Giovanni Maria Mastai Ferretti nasceu em Senigállia aos 13 de maio de 1792. Depois de uma brilhante carreira eclesiástica, interrompida por períodos de doença devido a repentinos ataques epilépticos, em 1840 foi nomeado cardeal e em 1846 o conclave o elegeu Papa, julgando-o um progressista moderado e preterindo assim o reacionário Luigi Lambruschini, considerado mais conservador. O seu pontificado (1846-1878) foi um dos mais longos da história da Igreja: foram décadas particularmente densas de acontecimentos que viram o nascimento do Estado italiano e o fim do poder temporal do Papa. Aos 3 de setembro de 2000 foi beatificado por João Paulo II.
Pio IX foi acolhido inicialmente com favor, por ser considerado um espírito liberal e favorável ao sentimento nacionalista que ia se espalhando na Europa. Quando, aos 14 de março de 1848, ele deu ao Estado Pontifício uma Constituição e concedeu um parlamento com duas câmeras eletivas, o seu gesto foi acompanhado por entusiasmo e por manifestações de júbilo.
Mas, quando o primeiro ministro pontifício, o conde Pelegrino Rossi (1787-1848), foi assassinado em novembro de 1848 por radicais revolucionários, e o Papa foi forçado a fugir para Gaeta devido à revolução estourada em Roma (aos 9 de fevereiro 1849 foi proclamada a assim chamada República Romana), Pio IX mudou completamente endereço: com a ajuda de tropas francesas reconquistou Roma e o Estado Pontifício e reestabeleceu o antigo regime.
Mas o movimento nacional de unificação, que passou a ser liderado pelo Rei Vitório Emanuele II (1820-1878), já era irrefreável. O Primeiro Ministro do Piemonte Camillo Cavour (1810-1861) guiou o movimento. Em 1859 o Estado Pontifício perdeu a Romanha e, depois da derrota sofrida perto de Castelfidardo (18 de setembro de 1860), as tropas pontifícias foram obrigadas a abandonar também a Úmbria e as Marcas. Em março de 1861 Vitório Emanuele obteve ser proclamado, em Turim, rei da Itália. Roma e o Lácio ficavam com o Papa.
Mas aos 20 de setembro de 1870 a própria Roma foi ocupada por forças italianas e em outubro começou a integrar o recém-criado Estado italiano. “Desse modo chegou ao fim, após uma existência milenar, o Estado Pontifício”, observa August Franzen.
Pio IX retirou-se para o Vaticano. Vitório Emanuele fixou sua residência em Roma, estabelecendo-se no Quirinal. Os protestos e as excomunhões do Papa contra os invasores foram ignorados. O novo governo concedeu ao Pontífice, com a assim chamada Lei das Garantias (13 de maio de 1871), uma renda anual, como indenização, e assegurou a Pio IX a liberdade e o pleno exercício de todas as suas funções espirituais, reconhecendo-lhe ao mesmo tempo a inviolabilidade da sua pessoa e os direitos soberanos. O Papa rejeitou estas ofertas por não reconhecer o novo Reino da Itália e nunca cessou de protestar, considerando-se sempre “prisioneiro no Vaticano”. Aliás, por meio de uma série de decretos afirmou-se o princípio do non expedit (“não convém”), que proibia aos católicos italianos a participação nas eleições políticas. Estas decisões geraram acesos debates no meio do mundo católico entre aqueles que os interpretavam de forma restritiva e aqueles que julgavam necessário fazer aquilo que não era expressamente proibido: participar à vida do País através do empenho social e da política nas administrações municipais.
