas da Igreja. Na América Latina, é lembrado com gratidão como o Papa que se preocupou com a evangelização daquelas terras, descobertas poucos anos antes por Cristóvão Colombo. Recorde-se a criação da primeira diocese da América Latina, em Santo Domingo, com uma Bula assinada por Júlio II, em 1511, a primeira diocese do Novo Mundo.”

“Para a reforma interna da Igreja, Júlio II convocou, em 1512, um Concílio ecumênico, o V Concílio Lateranense. Portanto, foi, dentro da visão de sua época, um Papa que procurou servir a Igreja e sacrificar-se por ela até que, com a idade de 72 anos, o Senhor o chamou a Si. Diz-se que, no leito de morte, tenha pronunciado estas palavras: ‘Quando estiver diante de nosso Senhor, colocarei no prato da balança os afrescos da capela Sistina para compensar os meus pecados’. Penso, porém, que, no prato da balança, ele tenha colocado muitas outras iniciativas apostólicas e, sobretudo, seu grande amor pela Santa Igreja de Cristo”.

Outras notícias

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

Volta ao início da página