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DE SANTA MARTA

Como se preserva o coração

por Papa Francisco
21/06/2015 - O resumo das homilias do Santo Padre durante as missas matutinas celebradas na capela Domus Sanctae Marthae

Homilia de 15 de junho, publicada no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 25 de 18 de junho de 2015

Compreender os tempos de Deus, ter o coração livre das paixões negativas, para acolher o dom da graça e não ser, ao contrário, arrastado pelo “barulho” da mundanidade. Foi um convite a preservar o próprio coração para se dar conta da passagem de Deus, que o Papa Francisco dirigiu.

“Na semana passada — recordou no início da homilia — refletimos sobre o conselho de Paulo e a nossa atitude cristã. E também sobre o que Jesus aconselha aos seus discípulos: dar de graça o que gratuitamente receberam”. Trata-se, explicou, da “gratuidade do dom de Deus, da salvação, da revelação de Jesus como Salvador”. E “este é um dom que Deus deu e continua a dar, todos os dias”.

Hoje, realçou o Papa, Paulo volta a este tema e na segunda carta aos Coríntios (6, 1-10) escreve: “Exortamos-vos a que não recebais a graça de Deus em vão. Eis ‘a gratuidade de Deus’”. Em seguida, insistiu Francisco, não se deve “acolhê-la em vão” mas “acolhê-la bem, com o coração aberto”. Acrescenta Paulo: “Com efeito, Deus diz: no momento favorável te satisfiz e no dia da salvação te socorri. Eis agora o momento favorável, eis o dia da salvação!”.

“O Senhor ouviu-nos e ofereceu-nos o dom, gratuitamente”, afirmou o Pontífice reiterando as palavras do apóstolo: “Eis agora o momento favorável”. Portanto, prosseguiu, “Paulo aconselha-nos a não deixarmos passar o momento favorável, ou seja, o momento em que o Senhor nos dá esta graça, nos dá a gratuidade, a não esquecer isto: que no-la ofereceu e oferece agora”.

Com efeito, explicou Francisco, “em todos os tempos o Senhor nos dá de novo a graça, nos oferece este gesto, este dom: o dom que é gratuito. Assim Paulo exorta a ‘não acolher em vão’ a graça de Deus, ‘porque se a acolhermos em vão, seremos motivo de escândalo’”. De fato, escreve o apóstolo: “A ninguém demos qualquer motivo de escândalo”. É justamente “o escândalo do cristão que se considera cristão, que vai à igreja, vai aos domingos à missa, mas não vive como cristão: vive como mundano ou como pagão”. E “quando uma pessoa é assim, escandaliza”. Aliás, disse o Papa, “quantas vezes ouvimos nos nossos bairros, nas lojas: ‘Olha aquele ou aquela, todos os domingos vai à missa e depois faz isto, isso, aquilo... ’”. E assim “as pessoas escandalizam-se”. Exatamente a isto se refere Paulo quando exorta a “não acolher em vão” a graça de Deus.

Mas então, “como devemos acolher” a graça? Em primeiro lugar, explicou Francisco citando ainda Paulo, com a consciência de que “é o momento favorável”. Na prática “devemos estar atentos para compreender o tempo de Deus, quando Deus passa pelo nosso coração”.

A este propósito, santo Agostinho dizia uma bonita palavra: “Eu tenho medo quando passa o Senhor” — “Mas por que tens medo se o Senhor é bom?” — “Não. Tenho medo de não o acolher, de não compreender que o Senhor está passando nesta provação, nesta palavra que escutei, que me comoveu o coração, neste exemplo de santidade, muitas coisas, nesta tragédia”. Portanto, reafirmou o Papa, “o Senhor passa e oferece-nos o dom”. Mas é importante “preservar o coração para estarmos atentos a este dom de Deus”.

E “como se preserva o coração?” questionou-se ainda Francisco. “Preserva-se — explicou — afastando qualquer barulho que não provém do Senhor, afastando muitas coisas que nos tiram a paz”. E “quando se afastam estas coisas, estas nossas paixões, o coração está preparado para compreender o Senhor que passa e para receber a Ele e à graça”.

Logo, é importante “preservar o coração, preservar o coração das nossas paixões”. E “as nossas paixões são numerosas”. Mas “Jesus também no Evangelho nos fala das nossas paixões”. Francisco, em particular, repetiu as palavras de Mateus no trecho evangélico proposto pela liturgia (5, 38-42): “Tendes ouvido o que foi dito: olho por olho, dente por dente. Eu, porém, vos digo: não resistais ao mau. Se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra. Se alguém te citar em justiça para te tirar a túnica, cede-lhe também a capa. Se alguém vem obrigar-te a andar mil passos com ele, anda dois mil”.

Trata-se, reiterou o Papa, de “estar livre das paixões e de ter um coração humilde, um coração manso”. E “o coração é preservado pela humildade, mansidão, nunca pelas lutas, pelas guerras”. Ao contrário, prosseguiu, “este é o barulho: barulho mundano, barulho pagão ou barulho do diabo”. Mas o coração deve estar “em paz”.

Por esta razão, continuou o Papa Francisco retomando as palavras de Paulo aos Coríntios, é importante “não dar motivo de escândalo a ninguém para que não seja criticado o nosso ministério”. E acrescentou: “Paulo fala do ministério, mas também do testemunho cristão, para que não seja criticado; e isso na paz e humildade, ‘nas tribulações, nas necessidades, nas angústias, nas agressões, nas prisões, nos tumultos, nas fadigas, nas vigílias, no jejum’”.

“São coisas negativas”, comentou Francisco. E justamente a partir de tudo isto “eu devo preservar o meu coração para acolher a gratuidade e o dom de Deus”. Mas “como o faço?”, perguntou-se. A resposta encontra-se mais uma vez nas palavras de Paulo: “Com pureza, sabedoria, magnanimidade, benevolência e espírito de santidade”. Em síntese, espaço à “humildade, à benevolência, à paciência que só olha para Deus e tem o coração aberto ao Senhor que passa”.

Antes de continuar a celebração da missa, o Pontífice pediu ao Senhor para não acolher em vão a graça de Deus, para não acolher em vão a gratuidade de Deus e, por isso, aprender a preservar o coração. E convidou sobretudo a “pedir a Nossa Senhora a graça da mansidão, da humildade, da bondade que tanto preservam o nosso coração, para não deixar passar o Senhor, para não acolher em vão o dom, a graça que o Senhor nos dá”.

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