Pio IX canonizou um grande número de bem-aventurados e de santos. A 8 de dezembro de 1870 proclamou São José Patrono da Igreja universal e aos 16 de junho de 1875 consagrou o mundo católico ao Sagrado Coração de Jesus. Mas, segundo John Kelly, três eventos se destacam por uma particular importância: “O primeiro foi a definição (8 de dezembro de 1854) do dogma da Imaculada Conceição da Bem-aventurada Virgem Maria, sua imunidade do pecado original. O segundo foi a publicação (8 de dezembro de 1864), após repetidas condenações das doutrinas erradas e apelos para um retorno ao ensinamento de São Tomás de Aquino, da encíclica Quanta cura, à qual estava anexo o Síllabo que denunciava ‘os principais erros dos nossos tempos’. O terceiro foi a convocação do Concílio Vaticano I (XX Concílio ecumênico, 1869-1870)”.
Aos 8 de dezembro de 1854 Pio IX eleva a dogma a antiga fé de acordo com a qual Maria havia sido concebida sem o pecado original: “É uma doutrina revelada por Deus, que Maria desde o primeiro instante de sua conceição, por uma graça e um favor singulares de Deus em consideração dos méritos de Jesus Cristo, foi preservada de toda mancha de pecado original. Não era o fato em si que aparecia novo, mas o modo da proclamação”, observa Franzen. Neste caso, com efeito, não se tratou de uma decisão expressa pelo Concílio, e sim de uma definição pronunciada ex cathedra, pelo próprio Papa; o que colocou de novo em discussão o problema se e até que ponto o Pontífice sozinho, sem que se exprima o Concílio, pudesse decidir e proclamar verdades infalíveis de fé.
Dez anos mais tarde, a 8 de dezembro de 1864, Pio IX com a sua encíclica Quanta cura enviou a todos os bispos um Síllabo: um compêndio de oitenta entre os principais erros do seu tempo, que deviam ser condenados do ponto de vista católico. Estes erros diziam respeito às doutrinas do panteísmo, do naturalismo e do racionalismo, mas também às do socialismo e do comunismo e opiniões errôneas sobre relacionamentos entre Igreja e Estado, sobre a natureza do matrimônio cristão, sobre a necessidade ou não-necessidade do Estado da Igreja.
Por fim, dois dias antes da publicação do Síllabo, aos 6 de dezembro de 1864, pela primeira vez Pio IX deixava entender ter concebido a ideia de querer convocar um Concílio ecumênico. Depois de uma fase preparatória, inicialmente mantida em secreto, o Papa por ocasião do décimo oitavo centenário do martírio dos santos Pedro e Paulo (1867), na presença de mais de quinhentos bispos anunciou o seu propósito de convocar o Concílio. O qual ia ser aberto no dia 8 de dezembro de 1869, em Roma. Na constituição Pastor aeternus (18 de julho de 1870) declarava-se que as definições do Papa sobre questões de fé e de moral, formuladas ex cathedra, são infalíveis por si e não pelo consenso da Igreja, levando a termo deste modo um desenvolvimento doutrinal que durou séculos, eliminando toda interpretação conciliarista da missão do papado.
Pio IX morreu aos 7 de fevereiro de 1878. Sua festa é celebrada no dia 7 de fevereiro. A obra deste grande Papa é bem resumida no juízo de August Franzen e de John Kelly. O primeiro observa que “o pontificado de Pio IX foi tão rico de eventos histórico quanto caracterizado por profundas perturbações. Na mesma medida em que diminuiu a potência política do papado exteriormente, cresceu a sua estatura moral no interior da Igreja. A definição da infalibilidade e a declaração do primado papal coincidiram cronologicamente com a conquista de Roma e o ocaso do Estado Pontifício”. Além disso, John Kelly observou que “ele havia efetivamente criado o papado moderno, despojado – coisa que ele nunca cessou de deplorar – do seu poder temporal, mas em compensação mais forte em virtude de uma maior autoridade espiritual. O seu pontificado foi testemunha de vigorosa regeneração espiritual, seja no clero seja na massa dos fiéis; isto se pode atribuir diretamente aos seus contínuos esforços de tornar mais profunda a vida religiosa, mas também ao seu propósito de ser sobretudo um sacerdote e um pastor de almas, oferecendo um luminoso exemplo ao seu rebanho”.
Credits /
© Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón