Uma queixa do cardeal Roberto Bellarmino nos introduz ao estado da Igreja daquele tempo: “Parece-me que, devendo-se criar um vigário de Deus, não se procure eleger pessoa que saiba a vontade de Deus, isto é que seja competente nas Escrituras Sagradas, mas somente que saiba a vontade de Justiniano e de semelhantes autores. Vai-se procurando um príncipe temporal, não um santo bispo, que se ocupe de verdade com a salvação das almas”.
Em tal contexto teve de atuar prudentemente Maffeo Barberini, eleito papa em 1623 com o nome de Urbano VIII. Nasceu em Florença no ano de 1568 de uma rica família de comerciantes e bem cedo entrou na carreira eclesiástica, com ótimos resultados. O Grande Dicionário Ilustrado dos Papas descreve-o assim: “Tendo caráter autoritário, profundamente consciente da responsabilidade de seu alto cargo (era um defensor convicto da suprema autoridade da Igreja), Urbano ocupou-se pessoalmente dos negócios da Igreja e raramente os discutiu com os cardeais. (...) Como conhecedor experiente da literatura e proprietário de uma esplêndida biblioteca, compôs e publicou versos latinos bem idealizados (foi apelidado por isto abelha ática, aludindo à abelha presente no brasão de armas de família). (…) Foi um imprudente nepotista: deu a púrpura cardinalícia a um irmão e a dois sobrinhos, favorecendo também outros irmãos e enriquecendo todos os familiares de modo tão exagerado que, quando velho vítima de remorsos, consultou uns teólogos sobre o uso que tinha feito das rendas papais”.
Do ponto de vista político, em sua ação, que coincidiu com a Guerra dos Trinta anos (1618-1648), o papa se esforçou para manter uma posição neutra entre os adversários, consciente de que o seu papel de pai comum da Cristandade o empenhava a intervir para o reestabelecimento da paz. De fato e nos fatos, porém, expressou toda a sua simpatia pela França, enquanto, no que concerne a Itália, conseguiu anexar ao Estado pontifício o Ducado de Urbino (1631).
Do ponto de vista religioso, modelou sua ação segundo os decretos tridentinos e realizou muitas e importantes iniciativas: impôs aos cardeais (aos quais deu título de “eminência”) e aos bispos a obrigação de residência, reformou o clero regular e secular e os seminários, fortaleceu a Inquisição, participou pessoalmente na revisão do breviário (1631), em 1625 estabeleceu e depois confirmou em 1634 os processos canônicos para as beatificações e as canonizações (no Ano Jubilar de 1625 houve a canonização de André Avellino e as beatificações de Giacomo da Marca, Francisco Borja, Isabel de Portugal, Feliz de Cantalice), editou a versão final da bula In coena Domini que era lida na Quinta-feira Santa, deu grande suporte às missões, especialmente enviando missionários ao Extremo Oriente, aprovou novas ordens religiosas; durante o seu pontificado João Bollando iniciou a monumental obra dos Acta Sanctorum, conhecida como Bolandistas.
Por Urbano VIII e pelo Sanctum Officium, Galileu Galilei (1564-1642) foi condenado pela segunda vez e obrigado, aos 22 de junho de 1633, a abjurar suas convicções científicas. Na bula In eminenti (1642) foi censurado o Augustinus de Cornélio Jansênio (1585-1638) e condenado assim o jansenismo.
No que diz respeito a Roma, cidade do papa, Urbano foi homem amante da magnificência (estamos em época barroca) e ótimo mecenas, por isto sob o seu pontificado a cidade foi embelezada por importantes obras: por exemplo, ele aos 18 de novembro de 1626 consagrou a nova Basílica de São Pedro, preocupou-se com a segurança da cidade e do estado pontifício, construiu Castelfranco ao norte de Roma, fortificou o porto de Civitavecchia, reforçou o Castelo de Sant’Ângelo, escolheu como residência de verão do papa Castel Gandolfo. Morreu em Roma aos 29 de julho de 1644.
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