Questionar-se sobre o que pode ou não fazer a Igreja, ou sobre o que é ou não lícito, é cair na casuística que juntamente com a idolatria, é o sinal do reconhecimento de uma pessoa que conhece de cor doutrina e teologia mas sem fé. Porque a fé nunca é abstrata: deve ser testemunhada.
Precisamente contra o risco de uma fé sem obras o Papa Francisco admoestou esta manhã, sexta-feira, 21 de fevereiro, durante a reflexão na capela da Casa de Santa Marta. Partindo da carta de São Tiago (2, 14-24.26) segundo a qual assim como o corpo sem o espírito está morto, também a fé sem as obras está morta. “O apóstolo Tiago – explicou o Papa – faz esta catequese” que “é uma parêntese sobre a fé: quer explicar bem como é a fé”. E para fazê-lo “joga com esta contraposição entre a fé e as obras”. A afirmação de Tiago “é clara: uma fé que não dá fruto nas obras não é fé”.
“Também nós – disse o Papa – erramos tantas vezes sobre isto”. E “ouvimos dizer: tenho muita fé!”, ou “eu acredito em tudo!” mas precisamente “a pessoa que diz isto talvez tenha uma vida tíbia, débil”. A ponto que “a sua fé é como uma teoria, mas não está viva na sua vida”.
Em seguida o Papa indicou “os sinais” para reconhecer “uma pessoa que sabe aquilo em que se deve crer, mas não tem fé”. Um primeiro sinal que revela o conhecimento da teologia sem fé “é a casuística”. E recordou todos os que se aproximavam de Jesus para lhe apresentar casuísticas do tipo: “é lícito pagar as taxas a César?” ou o caso “daquela mulher quer ficou viúva, pobre, que segundo a lei do levirato, teve que se casar com os sete irmãos do seu marido para ter um filho”. “Esta é a casuística”. E “a casuística – disse – é precisamente o lugar para onde vão todos os que creem que têm fé” mas conhecem apenas o conteúdo. Assim “quando encontramos um cristão” que só pergunta se “é lícito fazer isto ou se a Igreja poderia fazer aquilo”, significa que “ou não tem fé ou é demasiado tíbio”.
O segundo sinal indicado é a ideologia. Não podemos ser “cristãos que concebem a fé como um sistema de ideias, ser ideológicos”. É um risco que existia também “na época de Jesus” e era representado pelos gnósticos”. Assim, explicou ainda o Papa, aqueles “que caem na casuística ou na ideologia são cristãos que conhecem a doutrina mas não têm fé. Como os demônios. Com a diferença que os primeiros tremem e os segundos não: vivem tranquilos”.
Em seguida o Papa Francisco propôs três figuras concretas, tiradas do Evangelho, que ao contrário “não conhecem a doutrina, mas têm tanta fé”. E falou da mulher cananeia, uma pagã, que tinha acreditado em Jesus “porque o Espírito Santo lhe tinha tocado o coração”. E depois “testemunhou a sua fé: é esta a palavra-chave”. Depois, a samaritana que “primeiro não acreditava em nada” ou de modo errado, mas teve “fé depois do encontro com Jesus”.
A terceira figura evangélica reproposta pelo Papa é a do “cego de nascença que foi ter com Jesus para lhe pedir a graça de ver”. Aquele homem “não sabia a teologia, talvez conhecesse os mandamentos”. Mas reconheceu em Jesus o Filho de Deus “e adorou o Senhor de joelhos”.
Por fim o Papa convidou a olhar para estas três figuras e a pedir “a graça de ter uma fé que dê frutos e que leve ao anúncio e ao testemunho”.
Fonte: L’Osservatore Romano
Credits /
© Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón