Vai para os conteúdos

OS PAPAS NA HISTÓRIA

PIO IX. O nascimento do papado moderno

por Eugenio Russomanno
05/07/2016 - A Unidade da Itália e o fim do poder temporal. O Concílio Vaticano I e o dogma da infalibilidade papal. Giovanni Ferretti guiou a Igreja em um período de grandes mudanças
Papa Pio IX.
Papa Pio IX.

Giovanni Maria Mastai Ferretti nasceu em Senigállia aos 13 de maio de 1792. Depois de uma brilhante carreira eclesiástica, interrompida por períodos de doença devido a repentinos ataques epilépticos, em 1840 foi nomeado cardeal e em 1846 o conclave o elegeu Papa, julgando-o um progressista moderado e preterindo assim o reacionário Luigi Lambruschini, considerado mais conservador. O seu pontificado (1846-1878) foi um dos mais longos da história da Igreja: foram décadas particularmente densas de acontecimentos que viram o nascimento do Estado italiano e o fim do poder temporal do Papa. Aos 3 de setembro de 2000 foi beatificado por João Paulo II.

Pio IX foi acolhido inicialmente com favor, por ser considerado um espírito liberal e favorável ao sentimento nacionalista que ia se espalhando na Europa. Quando, aos 14 de março de 1848, ele deu ao Estado Pontifício uma Constituição e concedeu um parlamento com duas câmeras eletivas, o seu gesto foi acompanhado por entusiasmo e por manifestações de júbilo.

Mas, quando o primeiro ministro pontifício, o conde Pelegrino Rossi (1787-1848), foi assassinado em novembro de 1848 por radicais revolucionários, e o Papa foi forçado a fugir para Gaeta devido à revolução estourada em Roma (aos 9 de fevereiro 1849 foi proclamada a assim chamada República Romana), Pio IX mudou completamente endereço: com a ajuda de tropas francesas reconquistou Roma e o Estado Pontifício e reestabeleceu o antigo regime.

Mas o movimento nacional de unificação, que passou a ser liderado pelo Rei Vitório Emanuele II (1820-1878), já era irrefreável. O Primeiro Ministro do Piemonte Camillo Cavour (1810-1861) guiou o movimento. Em 1859 o Estado Pontifício perdeu a Romanha e, depois da derrota sofrida perto de Castelfidardo (18 de setembro de 1860), as tropas pontifícias foram obrigadas a abandonar também a Úmbria e as Marcas. Em março de 1861 Vitório Emanuele obteve ser proclamado, em Turim, rei da Itália. Roma e o Lácio ficavam com o Papa.

Mas aos 20 de setembro de 1870 a própria Roma foi ocupada por forças italianas e em outubro começou a integrar o recém-criado Estado italiano. “Desse modo chegou ao fim, após uma existência milenar, o Estado Pontifício”, observa August Franzen.

Pio IX retirou-se para o Vaticano. Vitório Emanuele fixou sua residência em Roma, estabelecendo-se no Quirinal. Os protestos e as excomunhões do Papa contra os invasores foram ignorados. O novo governo concedeu ao Pontífice, com a assim chamada Lei das Garantias (13 de maio de 1871), uma renda anual, como indenização, e assegurou a Pio IX a liberdade e o pleno exercício de todas as suas funções espirituais, reconhecendo-lhe ao mesmo tempo a inviolabilidade da sua pessoa e os direitos soberanos. O Papa rejeitou estas ofertas por não reconhecer o novo Reino da Itália e nunca cessou de protestar, considerando-se sempre “prisioneiro no Vaticano”. Aliás, por meio de uma série de decretos afirmou-se o princípio do non expedit (“não convém”), que proibia aos católicos italianos a participação nas eleições políticas. Estas decisões geraram acesos debates no meio do mundo católico entre aqueles que os interpretavam de forma restritiva e aqueles que julgavam necessário fazer aquilo que não era expressamente proibido: participar à vida do País através do empenho social e da política nas administrações municipais.

Pio IX canonizou um grande número de bem-aventurados e de santos. A 8 de dezembro de 1870 proclamou São José Patrono da Igreja universal e aos 16 de junho de 1875 consagrou o mundo católico ao Sagrado Coração de Jesus. Mas, segundo John Kelly, três eventos se destacam por uma particular importância: “O primeiro foi a definição (8 de dezembro de 1854) do dogma da Imaculada Conceição da Bem-aventurada Virgem Maria, sua imunidade do pecado original. O segundo foi a publicação (8 de dezembro de 1864), após repetidas condenações das doutrinas erradas e apelos para um retorno ao ensinamento de São Tomás de Aquino, da encíclica Quanta cura, à qual estava anexo o Síllabo que denunciava ‘os principais erros dos nossos tempos’. O terceiro foi a convocação do Concílio Vaticano I (XX Concílio ecumênico, 1869-1870)”.

Aos 8 de dezembro de 1854 Pio IX eleva a dogma a antiga fé de acordo com a qual Maria havia sido concebida sem o pecado original: “É uma doutrina revelada por Deus, que Maria desde o primeiro instante de sua conceição, por uma graça e um favor singulares de Deus em consideração dos méritos de Jesus Cristo, foi preservada de toda mancha de pecado original. Não era o fato em si que aparecia novo, mas o modo da proclamação”, observa Franzen. Neste caso, com efeito, não se tratou de uma decisão expressa pelo Concílio, e sim de uma definição pronunciada ex cathedra, pelo próprio Papa; o que colocou de novo em discussão o problema se e até que ponto o Pontífice sozinho, sem que se exprima o Concílio, pudesse decidir e proclamar verdades infalíveis de fé.

Dez anos mais tarde, a 8 de dezembro de 1864, Pio IX com a sua encíclica Quanta cura enviou a todos os bispos um Síllabo: um compêndio de oitenta entre os principais erros do seu tempo, que deviam ser condenados do ponto de vista católico. Estes erros diziam respeito às doutrinas do panteísmo, do naturalismo e do racionalismo, mas também às do socialismo e do comunismo e opiniões errôneas sobre relacionamentos entre Igreja e Estado, sobre a natureza do matrimônio cristão, sobre a necessidade ou não-necessidade do Estado da Igreja.

Por fim, dois dias antes da publicação do Síllabo, aos 6 de dezembro de 1864, pela primeira vez Pio IX deixava entender ter concebido a ideia de querer convocar um Concílio ecumênico. Depois de uma fase preparatória, inicialmente mantida em secreto, o Papa por ocasião do décimo oitavo centenário do martírio dos santos Pedro e Paulo (1867), na presença de mais de quinhentos bispos anunciou o seu propósito de convocar o Concílio. O qual ia ser aberto no dia 8 de dezembro de 1869, em Roma. Na constituição Pastor aeternus (18 de julho de 1870) declarava-se que as definições do Papa sobre questões de fé e de moral, formuladas ex cathedra, são infalíveis por si e não pelo consenso da Igreja, levando a termo deste modo um desenvolvimento doutrinal que durou séculos, eliminando toda interpretação conciliarista da missão do papado.

Pio IX morreu aos 7 de fevereiro de 1878. Sua festa é celebrada no dia 7 de fevereiro. A obra deste grande Papa é bem resumida no juízo de August Franzen e de John Kelly. O primeiro observa que “o pontificado de Pio IX foi tão rico de eventos histórico quanto caracterizado por profundas perturbações. Na mesma medida em que diminuiu a potência política do papado exteriormente, cresceu a sua estatura moral no interior da Igreja. A definição da infalibilidade e a declaração do primado papal coincidiram cronologicamente com a conquista de Roma e o ocaso do Estado Pontifício”. Além disso, John Kelly observou que “ele havia efetivamente criado o papado moderno, despojado – coisa que ele nunca cessou de deplorar – do seu poder temporal, mas em compensação mais forte em virtude de uma maior autoridade espiritual. O seu pontificado foi testemunha de vigorosa regeneração espiritual, seja no clero seja na massa dos fiéis; isto se pode atribuir diretamente aos seus contínuos esforços de tornar mais profunda a vida religiosa, mas também ao seu propósito de ser sobretudo um sacerdote e um pastor de almas, oferecendo um luminoso exemplo ao seu rebanho”.

Outras notícias

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

Volta ao início da página